Solenidade do Natal do Senhor. O infinito amor de Deus por nós. Reflexão de Soraia Dojas Melo Silva Carellos

19 Dezembro 2025

"A humanidade sempre buscou a Deus e quis estar com ele. Hoje somos tocados por uma realidade que nos envolve: Deus mesmo quis estar conosco. Deus não só não abandona o seu povo, mas se faz humano e vem habitar em seu meio, assim nos revelando o imenso amor que tem por toda humanidade."

A reflexão é de Soraia Dojas Melo Silva Carellos. Ela possui graduação em psicologia pela PUC Minas (1983) e mestrado em psicologia pela Universidade do Rio de Janeiro - UFRJ (2001). Atualmente é professora no curso de Psicologia da PUC Minas. É membro da Rede Celebra, coordenadora da Equipe de Liturgia na Paróquia Igreja de Santana Serra em Belo Horizonte, onde também participa de grupos de leitura orante da Palavra.

Leituras do do dia

Primeira leitura: Is 52,7-10
Salmo: Sl 97(98),1.2-3ab.3cd-4.5-6 (R. 3cd)
Segunda leitra: Hb 1,1-6
Evangelho: Jo 1,1-18

Eis a reflexão.

É com alegria que celebramos o mistério da Encarnação: o momento da origem da nossa redenção. A aclamação ao Evangelho de hoje nos recorda este evento tão valioso “Despontou um santo dia para nós – Hoje grande luz brilhou na terra”. A humanidade sempre buscou a Deus e quis estar com ele. Hoje somos tocados por uma realidade que nos envolve: Deus mesmo quis estar conosco. Deus não só não abandona o seu povo, mas se faz humano e vem habitar em seu meio, assim nos revelando o imenso amor que tem por toda humanidade.

A liturgia de hoje, para nos ajudar a viver este mistério, nos brinda com um texto belíssimo, o prólogo do evangelista João. O prólogo é uma poesia, podemos dizer, que se trata de um hino e que traz uma súmula de tudo que é abordado no evangelho de João.

Jesus é chamado a Palavra. Palavra que desde sempre esteve junto de Deus, antes mesmo da criação. Palavra que é sabedoria e força criadora. Para o evangelista Jesus é a Palavra onde está a vida, que gera vida.

No versículo 14 temos o ponto alto do prólogo que diz assim “E a Palavra se fez carne e habitou entre nós. E nós contemplamos sua glória: glória do filho único do Pai, cheio de amor e fidelidade.” Jesus encarnou em nossa história. Ele é o verdadeiro templo onde encontramos Deus, se antes Moisés se reunia na tenda pra se comunicar com Deus, agora a tenda está entre nós. É uma novidade enorme, chegando a ser um escândalo. Deus se tornou visível na Palavra encarnada, como nos diz Bortolini. Por meio do humano Jesus, que está em conexão íntima com o Pai nós temos acesso a divindade e o caminho a seguir é o amor. Amor que supera a lei e que gera vida.

As leituras da liturgia hoje vão nos dar mais luz sobre o evangelho, tornando-o ainda mais significativo. Na primeira leitura (Is 52,7-10), trecho que faz parte do segundo Isaías, o profeta traz a esperança de tempos de paz, de resgate e de liberdade. E, com isto a certeza que Deus está presente no caminhar do seu povo. O reino de Deus chegará e todos verão a salvação. O clima é de alegria! Esta profecia encontra sua realização na pessoa de seu filho Jesus. Ao se tornar um de nós Jesus se torna o lugar do encontro com Deus. E a todos que quiserem reconhecê-lo Ele concede a liberdade e a paz ao alcance de todos os povos.

Na segunda leitura (Hb 1,1-6), da carta aos Hebreus nos traz a encarnação de verbo, a vinda de Jesus como o ápice da revelação de Deus com a humanidade. A presença de Deus sempre foi constante. Comunicou-se com seu povo, primeiro através dos profetas e agora por meio de seu filho, ele se dá a conhecer por completo. Como está escrito em João “Quem me viu, viu o Pai” (Jo 14,9). Como diz a própria carta “Este é o esplendor da glória do Pai, a expressão do seu ser.” (Hb 1, 3) Jesus é o início de um novo tempo, é a palavra que sustenta o universo. Jesus, ao assumir a nossa humanidade deu-nos a possibilidade de participar da divindade. Ele é a Palavra a ser seguida por todos os seus discípulos e discípulas.

O que significa o Natal para nós, meus irmãos e irmãs? Vivermos hoje o mistério da encarnação é olharmos pra aquela criança na manjedoura e nos perguntarmos se queremos conhecê-lo.

Vivemos em um mundo de violência, desigualdades, injustiças que podem ofuscar nossa visão. Sabemos que a comunicação da vida se dá em de Jesus. Em toda sua vida experimentou o confronto e conflito com as trevas – manifestação da morte e, nestes contextos Ele trouxe a vida. Hoje somos convidados a olhar para luz. Ela existe. Andamos todos e todas muitas vezes desesperançados, mas ao escutarmos hoje a boa nova da proximidade do Reino temos a oportunidade de renovar nosso caminho, de sentirmos a ternura de Deus por nós.

Quando Jesus torna-se um de nós Ele nos abre para a capacidade de tornarmos filhos e filhas e de abraçarmos com esperança o Reino que Deus preparou para nós. Reino de vida, justiça e paz. Ele é palavra que nos ensina, nos orienta revelando o que Deus tem para nós. Ele é doação e amor que supera as trevas e a morte.

A encarnação do verbo é a mola propulsora de atitudes novas e de renovação da humanidade. Ela nos traz um caminho onde não ficaremos alheios à vida, nos dá uma saída para não termos uma experiência religiosa sem concretude, pois não nos deixa indiferentes e sem capacidade de nos posicionar, nos coloca em relação com os irmãos e irmãs, e toda a criação.

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