16 Janeiro 2020
Um esperado julgamento envolvendo uma mulher que teve câncer por causa do uso de Roundup, que deveria começar o final de janeiro de 2020 na área de St. Louis, foi retirado do calendário, segundo um funcionário da corte. Assim publica em seu artigo a jornalista Carey Gillam, no portal U.S. Right to Know.
A reportagem é de Graciela Cristina Vizcay Gomez, publicada por ZeroBiocidas, 13-01-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O julgamento que uma mulher de 50 anos, chamada Sharlean Gordon, que sofre de câncer enfrentaria contra a fabricante do Roundup, Monsanto Co., deveria começar em 27 de janeiro no condado de St. Louis e seria transmitido ao público. Há grande expectativa por esse caso porque os advogados de Gordon planejaram colocar o ex-CEO da Monsanto, Hugh Grant, no tribunal. St. Louis era o lar da sede corporativa da Monsanto até que a companhia foi comprada pela Bayer AG da Alemanha, em junho de 2018.
Ao retirar o julgamento do calendário, o juiz do caso ordenou que se realize uma conferência dentro de um mês, relatou a porta-voz da corte do condado de St. Louis, Christine Bertelson. Nos EUA, a Corte dá conferências para explicar o adiamento, diferente da Argentina que para o mesmo tipo de causas dilatam os prazos, se deixam prescrever, ou rechaçam in limine, enquanto as vítimas morrem sem ter justiça.
O julgamento de Gordon já foi adiado uma vez, originalmente estava programado para agosto de 2019. É um dos vários casos que se adiaram nos últimos meses, já que a Bayer tenta encontrar um acordo para a grande quantidade de reclamações apresentadas contra Monsanto por pessoas afetadas pelo Linfoma não-Hodgkin que foi causado pela exposição ao glifosato. Funcionários da Bayer disseram que a Monsanto enfrenta mais de 42.700 processos nos EUA.
Gordon desenvolveu um Linfoma não-Hodgkin depois de usar o herbicida Roundup por 25 anos em sua residência em South Pekin, Illinois, e passou por um longo sofrimento devido a sua doença. O padrasto de Gordon, que também usou Roundup na casa da família, morreu de câncer. Na verdade, o caso decorre de uma ação maior movida em julho de 2017, em nome de mais de 75 demandantes. Gordon seria a primeira desse grupo a ir a julgamento.
A Bayer negou que os herbicidas da Monsanto possam causar câncer, e eles alegam que o litígio é infundado, que estão sendo conduzidos pelos advogados gananciosos dos queixosos.
Segundo fontes próximas à disputa, discussões estão em andamento para adiar mais testes de câncer causados pelo Roundup, possivelmente incluindo um que começará em 21 de janeiro no Tribunal da Cidade de St. Louis. Os advogados de ambos os lados dos julgamentos de janeiro se recusaram a comentar.
Os investidores da Bayer vêm pressionando a empresa a encontrar uma maneira de evitar futuros processos e resolver a disputa.
Nos três testes para câncer devido ao Roundup realizado até o momento, os jurados foram unânimes em afirmar que a exposição a herbicidas da Monsanto causa Linfoma não-Hodgkin e que a empresa cobriu os riscos e não alertou os consumidores. Os três jurados concederam a quatro demandantes mais de US$ 2 bilhões em indenização, mas os juízes de primeira instância em cada caso reduziram significativamente os prêmios.
Nenhum dos três ainda foi pago, já que a Monsanto recorre dos veredictos.
O Parlamento Europeu, por sua vez, é um parceiro no crime de tantas mortes porque a Comissão do Meio Ambiente, a Comissão de Direitos Humanos e a Comissão de Defesa do Consumidor são atraídas, inoperantes e cínicas sobre o assunto glifosato, autorizando a extensão do uso do herbicida.
A reunião anual de acionistas da Bayer está marcada para 28 de abril e analistas disseram que os investidores gostariam de encontrar uma solução para a disputa até aquele momento, ou pelo menos um progresso significativo na contenção do passivo. As ações da Bayer afundaram, perdendo valor em bilhões de dólares após o primeiro veredicto do júri em agosto de 2018, e os preços das ações permanecem em queda.
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Glifosato: o julgamento contra Monsanto é adiado enquanto as ações da Bayer afundam - Instituto Humanitas Unisinos - IHU