"Eu não temo as bruxas, mas as fofocas. Mesmo aquelas do Vaticano"

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15 Março 2017

Acima de tudo assusta-o a maldade das pessoas. Além das fofocas. Mesmo aquelas da Cúria Romana. Não as bruxas, que são apenas "uma mentira". Na tarde de 12 de março de 2017, o Papa Francisco fez uma visita pastoral à paróquia de Santa Madalena de Canossa, nos arredores de Roma.

A reportagem é de Domenico Agasso Jr., publicada por La Stampa, 12-03-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.

Em sua chegada, que é a décima quarta visita a dioceses romanas, o Papa encontrou-se com crianças e adolescentes do catecismo. Depois, o Bispo de Roma cumprimentou os idosos e os doentes, os casais que batizaram seus filhos em 2016 e os agentes pastorais. Por fim, confessou alguns penitentes.

Posteriormente, ele celebrou a missa na igreja paroquial.

Entre os aplausos dos fiéis, na véspera do quarto aniversário de seu pontificado, o Papa foi recebido pelo Vigário de Roma, Cardeal Agostino Vallini. A multidão cumprimentou-o calorosamente e o papa pousou também para muitos selfies. Em seguida, ele começou a responder - "de improviso" - às crianças da diocese: "Quando Sara me perguntou ‘do que você tem medo?’, ela logo emendou: ‘Eu tenho medo das bruxas’. Mas as bruxas não existem e não são assustadoras. No máximo sabem fazer três ou quatro coisas (rituais de magia, etc.) mas isso não passa de bobagens. As bruxas não têm nenhum poder. São uma mentira". Ao contrário, ele continuou, "assusta-me quando uma pessoa é má. A maldade das pessoas me assusta. Todos nós temos a semente da maldade dentro de nós, mas quando uma pessoa escolhe ser má, assusta-me porque pode fazer muito mal, na família, no trabalho, e mesmo no Vaticano, quando têm mexericos".

O Papa continuou, traçando um paralelo entre falar mal dos outros e o terrorismo, "Vocês já ouviram falar na televisão o que os terroristas fazem? Jogam uma bomba e fogem. Fofoca é assim. Jogar uma bomba e fugir. Destrói tudo. E, especialmente, o seu coração. Se é capaz de lançar a bomba, o seu coração fica corrompido: nunca faça fofocas. Morda a língua antes de dizê-las. Vai doer em você, mas não vai machucar o outro. Assusta a capacidade de destruição que tem o falar mal dos outros. Isso é ser bruxa, isso é ser terrorista".

Então, falando de outro "mau uso" da palavra: "Os palavrões não são bonitos, mas as blasfêmias são mais feias ainda, nunca fale uma blasfêmia", recomendou.

Francisco acrescentou: quando "vocês virem às vezes seus pais discutirem, porque isso é normal, você sabem o que devem fazer depois? Fazer as pazes e vocês mesmos digam a seus pais, se brigarem façam as pazes antes do final do dia".

O pontífice também falou de seus melhores momentos, lembrando quando era criança e ia para o estádio com seu pai aos domingos: "Não havia problemas nos estádios. Depois do almoço, você poderia ir para o estádio e depois voltar".

Outro "momento bom é encontrar-se com os amigos. Antes de vir para Roma, eu tinha um grupo de dez amigos e a gente gostava de fazer passeios. Tínhamos terminado o colégio juntos. Cada um ia com a sua família". Para o Papa Bergoglio também é bom "quando eu posso rezar em silêncio ou ler a Palavra de Deus".

O pontífice perguntou às crianças: "E vocês, têm bons momentos?"; ele recebeu outra pergunta: "Você gosta de se assistir na TV?". A resposta de Jorge Mario Bergoglio foi desarmadora: "A TV deixa-me feio. Muda a cara. Você não se vê como você é. É bobagem perder tempo olhando-se na TV".

Outra questão levantada pelos meninos: "Você está feliz em ser o Papa ou você teria preferido ser um simples padre em uma pequena paróquia?". Aqui a resposta papal: "Você não estuda para ser um Papa... Nem você paga para se tornar Papa. Se você tem um monte de dinheiro e o dá aos cardeais, eles vão te fazer Papa? Então, se não se estuda e não se paga, quem te faz Papa? Deus". Francisco repetiu que aquele que é escolhido papa é "o que Deus quer" e para explicar a força do amor de Jesus Cristo, que é "o primeiro a aproximar-se" também lembrou como o primeiro papa da história, Pedro, tivesse negado Jesus; “foi um pecado muito feio, feio, e este pecador foi feito Papa, Jesus sempre escolhe quem ele quer e eu também fui escolhido para fazer esse trabalho".

Portanto, "eu gosto de ser Papa e eu gostava quando era pároco e reitor, ensinava a catequese e eu sempre gostei muito de ser um sacerdote. O que é mais bonito? O que Deus quer, o que o Senhor te pede, isso é lindo". Porque "quando o Senhor te dá uma tarefa, seja em uma paróquia, em uma diocese ou sendo Papa, o que Ele pede? Amor, fazer uma comunidade de amor em que todos se queiram bem". E isso "deve ser feito por todos. A paz começa na família e com os colegas. O que você deve fazer se você fica com raiva? Fazer as pazes e continuar sua caminhada".

Enquanto "você se aproximar de Jesus - falou Francisco respondendo a outra pergunta - percebe que Ele aproximou-se antes, Ele sempre dá o primeiro passo. Ele vai falar ao seu coração e se você não quiser ouvir, ele fica. Espera por você sempre. Nós nos aproximamos, mas depois descobrimos que ele já estava lá esperando. Sempre lá. E se você fez algo ruim, ele lhe afasta? Não...

Perdoa se estiver arrependido. Jesus sempre se aproxima primeiro e está sempre conosco em nossos corações. Não nos abandona nos momentos bons e, nos maus momentos, consola-nos”.

O Papa, em seguida, abordou o uso de smartphones: o diálogo com o celular "é virtual, líquido, não é concreto" e não nos permite 'o apostolado de ouvido’ de que hoje tanto necessitamos, já que "a falta de escuta é uma das piores doenças da atualidade".

Sugeriu imaginar esta cena: "Na mesa, um pai, uma mãe, um menino e uma menina, cada um com seu celular, todo falam com outros, mas não dialogam entre si, e isso é um problema. Então eu digo a vocês, jovens, como podemos começar? Desbloqueando os ouvidos. Por exemplo, quando você vai visitar um doente, primeiro fique calado, dê um abraço, um afago, depois faça uma pergunta e deixe que a pessoa fale, ela precisa desabafar, ou talvez não falar nada, mas ter alguém por perto".

Em primeiro lugar "está o coração, e apenas em segundo a palavra". "Dizem que nós, sacerdotes ‘mandamos recados’, então aqui vai um para as crianças, para que os adultos aprendam".

Em sua homilia, Francisco declarou, voltando ao tema da transfiguração, também abordado no Ângelus na mesma manhã: "Estamos acostumados a falar dos pecados alheios, é uma coisa feia; em vez falar sobre o pecado dos outros, não digo assumirmo-nos como pecado (como fez Cristo, ao tomar sobre si o pecado do mundo), porque não podemos, mas, pelo menos, devemos olhar para os nossos pecados em relação a Jesus, que se fez pecado". Comparou as duas "faces de Jesus", aquela "luminosa da transfiguração", e aquela da dor quando se "fez pecado". Jesus, "quando descia da montanha, ordenou aos seus discípulos para não falar dessa visão antes que ele tivesse ressuscitado dentre os mortos". Mas "o que ele quis dizer? Que, entre essa transfiguração tão bonita e a ressurreição haverá outra face de Jesus, haverá um rosto não tão agradável, haverá um rosto feio e desfigurado, torturado, desprezado, ensanguentado e coroado de espinhos, todo o corpo de Jesus será assim, como algo para separar as duas transfigurações, e no meio, estará o Jesus crucificado, a cruz. Nós temos que olhar para a cruz - convidou - o pai acolheu-o, ele aniquilou-se para nos salvar e, usando uma palavra bem forte, muito forte, talvez, uma das palavras mais fortes do Novo Testamento, usada por São Paulo, "se fez pecado", e pecado é uma ofensa a Deus, é um bofetão em Deus, é dizer a Deus: ‘você não me importa, eu prefiro isso’".

Jesus "humilhou-se e rebaixou-se para preparar os discípulos a não se escandalizarem ao vê-lo na cruz". Tudo isso “irá nos encorajar a avançar no caminho da vida cristã, nos encorajar a pedir perdão por nossos pecados, para não pecar muito e, especialmente, nos encorajar a confiar, porque se Ele se fez pecado está sempre disposto a nos perdoar, precisamos apenas pedir”.

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