A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 16,1-13 que corresponde ao 25° Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O comentário é elaborado por Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Naquele tempo, Jesus dizia aos discípulos: "Um homem rico tinha um administrador que foi acusado de esbanjar os seus bens. Ele o chamou e lhe disse: 'Que é isto que ouço a teu respeito? Presta contas da tua administração, pois já não podes mais administrar meus bens'. O administrador então começou a refletir: 'O senhor vai me tirar a administração. Que vou fazer? Para cavar, não tenho forças; de mendigar, tenho vergonha. Ah! Já sei o que fazer, para que alguém me receba em sua casa quando eu for afastado da administração'. Então ele chamou cada um dos que estavam devendo ao seu patrão. E perguntou ao primeiro: 'Quanto deves ao meu patrão?' Ele respondeu: 'Cem barris de óleo!' O administrador disse: 'Pega a tua conta, senta-te, depressa, e escreve cinquenta!' Depois ele perguntou a outro: 'E tu, quanto deves?' Ele respondeu: 'Cem medidas de trigo'. O administrador disse: 'Pega tua conta e escreve oitenta'. E o senhor elogiou o administrador desonesto, porque ele agiu com esperteza. Com efeito, os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz. E eu vos digo: Usai o dinheiro injusto para fazer amigos, pois, quando acabar, eles vos receberão nas moradas eternas. Quem é fiel nas pequenas coisas também é fiel nas grandes, e quem é injusto nas pequenas também é injusto nas grandes. Por isso, se vós não sois fiéis no uso do dinheiro injusto, quem vos confiará o verdadeiro bem? E se não sois fiéis no que é dos outros, quem vos dará aquilo que é vosso? Ninguém pode servir a dois senhores porque ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro".
Neste domingo, a liturgia nos oferece um texto do evangelho de Lucas que, ao longo da história, gerou certos problemas para compreender algumas afirmações da boca de Jesus. Em uma leitura rápida, podemos nos perguntar: Jesus elogia a atitude dos corruptos e os coloca como modelo de comportamento? Ou o que Jesus está destacando neste administrador?
No relato prévio a este texto, lemos a parábola do filho que sai da casa do pai depois de pedir sua herança. Ele desperdiça todos os seus bens materiais com prostitutas e, quando volta para a casa do pai, junto com a alegria do abraço e da festa, aparece o filho mais velho reclamando que não recebeu nem um cabrito.
Essa parábola, junto com outras questões, nos faz refletir sobre a nossa postura em relação aos bens materiais que Deus nos concede. Uma dúvida que surge é: como podemos usá-los de forma correta, sem nos acharmos merecedores de tudo o que recebemos? Vamos explorar o texto mais a fundo para tentar encontrar uma resposta para essa pergunta e entender melhor a mensagem que Jesus quer passar com essa parábola.
Jesus está ensinando aos discípulos através de uma parábola que começa dizendo: "Um homem rico tinha um administrador que foi acusado de esbanjar os seus bens". Quando o administrador soube que será demitido por dilapidar os bens, procura astutamente organizar o futuro que terá que enfrentar. No texto descreve-se a ação do administrador, que começa a refletir para agir em consequência. Ele não tem forças para o trabalho físico, não quer mendigar porque tem vergonha, por isso faz cálculos “para que alguém o receba em sua casa”.
Por isso, ele chama cada um dos devedores, com quem provavelmente não tinha uma boa relação, para negociar a redução da dívida — que talvez fosse sua fonte de renda — e assim conquistar a amizade deles. Ele sabe que vai ser demitido porque desperdiçava os bens, não era um bom gestor, e talvez, neste momento, comece a administrar esses bens com mais justiça. São bens que não lhe pertencem, mas por causa de suas ações, recebe elogios do senhor, que até elogia o administrador desonesto por ter agido com esperteza. Talvez ele tenha aberto mão de seus próprios ganhos, do dinheiro que não era dele, para ganhar amigos no futuro. Dessa forma, ele chama um por um os devedores e reduz a dívida sem ter o aval do “senhor”, que de qualquer forma o elogia por ter agido com inteligência.
“Com efeito, os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz”
Jesus está ensinando como ser seus seguidores, como compartilhar a novidade do Reino de uma forma que se adapte às diferentes situações que aparecem, e também como agir com inteligência e esperteza. Os cristãos se chamavam de “filhos da luz”, mas Jesus os repreende por não serem suficientemente astutos, rápidos e espertos para navegar nesse mundo. Ele os convida a agir com prontidão, a ficarem atentos para responder aos caminhos que a dinâmica do Reino deve seguir na sociedade. A humildade e a simplicidade são importantes, mas também é preciso ter sagacidade e vivacidade para perceber a presença do Espírito — não podemos ser ingênuos! Jesus sempre observava o que acontecia ao seu redor, com as pessoas que o seguiam, seus discípulos, as autoridades religiosas e políticas, e agia de acordo com isso.
E continua dizendo: “Usai o dinheiro injusto para fazer amigos, pois, quando acabar, eles vos receberão nas moradas eternas”.
A partir desta afirmação, podemos questionar-nos: existe um dinheiro "justo"? Jesus mesmo responde a esta questão ao afirmar: “Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro”. Os bens que recebemos, seja material ou não, são dados. A tarefa fundamental é administrá-los! Esses bens tornar-se-ão injustos quando o ser humano se apropriar deles e os acumular para si, agindo como seu "dono" sem reconhecer que são um dom entregue para ser administrado. Não existe dinheiro justo ou injusto; tudo o que consideramos "nosso" ou "merecido" pode levar à ganância e à acumulação de dinheiro, como se pudéssemos organizar o futuro com ele ou determinar nosso destino em função dele.
Jesus diferencia claramente servir a Deus ou servir ao dinheiro. O significado de servir está relacionado com “servus”, que significa escravo, estar a serviço, e também está relacionado com atender, custodiar, proteger. O que significa servir ao dinheiro? Em poucas palavras, podemos dizer que é viver escravo do dinheiro, que acaba se tornando o centro da vida, “um deus”, e Deus, nosso pai, que nos deu a vida e nos torna irmãos, fica deslocado. Não se pode viver a fraternidade sem compartilhar o pão com quem está ao meu lado. Não se pode louvar a Deus e ter uma atitude de gratidão no coração pela vida que nos deu se não reconhecermos que tudo recebemos dele e somos simples administradores de seus bens. Se acreditamos em Deus que é Pai, acolheremos o outro como irmão, sem filtros nem exceções. Jesus adverte sobre a avareza que o dinheiro traz, que leva ao egoísmo e à injustiça e ao desperdício dos bens recebidos segundo critérios de egoísmo e ganância.
Neste domingo, Jesus convida-nos a ser astutos, a não ser ingénuos, a não ser cristãos onde prevalece uma espiritualidade desligada da profunda mensagem de igualdade e justiça que a Boa Nova traz consigo. Talvez em muitos momentos da história tenha prevalecido uma espiritualidade sem compromisso com o que acontecia à nosso redor, mas neste domingo Jesus apresenta-nos o desafio de sermos astutos para responder aos desafios que se nos apresentam.
Lembramos as palavras do Papa Francisco na homilia da Missa em Santa Marta, no dia 20 de setembro de 2013: “É o dinheiro que faz você se desviar da fé", e "até mesmo acaba com a sua fé". É ele que semeia no mundo "invejas, brigas, calúnias e suspeitas malignas. Se você escolher o caminho do dinheiro", "o dinheiro torna-se ídolo e você vai adorá-lo e se tornar corrupto". O próprio Jesus fala claramente sobre isso, de maneira "bastante forte": “’Não podeis servir a Deus e ao dinheiro’. Você não pode: é um ou o outro! E isso não é comunismo, não! Isso é puro Evangelho! Estas são as palavras de Jesus!" ("A Pope Francis Lexicon": quando o dinheiro se torna um ídolo).