2º Domingo do Tempo Comum – Ano A – Reconhecer e testemunhar Jesus como Filho de Deus

15 Janeiro 2023

"O Evangelho deste domingo, que se encontra no primeiro capítulo do Evangelho de João, nos apresenta de forma evidente duas respostas à pergunta quem é Jesus e dentro destas respostas também podemos encontrar qual é a vocação de Jesus."

A reflexão é de Rosa Maria Ramalho, fsp, religiosa da Congregação das Irmãs Paulinas. Ela é bacharela em Teologia pelo Instituto São Paulo de Estudos Superiores – ITESP e licenciada em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUC/PR, mestre em Teologia pela Faculdades EST, São Leopoldo/RS e mestre em Ciências da educação/catequética pela Universidade Pontifícia Salesiana - UPS, Roma.

 

 

Leituras do dia

1ª leitura: Is 49,3.5-6
Salmo: Sl 39(40),2.4ab.7-8a.8b-9.10 (R. 8a.9a)
2ª leitura: 1Cor 1,1-3
Evangelho: Jo 1,29-34

 

Eis a reflexão

 

O tema que perpassa a Liturgia da Palavra deste segundo domingo do Tempo Comum, do Ano A, é o tema da vocação. Nas duas leituras, no Evangelho e também no Salmo 39(40) encontramos uma chave de leitura para refletirmos hoje a nossa vocação cristã.

Na leitura do livro do Profeta Isaías (Is 49,3.5-6), o autor do texto que nos é conhecido como Deutero-Isaías é um profeta do tempo do exílio, que desempenhou o seu ministério na Babilónia, entre os exilados. Nesta parte do seu segundo cântico do Servo Sofredor, o Servo é explicitamente identificado com Israel, isto é, Povo de Deus, chamado a ser testemunha do Senhor naquele contexto de sofrimento, opressão e fragilidade.

Nesta leitura, vemos claramente a consciência do Servo a respeito da sua eleição, isto é, ele que foi preparado desde o nascimento para ser servo do Senhor (v. 5). O chamado, portanto, é iniciativa é de Deus. Ele é quem elege e envia. E este envio assume uma dimensão maior, como vemos no versículo 6: “Não basta seres meu Servo para restaurar as tribos de Jacó e reconduzir os remanescentes de Israel: eu te farei luz das nações, para que minha salvação chegue até aos confins da terra”. (Is 49,6) Gosto muito desta imagem da luz relacionada à vocação, sabendo que a luz não se acende por si própria e que uma vela acesa é capaz de acender milhares de outras velas, enquanto que uma vela apagada não é capaz de acender nenhuma.

O Evangelho deste domingo (Jo 1,29-34) nos apresenta de forma evidente duas respostas à pergunta quem é Jesus e dentro destas respostas também podemos encontrar qual é a vocação de Jesus.

Jesus é “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (v. 29). A imagem do Cordeiro que pode ser associada tanto ao cordeiro pascal (cf. Ex 12, 1-4) quanto à figura do Servo Sofredor (cf. Is 53, 7.2), nos remete ao sacrifício redentor de Jesus, Cordeiro imolado para a vida do mundo. O “pecado” que aparece no singular e não no plural, pode nos remeter à recusa da proposta de vida oferecida por Deus.

Por outro lado, Jesus é o “Filho de Deus” (v. 34) ao qual João afirma ter visto “o Espírito descer, como uma pomba do céu, e permanecer sobre ele” (v. 32). Àquele, portanto, sobre o qual desce o Espírito é o Cordeiro e o Filho de Deus, o qual tem a missão de batizar com o Espírito Santo (v. 33).

Um outro elemento desta perícope joanina que convém ressaltarmos, está no fato de João repetir por duas vezes que “não o conhecia” (vv. 31 e 33). Não conhecer já é o primeiro passo para se dispor a conhecer, para suscitar a curiosidade de ir ao encontro e reconhecer Jesus como o Filho de Deus.

Na segunda leitura (1Cor 1,1-3) nos confrontamos com um outro vocacionado, Paulo: “chamado a ser apóstolo de Jesus Cristo, por vontade de Deus” (v. 1). Também Paulo tem a convicção de que o seu chamado é iniciativa gratuita de Deus e, portanto, graça. Com esta certeza, o apóstolo quer dizer claro para a comunidade de Corinto que a sua vocação não é de iniciativa própria, mas “vontade de Deus”.

Também a comunidade recebe um chamado especial à santidade. Santidade esta que pode ser compreendida como a acolhida da proposta libertadora de Jesus, isto é, a vivência em plenitude do projeto de Deus e não somente ser associada com práticas de sacrifícios e oração. “Sede santos, porque Eu sou santo” (Lv 11, 45; 1 Pd 1, 16), este chamado à santidade também não é exclusivo, pois todos somos chamados a acolher a proposta de vida de Jesus e viver de acordo com os valores do Reino, participando da vida bem-aventurada de Deus.

Assim nos recorda o papa Francisco em Gaudete et exsultate, número 19: “Para um cristão, não é possível imaginar a própria missão na terra, sem a conceber como um caminho de santidade, porque «esta é, na verdade, a vontade de Deus: a [nossa] santificação» (1 Ts 4, 3). Cada santo é uma missão; é um projeto do Pai que visa refletir e encarnar, num momento determinado da história, um aspeto do Evangelho”.

Como Igreja do Brasil, estamos celebrando o terceiro Ano Vocacional, cujo tema é “Vocação: graça e missão” e nada melhor do que nos deixarmos iluminar pela Palavra de Deus para aprofundarmos o chamado gratuito que ele nos faz para sermos em seu nome “luzes” de vida e de esperança para tantos que vivem na escuridão da exclusão e do abandono.

Concluo com o Salmo 39(40) que no seu refrão nos remete, àquilo que compete a cada uma e a cada um de nós em relação ao chamado que Deus nos faz: disponibilidade e prazer ao dar a nossa resposta.

E então eu vos disse: “Eis que venho!”
Sobre mim está escrito no livro:
“Com prazer faço a vossa vontade,
guardo em meu coração vossa lei!”

Boas-novas de vossa justiça
anunciei numa grande assembleia;
vós sabeis: não fechei os meus lábios!

 

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