"A humanidade sempre buscou a Deus e quis estar com ele. Hoje somos tocados por uma realidade que nos envolve: Deus mesmo quis estar conosco. Deus não só não abandona o seu povo, mas se faz humano e vem habitar em seu meio, assim nos revelando o imenso amor que tem por toda humanidade."
A reflexão é de Soraia Dojas Melo Silva Carellos. Ela possui graduação em psicologia pela PUC Minas (1983) e mestrado em psicologia pela Universidade do Rio de Janeiro - UFRJ (2001). Atualmente é professora no curso de Psicologia da PUC Minas. É membro da Rede Celebra, coordenadora da Equipe de Liturgia na Paróquia Igreja de Santana Serra em Belo Horizonte, onde também participa de grupos de leitura orante da Palavra.
Primeira leitura: Is 52,7-10
Salmo: Sl 97(98),1.2-3ab.3cd-4.5-6 (R. 3cd)
Segunda leitra: Hb 1,1-6
Evangelho: Jo 1,1-18
É com alegria que celebramos o mistério da Encarnação: o momento da origem da nossa redenção. A aclamação ao Evangelho de hoje nos recorda este evento tão valioso “Despontou um santo dia para nós – Hoje grande luz brilhou na terra”. A humanidade sempre buscou a Deus e quis estar com ele. Hoje somos tocados por uma realidade que nos envolve: Deus mesmo quis estar conosco. Deus não só não abandona o seu povo, mas se faz humano e vem habitar em seu meio, assim nos revelando o imenso amor que tem por toda humanidade.
A liturgia de hoje, para nos ajudar a viver este mistério, nos brinda com um texto belíssimo, o prólogo do evangelista João. O prólogo é uma poesia, podemos dizer, que se trata de um hino e que traz uma súmula de tudo que é abordado no evangelho de João.
Jesus é chamado a Palavra. Palavra que desde sempre esteve junto de Deus, antes mesmo da criação. Palavra que é sabedoria e força criadora. Para o evangelista Jesus é a Palavra onde está a vida, que gera vida.
No versículo 14 temos o ponto alto do prólogo que diz assim “E a Palavra se fez carne e habitou entre nós. E nós contemplamos sua glória: glória do filho único do Pai, cheio de amor e fidelidade.” Jesus encarnou em nossa história. Ele é o verdadeiro templo onde encontramos Deus, se antes Moisés se reunia na tenda pra se comunicar com Deus, agora a tenda está entre nós. É uma novidade enorme, chegando a ser um escândalo. Deus se tornou visível na Palavra encarnada, como nos diz Bortolini. Por meio do humano Jesus, que está em conexão íntima com o Pai nós temos acesso a divindade e o caminho a seguir é o amor. Amor que supera a lei e que gera vida.
As leituras da liturgia hoje vão nos dar mais luz sobre o evangelho, tornando-o ainda mais significativo. Na primeira leitura (Is 52,7-10), trecho que faz parte do segundo Isaías, o profeta traz a esperança de tempos de paz, de resgate e de liberdade. E, com isto a certeza que Deus está presente no caminhar do seu povo. O reino de Deus chegará e todos verão a salvação. O clima é de alegria! Esta profecia encontra sua realização na pessoa de seu filho Jesus. Ao se tornar um de nós Jesus se torna o lugar do encontro com Deus. E a todos que quiserem reconhecê-lo Ele concede a liberdade e a paz ao alcance de todos os povos.
Na segunda leitura (Hb 1,1-6), da carta aos Hebreus nos traz a encarnação de verbo, a vinda de Jesus como o ápice da revelação de Deus com a humanidade. A presença de Deus sempre foi constante. Comunicou-se com seu povo, primeiro através dos profetas e agora por meio de seu filho, ele se dá a conhecer por completo. Como está escrito em João “Quem me viu, viu o Pai” (Jo 14,9). Como diz a própria carta “Este é o esplendor da glória do Pai, a expressão do seu ser.” (Hb 1, 3) Jesus é o início de um novo tempo, é a palavra que sustenta o universo. Jesus, ao assumir a nossa humanidade deu-nos a possibilidade de participar da divindade. Ele é a Palavra a ser seguida por todos os seus discípulos e discípulas.
O que significa o Natal para nós, meus irmãos e irmãs? Vivermos hoje o mistério da encarnação é olharmos pra aquela criança na manjedoura e nos perguntarmos se queremos conhecê-lo.
Vivemos em um mundo de violência, desigualdades, injustiças que podem ofuscar nossa visão. Sabemos que a comunicação da vida se dá em de Jesus. Em toda sua vida experimentou o confronto e conflito com as trevas – manifestação da morte e, nestes contextos Ele trouxe a vida. Hoje somos convidados a olhar para luz. Ela existe. Andamos todos e todas muitas vezes desesperançados, mas ao escutarmos hoje a boa nova da proximidade do Reino temos a oportunidade de renovar nosso caminho, de sentirmos a ternura de Deus por nós.
Quando Jesus torna-se um de nós Ele nos abre para a capacidade de tornarmos filhos e filhas e de abraçarmos com esperança o Reino que Deus preparou para nós. Reino de vida, justiça e paz. Ele é palavra que nos ensina, nos orienta revelando o que Deus tem para nós. Ele é doação e amor que supera as trevas e a morte.
A encarnação do verbo é a mola propulsora de atitudes novas e de renovação da humanidade. Ela nos traz um caminho onde não ficaremos alheios à vida, nos dá uma saída para não termos uma experiência religiosa sem concretude, pois não nos deixa indiferentes e sem capacidade de nos posicionar, nos coloca em relação com os irmãos e irmãs, e toda a criação.
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