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15 Setembro 2017

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 18,21-35 que corresponde ao 24° Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto

Os discípulos ouviram Jesus dizer coisas incríveis sobre o amor aos inimigos, a oração ao Pai pelos que os perseguem, o perdão a quem lhes faz mal. Seguraremente parece-lhes uma mensagem extraordinária, mas pouco realista e muito problemática.

Pedro aproxima-se agora de Jesus com uma abordagem mais prática e concreta que lhes permita, ao menos, resolver os problemas que surgem entre eles: desconfianças, invejas, confrontos e conflitos. Como deve atuar naquela família de seguidores que caminham atrás de seus passos? Em concreto: “Quantas vezes devo perdoar ao meu irmão quando me ofenda?”.

Antes que Jesus lhe responda, o impetuoso Pedro adianta-se para fazer a sua própria sugestão: “Até sete vezes?”. A sua proposta é de uma generosidade muito superior ao ambiente justiceiro que se respira na sociedade judaica. Vai mais longe inclusive do que se pratica entre os rabinos e os grupos essênios, que falam como máximo de perdoar até quatro vezes.

No entanto, Pedro continua a mover-se no plano da casuística judaica, onde se prescreve o perdão como arranjo amistoso e regulamentado para garantir o funcionamento ordenado da convivência entre quem pertence ao mesmo grupo.

A resposta de Jesus exige colocar-nos noutro registro. No perdão não há limites: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete”. Não tem sentido manter uma contabilidade do perdão. O que se põe a contar quantas vezes está a perdoar ao irmão entra por um caminho absurdo que arruína o espírito que tem de reinar entre os seus seguidores.

Entre os judeus era conhecido o “Canto da vingança” de Lámec, um lendário herói do deserto, que dizia assim: “Caim será vingado sete vezes, mas Lámec será vingado setenta vezes sete”. Perante esta cultura da vingança sem limites, Jesus propõe o perdão sem limites entre os seus seguidores.

As diferentes posições ante o Concílio foram provocando no interior da Igreja conflitos e confrontos por vezes muito dolorosos. A falta de respeito mútuo, os insultos e as calúnias são frequentes. Sem que ninguém os desautorize, setores que se dizem cristãos servem-se da Internet para semear agressividade e ódio, destruindo sem piedade o nome e a trajetória de outros crentes.

Necessitamos urgentemente de testemunhas de Jesus que anunciem com palavra firme o seu Evangelho e que contagiem com coração humilde a sua paz. Crentes que vivam perdoando e curando esta obsessão doentia que entrou na sua Igreja.

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