22 Setembro 2017
O Papa Francisco pediu que os bispos da Bolívia guiem fielmente os seus rebanhos, enquanto grupos de separação formados por ex-padres e seminaristas ganham espaço no país.
A reportagem é de Junno Arocho Esteves, publicada no sítio Catholic News Service, 19-09-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“São grupos cismáticos que surgiram dentro da Igreja e não estão em comunhão com o papa ou com os bispos. Claramente, é um desafio. O papa reiterou que é um problema que devemos enfrentar”, disse o arcebispo Oscar Aparicio Cespedes, de Cochabamba.
O arcebispo Aparicio, vice-presidente da Conferência Episcopal Boliviana, disse que os 31 bispos que estão fazendo suas visitas “ad limina” ao Vaticano passaram mais de duas horas conversando com o Papa Francisco no dia 18 de setembro.
As visitas “ad limina apostolorum” – ao limiar dos apóstolos – são uma combinação de peregrinação aos túmulos dos santos Pedro e Paulo, e encontros com os principais escritórios vaticanos para trocar informações, intuições e ideias.
Os grupos problemáticos na Bolívia, também conhecidos como “Igrejas paralelas”, são compostos por padres que foram suspensos do seu ministério e “seminaristas que reivindicaram autonomia e distância da Igreja”, disse o arcebispo.
Eles estão conectados a “outras realidades semelhantes” no Brasil, particularmente a Igreja Católica Apostólica Brasileira, assim como a Igreja Católica Apostólica Nacional nos Estados Unidos.
A Igreja Católica Apostólica Brasileira foi criada em 1945 pelo ex-bispo Carlos Duarte Costa, que se opôs à postura da Igreja Católica Romana sobre a infalibilidade papal, o celibato sacerdotal, o divórcio e permitiu que os padres tivessem uma profissão civil ou militar.
Depois de estabelecer a Igreja Católica Apostólica, o bispo Duarte foi excomungado pelo Papa Pio XII, em 1946.
Alguns membros do grupo cismático passaram a formar outras Igrejas Católicas independentes nos Estados Unidos, Europa e América Latina, disse o arcebispo Aparicio.
As Igrejas paralelas na Bolívia, acrescentou, apareceram há seis anos, com muito pouco sucesso inicial. No entanto, os grupos ganharam força “durante o último ano e meio”.
“Recentemente, há cerca de dois ou três meses, elas começaram a anunciar publicamente que não estão em comunhão com o papa e com os bispos, e que são um grupo separado, embora se chamem de católicos”, disse o bispo Aparicio.
Mesmo assim, disse o arcebispo boliviano, os grupos dizem às pessoas que “são católicos verdadeiros e autênticos em comparação com os católicos romanos”.
O arcebispo Aparicio disse ao CNS que o Papa Francisco convidou os bispos a “esclarecer, ajudar e orientar” os fiéis, para que eles não sejam enganados, especialmente por ex-membros do clero que “muitas vezes se apresentam como católicos”.
Os bispos, disse, puderam “falar livremente” ao papa e “expressar os nossos desafios e problemas, e ouvir muito encorajamento para seguir em frente no nosso serviço pastoral”.
“Como latino-americanos, nós nos entendemos muito bem”, disse o arcebispo Aparicio. “Há momentos em que o papa conta uma piada, ou fala sobre um evento, ou relata uma anedota que ilumina a atmosfera e quebra as barreiras.”
Um dos bispos, lembrou, perguntou ao Papa Francisco se ele tinha uma mensagem para o povo da Bolívia.
“Ele resumiu a sua mensagem em três partes. Primeiro: ‘Eu os trago no meu coração, assim como quando visitei vocês. Eu ainda amo vocês e rezo por vocês’”, disse o arcebispo Aparicio ao CNS.
Em segundo lugar, “não tenham medo; sigam em frente sempre. Jesus Cristo é o nosso fundamento. E, por último, aos jovens, ele disse: ‘Nunca percam a alegria da sua juventude’”.