O papa na Amazônia e o desenvolvimento equivocado. Artigo de Carlo Petrini

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22 Janeiro 2018

“Apenas na Amazônia, vivem cerca de 400 populações indígenas, populações que vivem há milênios em um delicado equilíbrio com o ambiente natural, capazes desde sempre de tirarem o seu sustento da Mãe Terra sem prejudicar os recursos comuns e a possibilidade de que as gerações futuras possam fazer o mesmo.”

A opinião é do chef italiano Carlo Petrini, fundador do movimento Slow Food, em artigo publicado por La Repubblica, 20-01-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Diversidade biológica e cultural, bens comuns, diálogo entre culturas, conhecimentos ancestrais indígenas. Esses são os principais pontos tocados pelo Papa Francisco nos dois discursos proferidos nessa sexta-feira, 19, no Peru, segunda etapa da sua viagem à América Latina.

Mas os verdadeiros protagonistas das intervenções foram a floresta amazônica e os seus habitantes. Esse pulmão verde, que se estende sobre o território de oito Estados sul-americanos de um total de 12, é a maior reserva de biodiversidade terrestre do planeta, além do mais importante coletor de CO2 depois dos oceanos.

Não só, mas é também o guardião de algumas das civilizações que, mais do que todas, souberam construir um relacionamento profícuo e respeitoso com a natureza, habitando um território difícil, mas também muito rico, que hoje corre cada vez mais o risco de ser sacrificado sobre o altar de uma ideia errada de desenvolvimento e de progresso.

Apenas na Amazônia, vivem cerca de 400 populações indígenas, cerca de 60 das quais se estima que nunca tiveram contato com o mundo exterior (os chamados “não contatados”, aos quais Francisco se referiu em um dos seus discursos). Populações que vivem há milênios em um delicado equilíbrio com o ambiente natural, capazes desde sempre de tirarem o seu sustento da Mãe Terra sem prejudicar os recursos comuns e a possibilidade de que as gerações futuras possam fazer o mesmo.

O Santo Padre recordou como essas comunidades, ainda mais do que no passado, estão ameaçadas hoje pelas concessões de petróleo e pelo desmatamento, processos que as expropriam das suas terras ancestrais e as forçam a mudar o próprio modo de vida, muitas vezes ao preço da sua extinção.

Nos seus discursos em Lima e em Puerto Maldonado (cidade no coração da Amazônia peruana), Francisco se dirigiu em mais de uma passagem diretamente aos indígenas, chamando-os de irmãos, expressando a necessidade de defender e valorizar as suas culturas, as suas cosmogonias, a sua espiritualidade peculiar, até acrescentar que o Sínodo dos bispos da Amazônia, convocado para 2019, será realizado no espírito de criar uma Igreja amazônica capaz de se deixar penetrar pela sensibilidade dos nativos.

Em Lima, falando com as autoridades presentes, incluindo o presidente da República, Francisco falou, retomando aquilo que já dissera na encíclica Laudato si’, de um modelo de desenvolvimento falimentar que continua provocando degradação humana, social e ambiental, invocando justamente a escuta dos povos indígenas como caminho a seguir para “defender a esperança”.

De fato, são eles que mantêm um forte vínculo com a terra, que conhecem os tempos da natureza e que mais sofrem com os efeitos de uma economia extrativista e predatória.

À noite, por outro lado, no microfone de Puerto Maldonado, diante de uma plateia com muitos representantes de povos nativos, ele também se lançou contra a ideia distorcida de conservação que permeia uma parte do mundo político, lembrando, ao contrário, a necessidade de diálogo entre pares, porque, disse o papa, temos muito a aprender com a visão de mundo e com a sabedoria dos indígenas.

A ecologia integral, depois, voltou a ressoar quando Francisco disse claramente que não se pode separar a crise ambiental da crise moral e social. E, se isso é verdade no coração da América Latina, não devemos nos esquecer de que isso é ainda mais verdade nas nossas comunidades, cada vez mais dilaceradas pela escalada das disparidades econômicas entre ricos (cada vez menos numerosos e cada vez mais ricos) e pobres, e por fenômenos migratórios cuja causa deve ser buscada, infelizmente, justamente nas políticas econômicas do Ocidente do mundo.

Devemos mudar os nossos paradigmas, caso contrário, não teremos futuro.

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