Viragem no diálogo entre católicos e ortodoxos

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27 Setembro 2016

De 15 a 22 de setembro de 2016, realizou-se em Chieti, com a matéria publicada hoje a convite da diocese a mim confiada, e com o apoio da Conferência Episcopal Italiana, a 14ª sessão plenária da Comissão mista Internacional para o Diálogo Teológico entre a Igreja Católica e as Igrejas Ortodoxas como um todo.

O artigo é de Bruno Forte, arcebispo de Chieti, Itália, e publicado por Il Sole 24 Ore, 25-09-2016. A tradução é de Ramiro Mincato.

A Comissão foi criada por João Paulo II e o Patriarca Ecumênico Dimitrios I, em ocasião da visita do Papa a Phanar, em 30 de novembro de 1979.

Nos últimos anos, após a reunião realizada em Ravenna, em 2007, que produziu um importante documento sobre "As consequências eclesiológicas e canônicas da natureza sacramental da igreja", outras plenária foram realizadas em Chipre (2009), em Viena (2010) e em Amã (2014), mas sem qualquer texto aprovado.

Na reunião de Chieti, em vez, chegou-se a um acordo significativo sobre a relação entre o primado do Bispo de Roma e a sinodalidade da Igreja inteira, e foi aprovado um documento, votado por todos os participantes, com exceção da Igreja Ortodoxa da Geórgia, intitulado "Sinodalidade e primado no primeiro milênio: um entendimento comum a serviço da unidade da Igreja".

Os trabalhos foram presididos por Jó Getcha, Arcebispo de Telmessos, do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, e pelo cardeal Kurt Koch, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, e participaram também, como no passado, em circunstâncias semelhantes, dois representantes de cada uma das catorze Igrejas Ortodoxas autocéfalas (com a única exceção de Igreja búlgara, ausente) e, outros tantos representantes católicos, inclusive eu. Devido ao local dos trabalhos, o texto aprovado em 21 de setembro será chamado de "Documento de Chieti" e, na opinião do todos os presentes, poderá representar um passo importante no diálogo ecumênico entre as duas Igrejas.

A primeira razão da importância do consenso alcançado consiste precisamente no fato de que aprovou e publicou um documento conjunto: os tempos foram considerados maduros para que o acordo, embora não na totalidade, fosse tornado público, e para que as respectivas comunidades eclesiais pudessem ser convidados a refletir sobre a forma como os seus representantes consideram o patrimônio comum da visão de fé das duas Igrejas, sobre a sinodalidade da própria Igreja e sobre o primado do Bispo de Roma.

Já este fato é relevante, e abre o caminho para futuros, ulteriores desenvolvimentos da reflexão iniciada. Em particular, o consenso resulta de grande importância, se apenas se pensar nas divisões ocorridas desde o início do segundo milênio, entre as Igrejas do Oriente e do Ocidente, com relação ao primado do Papa. O texto se move a partir do reconhecimento comum da relevância fundamental da Igreja local, presidida pelo bispo, que nela é um sinal de Cristo Pastor, especialmente na presidência da assembleia eucarística celebrada com os sacerdotes e o povo de Deus. Esta relevância, sempre sublinhada pela ortodoxia, foi trazida à luz pelo Concílio Vaticano II, e tem estimulado uma vitalidade pastoral renovada das Igrejas em diversos lugares do planeta. Desde o início, no entanto, a ênfase dada às Igrejas locais foi conjugada com a necessidade de comunhão regional, expressa por Sínodos e Concílios, onde as igrejas locais participam através de seus respectivos bispos. Esta comunhão episcopal deu origem as metropolitanates e patriarcados, em que a variedade de Igrejas locais reconheciam uma manifestação e um instrumento significativo da única fé professada por todos.

O passo importante dado em Chieti foi o de testemunhar juntos a necessidade e o mérito de uma expressão da comunhão em nível universal. Neste contexto, reafirmando a importância da comunhão sinodal de todos os bispos acomunados pela sucessão apostólica, Ortodoxos e Católicos, confessaram unanimemente o papel único do bispo de Roma, a Igreja que preside na caridade, a quem sempre foi reconhecido o primeiro lugar na ordem ( "tàxis") das sedes patriarcais.

Em termos concretos, este primado foi compreendido no Oriente como um "primado de honra", enquanto no Ocidente, particularmente a partir do século IV, foi referido ao papel de Pedro entre os Apóstolos, interpretando o primado do bispo de Roma, entre todos os bispos, como uma prerrogativa ligada ao fato de ser o sucessor de Pedro, o primeiro entre os Doze. Isto explica as chamadas à sede de Roma, tanto do Oriente como do Ocidente, para resolver problemas entre as várias igrejas e ao interno delas, frequentes no primeiro milênio.

Além disso, "a partir do primeiro Concílio Ecumênico (Nicéia, 325), as principais questões relativas à fé e ao ordenamento canônico na Igreja, foram discutidas e resolvidas pelos Concílios Ecumênicos. Embora o bispo de Roma não estivesse pessoalmente presente em nenhum deles, cada vez era representado pelos seus delegados ou aprovava as conclusões do Concílio pos factum". A "sinergia" do bispo de Roma foi definida pelo Concílio de Nicéia, em 787, como uma das condições necessárias para reconhecer a ecumenicidade de um Concílio. A referência ou o apelo à Sé Romana e ao seu Bispo, e o acordo com ele, foram, cada vez mais, percebidos como sinal e garantia da unidade da Igreja universal. Poderá este modelo voltar novamente ao auge para a comunhão das Igrejas do Oriente e do Ocidente no Terceiro Milênio? A resposta a esta pergunta vai compassar os próximos passos do diálogo católico - ortodoxo, de qualquer modo, significativamente marcados pelo que aconteceu em Chieti, neste mês de setembro de 2016: um ponto de viragem, mil anos depois da dolorosa ruptura!

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