14 Dezembro 2017
Se desligássemos tudo: TV, PC, smartphone, eletrodomésticos, rádio, meios de transporte. Se, por um momento, todos segurássemos a respiração, então talvez nós conseguíssemos perceber a voz da Terra? Infelizmente não: é um som silencioso, embora constante. Nem todo mundo sabe disso, mas nosso planeta sempre emite um zumbido baixo, que os geofísicos chamam de oscilação livre.
Em um recente estudo, pela primeira vez os cientistas foram capazes de captá-lo no fundo do oceano. Além daquele produzida pelos terremotos, resultado do movimento das placas tectônicas, existe uma vibração mais sutil, não violenta, mas perpetua da qual se procura a origem há anos. Ou seja, existe um sinal de baixa frequência, que é independente dos fenômenos sísmicos. Era impossível captá-lo na superfície, de modo que se tentou fazer isso debaixo d'água.
A reportagem é de Maria Luisa Prete, publicada por Repubblica, 13-12-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.
Em 1998, uma equipe japonesa havia demonstrado com sucesso que o som era real, sem, contudo, ter conseguido mensurá-lo: todas as gravações anteriores subaquáticas eram prejudicadas por ruídos provocados por terremotos ou outros sons submarinos.
Dessa vez, a equipe europeia liderada por Martha Deen, geofísica do Instituto de Física da Terra de Paris, teve sucesso. O novo estudo publicado na revista Geophysical Research Letters, uma revista da American Geophysical Union, determinou nas profundezas do Oceano Índico as frequências com que a Terra vibra naturalmente. Foram usados sofisticados sismômetros oceânicos - 57 para ser exato - e técnicas matemáticas avançadas para remover os sons das correntes oceânicas e os provocados por problemas eletrônicos, e assim os pesquisadores conseguiram quantificar com sucesso o "zumbido" vibracional terrestre. A cada 30 segundos, com frequências entre 2,9 e 4,5 mHz, chega esse sussurro, imperceptível para o ouvido humano, porque o nosso limiar auditivo começa em torno de 20 hertz.
Quem sabe o que gostaria ou poderia nos dizer? Das ondas oceânicas às turbulências atmosféricas, foram sondadas todas as possibilidades, contudo, por enquanto, ainda não se conseguiu entender efetivamente qual seja a fonte desse fenômeno. Ao capturar o zumbido, os cientistas deram o primeiro passo nessa direção. "O zumbido da Terra pode ser usado para estudar o seu interior profundo", explicam os autores. Analisando o som do planeta, os cientistas poderiam um dia entender o que realmente está acontecendo abaixo da superfície, talvez até mesmo criar um mapa detalhado. Compreender a origem da voz da Terra poderia nos ajudar a compreender melhor a essência do nosso planeta.