Duas mulheres encarnam o colapso do sistema político tradicional

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29 Junho 2018

Alexandria Ocasio-Cortez tem 28 anos de idade; Angela Merkel, 63. Sete meses atrás, a primeira ainda trabalhava como garçonete em um bar; a outra negociava a formação de seu quarto Governo.

A reportagem é de Andrea Rizzi, publicada por El País, 28-06-2018.

É a história de duas mulheres, mas, ao mesmo tempo, o retrato do colapso do establishment político que conduziu o Ocidente por sete décadas. Uma tem 28 anos de idade; a outra 63. Sete meses atrás, a primeira ainda trabalhava como garçonete em um bar; a outra negociava a formação de seu quarto Governo.

Uma delas é Alexandria Ocasio-Cortez, nova-iorquina de origem latina que acaba de derrotar nas primárias democratas de sua cidade um gigante do partido que tinha um orçamento dez vezes maior e o apoio do alto comando da legenda.

A outra é Angela Merkel, chanceler alemã que participa, nesta semana, da cúpula europeia, à qual chega mais fraca do que nunca após mais de uma década no poder. Depois do resultado decepcionante nas eleições de setembro e da sofrida formação de um Governo de coalizão, seus aliados bávaros agora lhe deram um ultimato para endurecer a política de imigração. Ela se move sobre a linha tênue entre abdicar de seus valores ou morrer na coerência. É muito provável que Merkel acabe superando o desafio com o pragmatismo que a caracteriza, mas seu sofrimento diz muito sobre o nosso tempo. A pujança da extrema direita radicalizou os bávaros; e, sem eles, nem mesmo o apoio de outro grande partido alemão, o SPD, garante a maioria no Parlamento. Porque os dois Volksparteien que um dia tiveram 80% dos votos alemães agora mal conseguem 50%.

Elas —Merkel e Ocasio-Cortez— hoje encarnam uma história global. Os sintomas são visíveis por toda parte. Theresa May, por exemplo, vai para a cúpula como Merkel em uma situação de dificuldade causada pelos ventos contrários ao sistema. No seu caso, com o complicado desafio de concretizar o Brexit, decidido em um referendo no qual todo o establishment político (juntamente com o empresarial e o sindical) apoiava a opção contrária.

Esse establishment está caindo rapidamente por quase todo o Ocidente. Em alguns lugares, restam apenas escombros. Na Itália, por exemplo, onde praticamente não há vestígios de partidos tradicionais, quem manda são dois outsiders como a Liga e o 5 Estrelas. O líder da Liga cavalga em uma retórica xenofóbica sem meias palavras. O que é surpreendente sobre seu sucesso é que, infelizmente, foi o establishment europeu que lhe deu munição, lavando as mãos diante dos repetidos apelos por solidariedade na gestão do fluxo migratório que vinham do anterior e moderado Governo italiano. Agora essa facção moderada quase não existe, e os apelos se tornaram perigosos gritos.

A vitória de Macron aparentemente resguarda a França dessa maré, mas no primeiro turno das eleições presidenciais os candidatos contrários ao establishment tiveram 48% dos votos. O mítico PS, pilar do poder da França moderna, praticamente não existe.

Em outros lugares, como a Áustria, à primeira vista, os partidos tradicionais resistem. Um olhar mais atento mostra que, na realidade, sob o mesmo traje, se encontra outro corpo, uma transubstanciação de ideias da direita radical em panos de conservadorismo tradicional.

Um pouco mais a Leste, a noção de democracia liberal é um anátema e há aqueles, como Viktor Orban na Hungria, que evocam abertamente o conceito de democracia não liberal.

Os dados mostram que a economia vem melhorando no Ocidente há anos; que os fluxos migratórios estão diminuindo. Mas isso não reduz nem mesmo um milímetro da ira de grande parte dos cidadãos contra os partidos e dirigentes tradicionais. A investida dessa ira deixa em escombros o velho sistema, e nesses escombros germinam propostas de todos os tipos: ultradireitistas declarados, jovens figuras inspiradoras e outsiders da política, mas não do establishment geral como o próprio Macron ou Donald Trump.

Qualquer um que seja percebido como defensor do sistema está no caminho do tsunami. A sensação é que terão melhor sorte aqueles que defendem os valores do sistema do que aqueles que defendem o próprio sistema.

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