"Nós ouvimos falar de Jesus provavelmente desde a nossa infância, conhecemos as Escrituras, mas será que somos capazes de reconhecê-lo como um de nós, como nosso irmão na humildade do presépio? Será que somos dispost@s a oferecer nossas vidas e o que temos de melhor, e sobretudo de “voltar por outro caminho”, de nos convertermos de verdade após esta experiência natalina?
Hoje vamos nos colocar, simplesmente junto aos reis magos diante da pessoa de Jesus, pedindo-lhe que ocupe realmente o centro da nossa vida, o essencial da fé cristã, a nossa razão maior de viver e de amar."
A reflexão do texto a seguir é de Irmã Annette Havenne, sm. Ela é religiosa da Congregação das Irmãs de Santa Maria. Possui graduação em psicologia e em teologia pastoral. Vive há mais de 40 anos no Nordeste e reside na periferia de Aracaju/SE. Integra a equipe de assessoria da Conferência dos Religiosos do Brasil – CRB e atua na da formação humana e espiritual de comunidades religiosas e grupos de leigos. Continua residindo no Nordeste do Brasil, mas serve sua congregação como conselheira geral.
1ª leitura: Is 60,1-6
Salmo: Sl 71(72),1-2.7-8.10-11.12-13 (R. cf. 11)
2ª leitura: Ef 3,2-3a.5-6
Evangelho: Mt 2,1-12
A liturgia deste domingo da Epifania ou Manifestação do Senhor amplia o horizonte do Natal e coloca diante dos nossos olhos, mais uma vez, o sonho bom da fraternidade universal, da “Fratelli Tutti”, através de uma narrativa extraída do evangelho segundo Mateus.
Nesta cena representada em todos os presépios, sábios vindos do oriente chegam a Belém depois de uma longa e conturbada busca, adoram o menino-Deus e oferecem-lhe os seus presentes. Simbolicamente, os sábios ou magos são três, de raças diferentes e trazem ouro, mirra e incenso.
Mito, lenda ou fato real? Talvez seja melhor dizer: profecia concreta do que será toda a vida de Jesus e do seu apelo evangélico à fraternidade universal. No chamado evangelho da infância que é como a varanda do evangelho, já começamos a perceber como será a vida e missão do Filho. Ele vai despertar o desejo de “paz e bem” que habita nas profundezas de todo coração humano, independente da etnia, cultura ou religião. Mas sua pessoa e sua missão também provocarão reações de medo, hostilidade, violência, rejeição ou... indiferença!
O rei Herodes sente medo, teme perder o poder e manda desencadear uma matança, a matança dos santos inocentes, para eliminar um possível adversário.
Os chefes dos sacerdotes e doutores da lei, conhecedores das Escrituras e profecias indicam claramente o lugar do seu nascimento: em “Belém de Judá”, mas por incrível que pareça e apesar de ser “formados em bíblia”, não estão interessados nem em buscar nem em acolher o Messias. Ficam na leitura do Livro Sagrado!
Porém os sábios estrangeiros, em busca do sentido da vida, se deixam guiar por uma estrela e discernem na criança de Belém um sinal diferente, a presença da luz verdadeira. Eles prestam homenagem e oferecem presentes expressando sua descoberta: eis aqui um novo rosto do rei que eles procuravam, rei e Senhor de um jeito bem diferente dos nossos conceitos de realeza e divindade: na humildade de um recém-nascido pobre e nascendo no meio dos pobres!
Diante do Menino-Deus, qual é nossa atitude pessoal? A de Herodes, dos doutores da lei ou dos sábios vindo de longe?
Nós ouvimos falar de Jesus provavelmente desde a nossa infância, conhecemos as Escrituras, mas será que somos capazes de reconhecê-lo como um de nós, como nosso irmão na humildade do presépio? Será que somos dispost@s a oferecer nossas vidas e o que temos de melhor, e sobretudo de “voltar por outro caminho”, de nos convertermos de verdade após esta experiência natalina?
Hoje vamos nos colocar, simplesmente junto aos reis magos diante da pessoa de Jesus, pedindo-lhe que ocupe realmente o centro da nossa vida, o essencial da fé cristã, a nossa razão maior de viver e de amar.
Diante do presépio, peçamos hoje duas graças que na realidade são uma graça só:
- A graça de ter um coração ardente que acredita mais no símbolo da pequena estrela do que na escuridão toda da noite, um coração capaz de manter a esperança em meio ao caos e às dificuldades e desafios que encontramos na caminhada. Jesus é o Menino-esperança!
- E também a graça de ter pés a caminho, inventando novas trilhas de missão, depois da longa pandemia que tanto abalou nossa humanidade e nossas comunidades de fé. Uma nova evangelização se faz necessária. Ela começa aqui no presépio e nos convida descobrir Cristo vivo hoje, entre nós!
São Francisco, que segundo a tradição cristã, teria inventado a primeira representação do presépio numa noite de natal, o “natal do Greccio” já dizia a seus discípulos: “Tomem muito cuidado com a maneira que vocês vivem, pois para muita gente, será o único evangelho que eles terão oportunidade de ler durante a sua vida toda!”
Sim, peçamos um “coração ardente e pés a caminho”, segundo o lema do terceiro ano vocacional que estamos a começar no Brasil e que deve animar as nossas pastorais. Corações ardentes e pés a caminho para continuar a missão de Jesus e não apenas conhecimento das Escrituras. O que vale é o reconhecimento e a identificação atual de Jesus com pessoa dos pobres, dos migrantes, dos abandonados e excluídos, dos mais frágeis das nossas sociedades...
Eis a profecia em atos que se espera das nossas comunidades de vida e de fé, das nossas paroquias, de nós que nos reunimos para celebrar, em cada Eucaristia, o Menino-esperança para todas as nações.