24 Novembro 2017
Por Cival Einstein
É incrível a ânsia das pessoas em atacar o Pablo Ortellado. Não o conheço pessoalmente, mal e mal troquei algumas mensagens, mas respeito profundamente o esforço de tapar o nariz que realiza e com isso nos permite ver um pouco o que se passa do outro lado. Não sei que tipo de sintoma essa raiva transparece, como se aquele que ousa realizar esse tipo de análise predominantemente descritiva fosse a razão do colapso e isolamento progressivo a que vai se submetendo parte do campo da esquerda. Desprezar a pesquisa alheia em um momento tão instável da política, aproveitando para fazer proselitismo da velha superioridade moral, é estar brincando com fogo numa era em que o pior nos espreita como possibilidade. O orgulho do heroi derrotado vale menos que a possibilidade de efetivamente encontrar uma tendência na realidade que nos permita desfazer, concretamente, o risco que se avizinha.
Quem sabe uma outra atitude um pouco mais falibilista e camarada não seria melhor para compor o que precisa ser composto no próximo ano?
O pensamento não tem um lado, tem muitos. A multidimensionalidade é justamente o que o caracteriza: capacidade de ir e vir e atravessar múltiplos pontos de vista sem estar proibido de preferir um deles. Caberia ao crítico no mínimo pesquisar os posicionamentos do acusado antes de iniciar o processo e perceber que, longe de ser "isento", há posições bem claras e curiosamente idênticas, na maioria, às do próprio acusador, embora a estratégia seja outra que não reforçar aquilo que o acusado entende como simplesmente caduco.
Leio na France Presse: "Finlândia cria pão feito com grilos como solução para fome mundial".
Cada pão contém 70 insetos.
A ONU já lançara, em 2013, um programa para estimular o consumo de insetos. Pois os "insumos baratos e ecológicos" poderiam alimentar até 9 bilhões de pessoas.
Sim, há lugares onde as pessoas comem insetos. Se elas gostam, que comam.
Agora, numa escala planetária isso significa um escárnio.
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À parte minha desconfiança em relação à eficácia da iniciativa das padarias finlandesas (por uma questão, digamos, de circulação), ainda teríamos a ONU.
Mas encanei mesmo com este trecho da notícia no UOL: "Solução para fome mundial".
Ora, ora.
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A gloriosa elite econômica rouba terras (já que se está falando de grilos, né), expulsa as pessoas do campo, concentra renda, explora os trabalhadores, mata indígenas, desrespeita os descendentes de escravos, concentra mais um pouco de renda, promove especulação imobiliária, encaixota os trabalhadores (empregados ou desempregados) em locais insalubres, mata as pessoas de poluição, depressão, concentra ainda mais a renda, violenta os povos do Sul, os antigos colonizados (isto quando não mantém as colônias, em pleno século 21), promove genocídio da juventude pobre, trafica órgãos, trafica sexo, aumenta ainda mais a concentração de renda, mutila, mata, constrói uma imprensa cínica que naturaliza todas essas abominações, retrata empresários predadores e fazendeiros gulosos como se fossem bons homens, rouba a renda, assalta os cofres públicos, promove uma ciranda financeira que joga países e povos inteiros nas cordas, destroçados, massacrados, diariamente injustiçados, reprimidos, come a renda, engole a renda, assassina a reforma agrária, esburaca terras produtivas, desmata, ignora a existência de camponeses, acaba com biomas, importuna o clima, gourmetiza os agrotóxicos, dizima as sementes...
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... e aí serão uns grilos fritinhos e quentinhos (eventualmente embalados em bolos de trigo) a solução para a fome mundial?
Camilo Santana foi visitar o Papa no Vaticano. Devia perguntar o que Francisco acha de implantar refinaria #LaudatoSí
Essa é uma empresa de robôs militares. Podem ficar assustados.
Mas, lembrem-se, a tecnologia bélica sempre foi, depois, repassada ao uso civil. Aí, vocês devem ficar muito mais assustados, porque isso aí em uma rede neural/machine learning("máquina que aprende") é o fim do trabalho como conhecemos.