13 Julho 2020
"A realidade cotidiana do padre jesuíta era representada pela dramática luta pela sobrevivência em uma terra fascinante, mas cruel. O sacerdote romano fundou novas missões e tentou de todas as maneiras obter ajuda de Quebec para seus Hurões, continuamente atacados pelas tribos das nações vizinhas", escreve Generoso D'Agnese, em artigo publicado por L'Osservatore Romano, 04-07-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Os italianos muitas vezes deixaram vestígios de sua passagem pelas dobras da grande história do mundo. Uma certamente foi deixada por Francesco Giuseppe Bressani, nascido em Roma em 6 de maio de 1612. Ele ingressou na Companhia de Jesus em 15 de agosto de 1626, aos quatorze anos de idade; depois de estudar em Roma (1626-1630), Bressani ensinou por três anos de literatura, filosofia e matemática em Sezze e Tivoli (1630-1633), antes de retornar a Roma para os três primeiros anos de teologia (1633-1636). No entanto, quase todos os jesuítas possuíam o fogo sagrado da missão, e também Bressani não escapou a esse chamado. Manifestando sua vontade de se tornar missionário, em 1636 conseguiu ser enviado para Paris, no colégio de Clermont, para se preparar para a atividade missionária nas colônias francesas do Canadá.
A oportunidade finalmente surgiu em 1642. Após uma curta estadia em Dieppe, em 1642, ele finalmente chegou à Nova França. O navio desembarcou no porto de Quebec em julho, deixando em solo canadense um homem cheio de fervor missionário que, nos dois anos seguintes, mergulhou na realidade dos colonos franceses de Quebec, em vista de sua primeira expedição entre os nativos. O jesuíta aprendeu a língua algonquina e em 1644 partiu para a pequena cidade de Trois-Rivières, mas no rio São Lourenço, na Georgian Bay, as canoas conduzidas pelos seis índios Hurões e por um jovem francês viraram, forçando a pequena expedição a uma atracagem de emergência.
A poucas milhas do Fort Richelieu, o padre Bressani e seus companheiros foram atacados e capturados por um bando de iroqueses, inimigos mortais dos Hurões, e foram levados de um vilarejo a outro em New Holland (o atual estado de Nova York). As transferências constantes se alternavam com as torturas: em cada etapa, Bressani era de fato içado em uma espécie de palco e ali submetido, entre outras coisas, à amputação de seus dedos. A salvação chegou de forma inesperada graças à intervenção dos holandeses, aliados comerciais desta poderosa nação de peles vermelhas: o padre Bressani foi resgatado em troca de alguns wampum (conchas equivalentes a moedas). Após a provação de quatro meses, ele conseguiu enviar um relato dramático de sua experiência e ainda é possível ler sua experiência enviada da New Holland em 3 de julho de 1644.
Uma vez livre, o missionário retornou à França para se recuperar dos inúmeros ferimentos, mas não perdeu tempo. Chegou ao porto de La Rochelle, na França, em 15 de novembro de 1644, e partiu novamente para o Canadá para retornar entre seus Hurões, encontrando-os em estado de geral euforia guerreira, fomentada pela hábil estratégia das potências inglesa e francesa em solo norte-americano. Ele percebeu o grave perigo que se apresentava para a missão, mesmo assim continuando corajosamente a obra de conversão religiosa.
O padre Bressani retomou seu trabalho missionário entre os Hurões, na região dos grandes lagos, no outono de 1645. Ao chegar a Urônia (na costa da Georgian Bay), começou as pregações e suas cicatrizes o ajudaram a ser aceito com benevolência entre os nativos. Ele viveu nessa faixa de terras belíssimas, cobertas por florestas seculares e atravessada por inúmeros córregos e rios, até a primavera de 1648. A realidade cotidiana do padre jesuíta era representada pela dramática luta pela sobrevivência em uma terra fascinante, mas cruel. O sacerdote romano fundou novas missões e tentou de todas as maneiras obter ajuda de Quebec para seus Hurões, continuamente atacados pelas tribos das nações vizinhas.
Durante os oito anos em que permaneceu nos territórios da América do Norte, Bressani também fez importantes pesquisas geográficas e de mapeamento da região. Ele foi o primeiro europeu a descrever as Cataratas do Niágara em grandes detalhes. O jesuíta aprofundou seu conhecimento astronômico e as possibilidades de observações oferecidas pelas noites frias invernais da região, usando um binóculo para a análise das fases da lua.
Em 1648, os ataques contínuos e sangrentos dos iroqueses levaram a graves massacres e à dizimação gradual da nação Huron. O missionário tentou obter ajuda das autoridades francesas, mas sem obter grandes resultados. Designado para liderar uma delegação de nativos até os territórios coloniais franceses, ele teve que enfrentar novamente um ataque dos iroqueses, mas desta vez o grupo, liderado pela desesperada coragem do jesuíta, saiu vitorioso do confronto e chegou em segurança ao seu destino. Ferido com três flechas na cabeça, na ilha de Saint Joseph, o padre Bressani mais tarde encontrou refúgio com os sobreviventes da nação Hurã, na cidade de Quebec, no verão de 1650. Em novembro do mesmo ano, ele deixou definitivamente a América do Norte para retornar à França e depois à Itália, em 1651. Bressani dedicou-se à pregação e ao apostolado, ganhando fama como pregador, em Florença, Bolonha, Modena e Roma, mostrando suas mãos mutiladas como prova de sua fé. Em Macerata, em 1653, ele publicou a história de suas experiências missionárias na Breve relatione d’alcune missioni de’ PP. della Compagnia di Giesù nella Nuova Francia.
Finalmente ele se aposentou no colégio de Florença, onde morreu no dia 9 de setembro de 1672, mas, na esteira de seu fervor missionário, outros jesuítas continuariam o aventureiro avanço em direção ao interior do continente norte-americano. No século XIX, a obra de Francesco Giuseppe Bressani foi redescoberta e traduzida para o francês (Montreal, 1852; Paris, 1853) e para o inglês (Cleveland, 1899).