“O abuso sexual deve ser visto sob a perspectiva do abuso de poder”, afirma jesuíta que espera uma posição do Sínodo sobre o tema

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17 Outubro 2018

Enquanto os bispos participam de uma cúpula sobre jovens que ocorre este mês no Vaticano, um especialista em abuso sexual cometido pelo clero disse na segunda-feira que está confiante de que essa questão venha a ser parte do documento que será escrito a partir do encontro.

A reportagem é de Claire Giangravè, publicada por Crux, 16-10-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.

“Eu conheci um bom número de participantes no sínodo, e conversei com boa parte deles antes de começar. Todos me disseram que iriam falar sobre isso e cumpriram a palavra. Se tornou uma área muito importante de discussão”, disse o padre alemão Hans Zollner, presidente do Centro para a Proteção da Criança (CCP) da Pontifícia Universidade Gregoriana, administrada por jesuítas em Roma, em entrevista ao Crux no dia 15 de outubro.

“Eu não poderia ter imaginado isso de outra forma. Estou muito feliz. Era óbvio que esse assunto seria abordado”, disse Zollner.

"Espero que haja alguma referência clara no documento final", acrescentou.

O padre enfatizou o abuso sexual do clero, apontando vários fatos recentes que marcaram uma mudança dentro da Igreja.

Ele listou a carta do Papa Francisco aos bispos chilenos em maio, uma cúpula dos chefes das conferências episcopais de todo o mundo sobre abusos em fevereiro e o relatório do júri da Pensilvânia em agosto como exemplos de que agora mais do que nunca a ênfase está sendo colocada sobre as questões sistêmicas que prejudicaram a resposta da Igreja.

“Todo o desenvolvimento para se tornar cada vez mais consciente da gravidade dos crimes e da necessidade de realmente agir de forma mais transparente, é o que esses processos demonstram”, disse o padre.

Zollner relacionou a carta papal aos bispos no Chile - um país atormentado por alguns dos mais terríveis exemplos de poder e abuso sexual -, como "um ponto de inflexão", desde que a atenção passou de casos individuais para as estruturas subjacentes, o que permitiu aos perpetradores de abuso a possibilidade de encobri-los.

Segundo o padre, o relatório da Pensilvânia ressaltou os fracassos da Igreja e acrescentou que está otimista sobre a reunião de Roma em fevereiro, quando os bispos abordarão o tema do abuso sexual.

"O anúncio da reunião dos chefes das conferências episcopais é sem precedentes, e sabemos o que está em jogo. As apostas são muito altas", disse Zollner.

Na segunda-feira, Zollner participou da apresentação de um livro intitulado On the side of the little ones: Church and Sexual Abuse (Do lado dos pequenos: Igreja e abuso sexual, em tradução livre) escrito por Angela Rinaldi, membro do CCP.

Zollner escreveu a introdução. O objetivo do livro é dar uma perspectiva histórica sobre o manejo correto e incorreto do abuso sexual através da ótica da formação e das estruturas de poder.

"O abuso sexual de menores deve ser discutido em termos de prevenção. Uma formação que leva à maturidade emocional da pessoa e uma redescoberta da posição de poder como algo que vem de cima e é leal não somente a uma instituição, mas à comunidade de fiéis e ao povo de Deus em geral”, disse Rinaldi na apresentação.

"Dessa forma, podemos realmente pensar em uma Igreja que age ao lado dos desfavorecidos", acrescentou.

Em seu livro, Rinaldi aborda o que ela chama de “abuso sexual de poder” na história da Igreja Católica, onde o agressor não é apenas atribuído como uma autoridade pela sociedade, mas também pela natureza sacramental de seu papel como sacerdote.

“O abuso sexual deve ser visto sob a perspectiva do abuso de poder”, disse Zollner durante a apresentação do livro, acrescentando que ao longo de sua história e de um ponto de vista sociológico, “a Igreja certamente favoreceu o abuso e a não acusação desses casos”.

Mais uma vez se referindo ao Relatório do Grande Júri da Pensilvânia em agosto, o padre disse que “destacou o encobrimento sistemático, a negligência e a não cooperação com o direito canônico e civil em termos de convocação (denúncia) e punição desses crimes”.

Zollner reconheceu a realidade de um “sistema de Igreja” que permitia a continuação do abuso em todo o mundo, e apontou para “uma resistência passiva que encontramos dentro da Igreja, uma relutância e dificuldade em confrontar esta questão”.

De acordo com Zollner, como já foi feito muitas vezes e agora cada vez mais com o CCP, a Igreja poderia se tornar um modelo para outras instituições que enfrentam abuso sexual generalizado, desde a indústria do entretenimento, às escolas e a muitas outras estruturas não-governamentais.

Através de pequenos e grandes passos a Igreja pode apresentar as melhores práticas em termos de formação não apenas do clero, mas também dos leigos, e da criação de estruturas de governança e liderança que combatam o abuso sexual, continuou.

"Se não fizermos isso como Igreja, quem mais poderia fazê-lo? Quem mais teria força e coragem para se expor a essa crítica?”, ressaltou o padre.

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