Matrimônio e família, segundo Francisco: menos dúvidas, mais teologia

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21 Setembro 2017

Bergoglio institui um novo instituto de estudos teológicos sobre a família para superar “práticas da pastoral e da missão que refletem formas e modelos do passado”. Isso servirá para aplicar melhor a Amoris laetitia, para além das polêmicas nascidas depois dos dois Sínodos.

A reportagem é de Alberto Bobbio, publicada por Famiglia Cristiana, 19-09-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Sobre o matrimônio e a família, é preciso repensar tudo a partir de uma nova elaboração teológica, e não é possível mais se limitar a ajustes pastorais mais ou menos precários. O Papa Francisco já havia explicado isso na Amoris laetitia, mas, evidentemente, os novos caminhos que Bergoglio havia indicado no texto elaborado com base nas reflexões de nada menos do que dois Sínodos dedicados à família custam a serem percorridos.

Assim, com um motu proprio intitulado Summa familiae cura, isto é, o máximo cuidado pela família, ele decidiu abolir o Pontifício Instituto João Paulo II para a Família e instituir o “Pontifício Instituto Teológico João Paulo II para as Ciências do Matrimônio e da Família”, que deverá elaborar novas linhas teológicas, com base em um sistema jurídico diferente, em consonância com o que o papa escreveu na Amoris laetitia.

Na verdade, o motu proprio é uma carta pastoral na qual o papa escreve que a situação atual “não nos permite nos limitar a práticas da pastoral e da missão que refletem formas e modelos do passado”. Ele acrescenta que é preciso “uma abordagem analítica e diversificada”, e olhar “com sábio realismo para a realidade da família hoje, em toda a sua complexidade, nas suas luzes e nas suas sombras”. Portanto, é preciso explorar caminhos novos também do ponto de vista da teologia.

O antigo Instituto João Paulo II para a Família não tinha essa tarefa. Ele nascera em tempos nos quais a crise da família e os novos desafios abertos na sociedade à instituição do matrimônio não eram tão fortes e parecia suficiente ajustar um pouco as práticas pastorais.

Uma análise que indicava uma necessária expansão da sua reflexão havia sido feita em um seminário a portas fechadas entre os dois Sínodos sobre a família, organizado por Dom Vicenzo Paglia e coordenado pelo teólogo Pierangelo Sequeri, no qual haviam sido antecipadas muitas reflexões presentes, depois, na Amoris laetitia.

As atas do seminário foram publicadas pela Livraria Editora Vaticana. Sequeri, no ano passado, em meados de agosto, havia sido nomeado para a cúpula do Instituto João Paulo II para a Família e, a partir de dentro, pôde se dar conta dos limites de ação e de elaboração, especialmente em relação aos novos desafios indicados pela Amoris laetitia.

Eis a razão da mudança de ritmo mais orientado para a teologia que o papa indicou no motu proprio. A decisão de Bergoglio também é uma resposta às “dubia” levantadas pelos quatro cardeais críticos do texto pontifício, Brandmüller, Burke, Caffarra e Meisner, os dois últimos recentemente falecidos. Eles levantavam uma série de questões de ordem mais teológica do que pastoral, e não só limitadas ao problema da comunhão aos divorciados em segunda união.

Em alguns setores da Igreja, há resistências e algum desconforto acerca da Amoris laetitia. A decisão do papa de confiar a uma nova instituição a elaboração de uma teologia do matrimônio e da família que possa dialogar melhor com as outras ciências humanas e com uma cultura antropológica que está mudando em todos os temas da vida não significa que Bergoglio queira uma mudança da doutrina, mas, ao contrário, ele quer entender como é possível permanecer mais fiel à doutrina em um mundo que muda.

E explica isso no texto do motu proprio: “Devemos ser intérpretes conscientes e apaixonados da sabedoria da fé em um contexto em que os indivíduos são menos sustentados do que no passado pelas estruturas sociais na sua vida afetiva e familiar”. É por isso que não adiantam respostas simples com um “sim” ou um “não”, como queriam os cardeais das “dubia”.

O novo instituto terá uma natureza decisivamente acadêmica. O papa estabeleceu que ele deverá trabalhar em estreito contato com o novo dicastério, recentemente constituído, para os Leigos e a Família, com o da Educação Católica e com a Pontifícia Academia para a Vida, e cooperar com a Pontifícia Universidade Lateranense.

A sua missão, enfatiza o papa no texto, será “científica” e “eclesial”, ampliada a toda a cultura da vida, incluindo o cuidado do ambiente. O artigo 2 do motu proprio diz: “O novo instituto constituirá, no âmbito das instituições pontifícias, um centro acadêmico de referência, a serviço da missão da Igreja universal, no campo das ciências que se referem ao matrimônio e à família e aos temas conectados com a fundamental aliança do homem e da mulher para o cuidado da geração e da criação”.

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