6º domingo da Páscoa – Ano A – Subsídio exegético

(Foto: Pawel Czerwinski | Unsplash)

12 Mai 2023

Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF: Dr. Bruno Glaab, Me. Carlos Rodrigo Dutra, Dr. Humberto Maiztegui e Me. Rita de Cácia Ló. Edição: Dr. Vanildo Luiz Zugno.

Leituras do dia

1ª leitura - At 8,5-8.14-17
Salmo - Sl 65(66),1-3a.4-5.6-7a.16.20 (R. 1-2a)
2ª leitura - 1Pd 3,15-18
Evangelho - Jo 14,15-21

O Evangelho

O centro da mensagem do evangelho deste domingo é a presença de Deus na vida das comunidades de fé através da história. Na noite da ceia e do lava-pés, os discípulos estão angustiados. Como fica a Igreja sem a presença física de Jesus? Após a morte e ressurreição a Trindade estará presente naqueles que observam os seus mandamentos. Isto se elucida na frase de Jesus: “não vos deixarei órfãos” (v.18).

A perícope tem duas partes: 1) vv. 15-17; 2) vv.18-21

1) vv.17-17: É clima de despedida física de Jesus. A obra iniciada por ele continua nos discípulos que amam. Eles receberão do Pai, o “outro Paráclito” que pode ser traduzido por ajudante, assistente, sustentador, protetor, procurador, animador, iluminador, ou ainda aquele que ajuda ou defende o acusado: advogado. Este Espírito da verdade torna a comunidade viva e a torna atual na história. Desta forma, os que guardam os mandamentos de Jesus, pelo Espírito permanecem nele e no Pai. Em outras palavras, naqueles que guardam os mandamentos, a obra de Jesus estará presente de forma renovada, através do Paráclito. Não é menos real estar na comunidade de fé pós-pascal, do que estar fisicamente com Jesus, como estiveram seus discípulos de primeira hora.

Quando Jesus diz: “um outro Paráclito” entende que o primeiro Paráclito é o próprio Jesus (cf. 1Jo 2,1). Ao se retirar de forma física, o outro o trará de volta junto com o Pai para fazer morada nos que observam seus mandamentos, o que lembra Ez 36,26s. Ele vem em lugar de Jesus, mandado pelo Pai, para auxiliar a comunidade de fé.

2) vv.18-21: A nova vinda de Jesus (v.18) não se reporta a vinda no fim dos tempos como em Mc13,26, mas já na história. Ou seja, a Igreja animada pelo Espírito terá sempre a presença de Cristo, mas não de forma física. Assim como o ressuscitado se manifestou à comunidade reunida (Jo 20,19.26), ele estará sempre com os seus, como também atesta Mt 28,20: “eu estou convosco todos os dias até o fim dos tempos”. Nesta vinda, no período pós-pascal, o mundo não o verá, pois sem o amor e a observância, a ausência física significa o fim. O amor e a observância dos mandamentos pelos discípulos, no entanto, tornam Jesus novamente presente. Assim, pela fé, depois da páscoa, os discípulos participarão da vida de Jesus e nele viverão. O mundo não o verá, pois só pelo amor e pela observância isto será real. Naquele dia (v.20), depois da páscoa, reconhecerão que Jesus está no Pai, nos discípulos e estes em Jesus. Como consequência do amor a Jesus, os discípulos serão amados pelo Filho e pelo Pai e receberão a manifestação dele.

Resumindo

Jesus legou à sua comunidade o mandamento do amor. Para permanecer fiéis neste mandamento, ele foi o apoio da comunidade em sua vida terrena. Agora, porém, na sua ausência física, um outro Paráclito ajudará a comunidade a vivenciar estes ensinos de Jesus. O Pai, atendendo ao pedido do Filho, enviará este Espírito da verdade para continuar o que ele iniciou. Este Espírito não é conhecido pelo mundo, apenas pelos discípulos que permanecem em Jesus. A comunidade não ficará órfã, pois o ressuscitado virá de uma nova maneira para estar com os seus que só se pode conhecer pela fé. Pela fé se participa desta vida nova, já aqui e agora. Assim, no ressuscitado a escatologia já se realiza dentro da história, uma vez que os discípulos saberão que Jesus está no Pai, os fiéis estarão em Jesus e Jesus neles. A verdadeira experiência da ressurreição antecipa a ação da Trindade na história e é uma antessala da escatologia. Quem pratica os mandamentos de Jesus e o ama, se reencontra com Cristo vivo no tempo pós-pascal, mesmo antes do fim dos tempos.

Relacionando com as outras leituras

At 8,5-8.14-17: A comunidade cristã original era formada somente por judeus. Aos poucos a Igreja se expande e ultrapassa as fronteiras, chegando à Samaria e outras nações (cf. At 1,6-8), já é uma “Igreja em saída”. Também na Samaria e nas demais nações, o Ressuscitado se torna presente pelo testemunho dos discípulos e pelo Espírito Santo. A Igreja se torna real onde for levado o anúncio, onde as pessoas se convertem ao amor, aos mandamentos pela ação do Espírito, sem nenhum limite de raça, ou cultura. Mesmo os samaritanos recebem a proposta amorosa de Jesus. Lá, pelas mãos de Filipe, acontecem os mesmos milagres de Jesus (vv.6-7). Ou seja, como visto no evangelho, a presença de Jesus, do Espírito e do Pai continua naqueles que o amam. Não é Filipe que faz milagres, é Jesus que age por meio dele. Assim, na comunidade cristã, está a presença daquele que prometeu não deixá-los órfãos.

1Pd 3,15-18: os destinatários de 1Pedro são pessoas pobres e perseguidas. A carta quer animá-los. Para resistir é preciso ter Cristo no coração, ter convicções firmes para justificar sua própria atitude e para esclarecer a quem ainda não tem fé e indaga. Sabendo que não são órfãos, os cristãos devem professar suas convicções com ternura, pois também Cristo seu modelo, passou por tudo isto.

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