A proibição de Trump aos refugiados é um “momento sombrio na história americana”, afirma cardeal de Chicago

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31 Janeiro 2017

Os bispos católicos dos Estados Unidos têm reagido com raiva à recém-assinada ordem executiva do presidente Donald J. Trump que proíbe que refugiados sírios entrem no país e que suspende programas de reassentamento a até quatro meses; eles pedem que o líder político reconsidere a decisão tomada.

“Essa semana provou ser um momento sombrio na história americana”, disse o Cardeal Blase Cupich de Chicago em nota de 29 de janeiro. “A ordem executiva de não deixar entrar refugiados e fechar o país àqueles, em particular os muçulmanos, que fogem da violência, opressão e perseguição é contrária aos valores católicos e americanos”.

A reportagem é de Michael O’Loughlin, publicada por America, 29-01-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

Assinada por Trump na tarde de sexta-feira, a ordem executiva suspende todos os reassentamentos de refugiados por até quatro meses e proíbe que refugiados sírios entrem nos EUA por tempo indeterminado. Além disso, residentes de sete países predominantemente muçulmanos não podem entrar nos EUA pelos próximos 90 dias.

No sábado à noite, vários juízes federais bloquearam temporariamente partes da ordem executiva de forma que os viajantes que estavam detidos nos aeroportos americanos pudessem entrar normalmente no país. No domingo de manhã, o governo Trump sugeriu que a ordem seria alterada para que os detentores do “green card” tivessem permissão para reentrar.

Em entrevista ao canal Christian Broadcasting Network – CBN concedida no fim de semana, Trump sugere que os refugiados cristãos poderão receber o status de prioridade em relação aos fiéis de outras religiões, incluindo a muçulmana.

O presidente tuitou esse sentimento em sua conta pessoal no domingo.

Mas muitos líderes cristãos, incluindo católicos, rejeitaram a ideia de que os cristãos que enfrentam perseguição deveriam receber alguma prioridade em detrimento de outras populações que também são perseguidas pela fé que professam, como os muçulmanos que sofrem violência nas mãos de outros muçulmanos.

“Ouvimos que não era uma proibição aos muçulmanos o que estava sendo proposto na campanha presidencial, mas estas ações focam os países de maioria muçulmana”, disse o Cardeal Cupich. “Estão fazendo uma exceção para os cristãos e para minorias não muçulmanas, mas não para refugiados muçulmanos que fogem para salvar suas vidas”.

“O mundo está assistindo enquanto abandonamos os nossos compromissos com os valores americanos”, continuou o prelado.

No fim de semana, milhares de pessoas protestaram nos aeroportos do país, exigindo que as pessoas que estavam sendo negadas a entrada nos EUA por causa do status imigratório fossem autorizadas a passar. Os manifestantes pediam que o presidente Trump suspendesse a ordem executiva.

No sábado à noite, uma multidão reunida em frente ao Aeroporto Internacional O’Hare de Chicago entoava “Let them in” (Deixe-os entrar), em uma demonstração de apoio às 18 pessoas que estavam sendo mantidas dentro do terminal pelos agentes de segurança.

Autoridades de segurança nacional disseram que mais de 375 pessoas tinham sido afetadas pela ordem executiva, com 173 não tendo a permissão para embarcar em aviões no exterior que viajariam para os Estados Unidos e o restante com cerca da metade sendo detida nos aeroportos do país.

Também em frente ao aeroporto de Chicago sábado à noite, erguendo um cartaz com uma citação de Jesus (“Eu era estrangeiro e vocês me receberam”), Caitlin Fitz disse que protestava em nome dos direitos das pessoas detidas.

“Estou esgotada com os desdobramentos da semana passada”, disse ela à revista America. “Acho que Jesus não teria apoiado esse tipo de proibição”.

No sábado de noite, todos os que estavam detidos no aeroporto de O’Hare, incluindo um bebê de 18 meses, foram liberados.

Preocupações sobre como a proibição poderia afetar estudantes internacionais levou o presidente da Universidade de Notre Dame, o Rev. John Jenkins, a publicar uma nota no sábado em que chama a ordem executiva de “resteira, indiscriminada e abrupta”.

“Se for o caso, com o tempo ela [a ordem] irá diminuir o escopo e a força dos esforços educacionais e de pesquisa das universidades americanas, que têm sido uma fonte não só de descobertas intelectuais, mas de inovação econômica para os EUA e para o entendimento internacional em nosso mundo”, escreveu.

Alguns cristãos citaram preocupações com a ordem executiva em termos de liberdade religiosa.

Por exemplo, Dom William Lori, de Baltimore, presidente da Comissão para a Liberdade Religiosa da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA, contou ao The Baltimore Sun que a ordem era um “passo atrás” para a liberdade religiosa.

“Do ponto de vista da liberdade religiosa, é bem difícil e questionável essa aproximação que a ordem executiva do presidente faz, assinalando uma religião em particular”.

Na sexta-feira, horas antes de a ordem executiva ser anunciada, o cardeal de Newark, Dom Joseph Tobin, publicou uma nota em que dizia que a arquidiocese estava planejando reassentar 51 refugiados da Síria, do Iraque, do Afeganistão e da República Democrática do Congo.

No dia 29 de janeiro, um porta-voz arquidiocesanos falou que os refugiados deverão chegar em março e que a unidade local da Catholic Charities está continuamente preparando-se para a chegada dessas pessoas.

“O cardeal mandou uma carta na sexta-feira às paróquias e escolas para pedir doações de materiais, e temos pessoas que se voluntariaram para fazer acontecer o programa”, disse Jim Goodness. “Há muitas dúvidas agora, mas pretendemos prosseguir com o trabalho até onde for possível”.

Vários líderes católicos reagiram à ordem executiva reafirmando que o governo dos EUA tem a obrigação de proteger os seus cidadãos e dar segurança às suas fronteiras, mas deram a entender também que a nova política tornaria o país menos seguro.

“As nossas autoridades eleitas têm a obrigação de proteger os americanos, e todos devemos levar a sério as medidas de segurança”, disse Sean Callahan, presidente da Catholic Relief Services, em nota no dia 27 de janeiro. “Mas negar a entrada a pessoas desesperadas o suficiente para abandonar suas casas, cruzar oceanos em minúsculos botes e deixar para trás todas os pertences que tinham apenas para encontrar segurança não vai fazer o nosso país mais seguro”.

Essa inquietação também esteve presente na nota emitida pelo Cardeal Cupich.

“Essas ações ajudam e confortam os que destruiriam o nosso modo de vida. Elas reduzem a nossa estima aos olhos dos muitos povos que querem conhecer a América como a defensora dos direitos humanos e da liberdade religiosa, não como um país que alveja populações religiosas e, em seguida, fecha suas portas a elas”, disse o cardeal.

“Chegou a hora de deixarmos de lado o medo e nos unir para recuperar quem somos e o que representamos diante de um mundo infelizmente necessitado de esperança e solidariedade”, completou o religioso.

O choque entre alguns líderes católicos e o governo Trump na questão dos refugiados foi apenas a mais recente interação entre a Igreja e o Estado durante a primeira semana do presidente republicano no poder.

Trump assinou uma série de ordens executivas em várias frentes, desde reinstalação da proibição do dinheiro federal usado em programas abortistas no estrangeiro (o que foi bem-recebido por alguns bispos) até a construção de um muro junto à fronteira EUA-México (o que foi vaiado por outros).

A onda de notícias bombásticas não mostra sinais de esmorecimento: reportagens dizem que o presidente pode anunciar o seu juiz indicado à Suprema Corte já em 30 de janeiro, e não em 2 de fevereiro, como anteriormente planejado.
Em resposta a todas as notícias da semana, um grupo de católicos na capital do país pôs-se a rezar.

No domingo à tarde, várias centenas deles se reuniram para uma missa ao ar livre em frente à Casa Branca para rezar em nome das pessoas afetadas pela ordem executiva.

“Quisemos mostrar solidariedade com os nossos irmãos e irmãs muçulmanos que estão afetados por essa ordem executiva. Sentimos que seria apropriado ter uma resposta distintamente católica”, disse-nos Emily Conron, uma das organizadoras do evento.

Segundo ela, as leituras do Evangelho para este domingo, em que Jesus prega as bem-aventuranças, eram apropriadas para a missa pública.

“No fim, no cômputo final, não são os poderosos que serão recompensados, mas os fracos”, disse. “E nós seremos julgados pela maneira como tratamos os fracos”.

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