25 Janeiro 2017
Estar a serviço do Senhor não quer dizer que não se pode discutir com Deus. Podemos inclusive nos irritar com Ele. O importante é sermos sinceros, verdadeiros e não falsos, e ao final devemos dizer-lhe o próprio “Eis-me aqui”. A afirmação é do Papa Francisco e feita na homilia da manhã desta terça-feira, 24 de janeiro de 2017, na Capela da Casa Santa Marta.
A reportagem é de Domenico Agasso Jr e publicada por Vatican Insider, 24-01-2017. A tradução é de André Langer.
O Pontífice, segundo indicou a Rádio Vaticano, começou sua reflexão pela Carta aos Hebreus, leitura proposta pela liturgia do dia. Com suas palavras o Papa recordou que quando Jesus veio ao mundo, disse: “Não quiseste, nem gostaste dos sacrifícios, das oferendas ou dos holocaustos pelo pecado. Eis-me aqui, venho para fazer a tua vontade”. E explicou que esta palavra de Jesus encerra uma história concatenada de “sim”. Porque, como afirmou, “a história da salvação” é “uma história de sim”.
Depois de Adão – que se esconde porque tinha medo do Senhor –, Deus começa a chamar e a escutar a resposta daqueles homens e mulheres que dizem: “Eis-me aqui. Estou disposto. Estou disposta”. Desde o sim de Abraão, Moisés, Elias, Isaías e Jeremias até chegar ao grande ‘sim’ de Maria e ao último “eis-me aqui”, o de Jesus. “Uma história de ‘eis-me aqui’, mas não automáticos”, porque “o Senhor dialoga com aqueles que ele convida”.
“O Senhor sempre dialoga com aqueles que ele convida para percorrer este caminho e dizer sim. Ele tem muita paciência, muita paciência. Quando lemos o Livro de Jó, todos esses argumentos de Jó, que não entende, e suas respostas, e o Senhor que fala, o corrige … e no final, qual é o sim de Jó? ‘Ah, Senhor, Tu tens razão: eu te conhecia somente por ouvir falar; agora os meus olhos te viram’. O sim, quando existe a vontade, eh? A vida cristã é isto: um eis-me, um sim contínuo para fazer a vontade do Senhor. E um atrás do outro…. É bonito ler a Escritura, a Bíblia, buscando as respostas das pessoas ao Senhor, como respondiam, e encontrar estas respostas é tão bonito. ‘Eis-me, eu vim para fazer a Tua vontade’”.
A liturgia do dia nos exorta a refletir como vai o meu sim ao Senhor, disse o Pontífice. E acrescentou: “Eu vou me esconder, como Adão, para não responder? Ou quando o Senhor me chama, ao invés de dizer ‘eis-me’ ou ‘o que quer de mim?’, fujo, como Jonas, que não queria fazer o que o Senhor lhe pedia? Ou faço de conta de fazer a vontade do Senhor, mas somente externamente, como os doutores da Lei, os quais Jesus condena duramente? Faziam de conta: ‘Tudo bem … nada de perguntas: eu faço isso e nada mais’. Ou olho para o outro lado, como fizeram o levita e o sacerdote diante daquele pobre homem ferido, agredido pelos malfeitores, abandonado meio morto? Como é a minha resposta ao Senhor?”.
O Papa Bergoglio concluiu sua homilia dizendo que o Senhor nos chama todos os dias e nos convida a dizer o nosso sim – acrescentou –, mas podemos “discutir com Ele”.
“Ele gosta de discutir conosco. Alguém me diz: ‘Mas, Padre, quando rezo, muitas vezes fico bravo com o Senhor…’: mas também isso é oração! Ele gosta quando você fica bravo e diz claramente aquilo que sente, porque é Pai! Mas isso é também um eis-me … Ou me escondo? Ou fujo? Ou faço de conta? Ou olho para o outro lado? Cada um de nós pode responder: como é o meu sim ao Senhor, para fazer a Sua vontade na minha vida. Como é. Que o Espírito Santo nos dê a graça de encontrar a resposta”.