O sono. Murilo Mendes na oração inter-religiosa desta semana

Foto: Freepik

03 Junho 2022

 

Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Por meio de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, colaborador do Instituto Humanitas Unisinos - IHU e do canal Paz Bem.

 

O sono

 

Dorme.

Dorme o tempo em que não podias dormir.

Dorme não só tu,

Prepara-te para dormir teu corpo e teu amor contigo.

Dorme o que não foste, o que nunca serás.

Dorme o incêndio dos atos esquecidos,

A qualidade a distância o rumo do pensamento

O pássaro magnético volta-se,

As árvores trocam os braços,

O castelo parou de andar.

Dorme.

Que pena não poder me ver – puro – dormindo.

 

Fonte: Murilo Mendes. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguillar, 1994, p. 435.

 

Murilo Mendes (Foto: Acervo MAMM)

 

Murilo Mendes (1901-1975): Poeta brasileiro nascido em Juiz de Fora, Minas Gerais, participou do Modernismo brasileiro. Foi condecorado com o Prêmio Graça Aranha pela obra Poemas (1930) e integrou o Movimento Antropofágico, que resgatava os valores e as cosmologias dos povos nativos do Brasil como inspiração ética e estética, fora do esquema colonialista tradicional os movimentos artísticos do início do século XX. Mendes teve sua obra marcada por elementos que tratavam de mística, espiritualidade e das crenças populares brasileiras, fato que o levou a ser um dos representantes mais importantes da poesia religiosa. O poeta encontrou na sua conversão ao catolicismo essa visão de religiosidade. Além disso, o poeta é o principal representante surrealista brasileiro, fato evidenciado com a publicação do livro Visionário (1941), onde o autor mistura imaginário e cotidiano. 

Entre suas obras, destacamos: História do Brasil (1932), Tempo e Eternidade em colaboração com Jorge de Lima (1935), O Discípulo de Emaús, prosa (1944),  Retrato Relâmpago (1973) e as publicações póstumas de A Invenção do Finito (2002) e Janelas Verdes (2003). 

 

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