09 Julho 2019
Seria preciso Umberto Eco para contar isto, seria preciso Banksy para retratá-lo, seria preciso Herbert Marcuse para dissecar como o imaginário coletivo pode ser modificado por um único e simples gesto, o do cardeal Konrad Krajewski, que, tendo descido em um bueiro, reacendeu a luz de um edifício ocupado.
O comentário é de Iacopo Scaramuzzi, publicado por Jesus, julho-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Alguns, na opinião pública, já haviam percebido esse irreprimível cardeal polonês, mas por iniciativas mais comestíveis (os chuveiros para os moradores de rua, as refeições para os sem-teto, o cinema para os pobres...), enquanto se perdia na memória das crônicas o seu apoio aos doentes do método Stamina ou os pacotes de alimentos para os migrantes do centro Baobab sob despejo do Capitólio...
Krajewski não é o típico homem da Igreja circunspecto, que esfrega suas mãos ensaboadas enquanto fala em termos alusivos e reticentes, etéreos e inacessíveis. Ele não parece um cardeal. E agora que, durante a campanha eleitoral, em tempos de populistas barulhentos e soberanos “boca larga e calças curtas”, como cantava Lucio Dalla, ele desceu aos subterrâneos de Roma na qualidade de eletricista de Deus, todos se despertaram com um sobressalto. Alguns escandalizados, outros perplexos, outros ainda aplaudindo, e o grande bar imaterial das redes sociais se pôs a discutir o cardeal de nome impronunciável.
Já havia se entendido que o mundo havia mudado, já se intuía que com esse papa aí a Igreja também não era mais a mesma, mas até agora apenas um Maurizio Crozza, no início do pontificado, havia chegado a representar o Papa ladeado por dois monsenhores atônitos, com uma geladeira sobre as costas para levar para uma família pobre (imagem acima).
Representação paroxística de um pontífice popular, mas sozinho. Hoje, como o cardeal Krajewski mostrou, menos sozinho.