03 Março 2017
Cerca de 2,5 milhões de moedas de euro serão emitidas pelo Estado da Cidade do Vaticano para o ano de 2017. Nos euros vaticanos, por vontade do papa, não haverá a sua efígie, mas sim o brasão papal. Paulo VI também fez isso nos últimos anos do seu pontificado. Encontramos Mauro Olivieri, diretor do Escritório Filatélico e Numismático do Estado da Cidade do Vaticano.
A reportagem é de Luca Collodi, publicada no sítio da Radio Vaticana, 02-03-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“O Vaticano tem suas próprias moedas de euro com a sua própria face nacional. Todos os anos, há uma emissão de moedas que circulam nos países da União Europeia e que, em parte, são confeccionadas e vendidas aos colecionadores.”
Há uma novidade: a partir de 2017, nas moedas do Estado da Cidade do Vaticano, não haverá a imagem do Papa Francisco...
Exato. O Santo Padre pediu para não aparecer mais nas moedas, nas medalhas em geral – então, com mais razão ainda, naquelas emitidas pelo seu Estado –, e nós fizemos todo o possível para contentá-lo. Conseguimos, com algumas dificuldades com as autoridades comunitárias, depois superadas, e, portanto, a cunhagem de 2017 sairá com brasão do papa.
Não é a primeira vez que um papa não é retratado nas moedas do Estado do Vaticano...
Isso aconteceu nos anos 1970, com Paulo VI, que, perto dos últimos anos do pontificado, pediu para não ser mais representado nas moedas. Na época, eram as liras vaticanas, tudo era mais simples, e ele foi atendido. Também naquele caso, nos últimos anos de pontificado, as moedas de Paulo VI apareceram com o brasão.
Como o Estado da Cidade do Vaticano se coordena com a União Europeia para cunhar as moedas?
O Vaticano é um dos chamados “micro-Estados” que têm acordos internacionais com a União Europeia, com a União monetária, como San Marino, o Principado de Mônaco, Andorra. Todos eles têm um acordo internacional próprio com as autoridades monetárias e cunham moedas de euro. O Vaticano foi um dos primeiros a selar esse acordo e, com base nesse tratado internacional, cunhamos moedas vaticanas com base em regras estabelecidas.
Moedas que circulam dentro do Estado vaticano, mas que alimentam o mercado do colecionismo em muitos países...
As moedas vaticanas estão entre as melhores do mundo – digo isso com grande satisfação e deixando a modéstia de lado – em nível qualitativo, de difusão e de colecionismo. São muito procuradas pelos colecionadores. Digamos que certamente estamos entre os países “top”, talvez precisamente no “topo”, no pódio, em suma.
Quais são as moedas vaticanas mais cotadas no mercado numismático?
No total, os primeiros anos do euro são aquelas séries que têm mais valor, falamos das moedas de 2002, 2003, 2004. Quanto ao colecionismo em geral, são muito procuradas as moedas de dois euros. É uma moeda circulante que vale na Europa para todos os efeitos. Duas temáticas diferentes são retratadas a cada ano. Elas são muito, muito procuradas. Particularmente a que hoje tem mais valor, a da Jornada Mundial da Juventude de 2005, em Colônia.
Às vezes, o noticiário fala de algumas tentativas de especulação financeira sobre o valor das moedas vaticanas. Um problema superado?
O Estado da Cidade do Vaticano cunha um número definido de moedas, já que o acordo internacional prevê uma montante anual de euros de cerca de 2,5 milhões de euros. Desse contingente, devemos conseguir produzir todas as nossas moedas de prata, ouro e circulante. O principal motivo da especulação, como nos últimos anos, ocorreu principalmente no início dos anos 2000, com a introdução do euro. O mercado das moedas de euro vaticanas se expandiu em nível nacional, italiano, e em nível europeu. De uma plateia de colecionadores italianos a uma plateia de colecionadores europeus. Isso levou a um enorme incremente do seu valor. Ao longo dos anos, adotamos uma política atenta de cunhagem, com tiragens dos produtos e a sua tipologia que nos permitem, hoje em dia, colocar no mercado, sem qualquer dificuldade, todas as nossas moedas e dar a essas moedas um bom valor no mercado secundário, sem os excessos dos anos iniciais. Portanto, um bom valor de mercado, mas sem loucuras.
Como são estudadas as emissões das moedas vaticanas?
Com muita atenção, eu devo dizer, por parte do Escritório Filatélico e Numismático do Governatorado do Estado Vaticano. Nas moedas, em princípio, damos a preferência ao Magistério do Santo Padre, buscando apontar, com as emissões anuais, os ensinamentos do papa e as bases sobre as quais eles se apoiam, como a Jornada Mundial da Juventude, o Dia Mundial da Paz, o centenário de Fátima neste ano de 2017, o 1.950º aniversário do martírio de São Pedro e São Paulo nas moedas de dois euros. Depois, as bases da fé, como as virtudes teologais, as virtudes cardeais, as basílicas pontifícias. Em suma, tentamos tocar um pouco todos os aspectos, a arquitetura, a história, a arte e, óbvia e principalmente, os aspectos religiosos, assim como os ensinamentos e as bases sobre as quais o Magistério do papa se apoia.