24º domingo do tempo comum – Ano C – A lógica do amor de Deus através dos “defeitos de Jesus”

O Filho Pródigo - Rebrandt, desenho, 1642. Fonte: Commons Wikimedia

09 Setembro 2022

 

A reflexão é de Cristiane Rodrigues de Melo, fsp, membro da Congregação Pia Sociedade Filhas de São PauloIrmãs Paulinas. Ela é licenciada em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUC-PR (2005), bacharel em Teologia pela Universidade Católica de Pernambuco - UNICAP/PE (2015) e possui pós-graduação em Psicopedagogia pela UNOESC-SC (2016)

 

 

Leituras do dia

 

1ª leitura: Ex 32,7-11.13-14
Salmo: Sl 50(51),3-4.12-13.17.19 (R. Lc 15,18)
2ª leitura: 1Tm 1,12-17
Evangelho: Lc 15,1-32 (versão mais breve: 15,1-10)


Irmãos e Irmãs, Graça e Paz,

 

Estamos no 24º Domingo do Tempo Comum e os textos da liturgia conduzem a nossa reflexão para a lógica do amor de Deus.

 

A primeira leitura é tirada do capítulo 32 do Livro do Êxodo e se situa no contexto da aliança, quando Moisés subiu a montanha do Sinai para receber de Deus as tábuas da Lei (cf. Ex 31,18). Mas, como Moisés estava demorando, o povo reunido ao pé da montanha acaba se desviando e construindo um bezerro de ouro para adorar. Diante desta cena se dá um sério diálogo entre Deus – que quer deixar sua ira consumir o povo infiel –, e Moisés que intercede por este povo de cabeça dura (v. 9). As palavras de Moisés revelam que não são os méritos do povo que impedem o castigo, mas é o amor de Deus que é maior do que a sua vontade de castigar os desvios e infidelidades do povo. Deus nos ama infinita e incondicionalmente.

 

O Salmo 51 realça três características de Deus que aparecem já na primeira leitura: misericórdia, fidelidade e compaixão. E mostra que só confiando neste Deus amoroso é que aquele que crê pode rezar pedindo: “Ó Deus, cria em mim um coração puro e renova dentro de mim um espírito firme” (Sl 51,12).

 

E é este amor espantoso de Deus manifestado em Cristo Jesus que Paulo destaca na segunda leitura tirada da primeira carta de Timóteo, 1,12-17. Paulo, que é exemplo vivo desse amor que transforma o pecador em uma nova pessoa, recorda agradecido sua história vocacional e testemunha que seu ministério não foi graças aos seus próprios méritos, mas se deve unicamente à misericórdia de Deus. Por isso, seu coração transborda em um hino de louvor: “Ao rei dos séculos, incorruptível, invisível, ao único Deus, sejam dadas honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém!” (Vers. 17).

 

E, por fim, chegamos ao Evangelho desta liturgia, que é uma verdadeira catequese sobre o Deus misericordioso e fiel, no qual encontramos as chamadas “Parábolas da misericórdia”:

 

O contexto apresentado pelo evangelista Lucas se apresenta como uma defesa do comportamento de Jesus considerado escandaloso ao acolher e sentar-se à mesa com aqueles classificados pela sociedade como “pecadores públicos”, por exemplo, os cobradores de impostos. É essa crítica que vai provocar o discurso de Jesus sobre a atitude misericordiosa de Deus que inverte a lógica humana, manifestada nestas três parábolas.

 

Para a cultura judaica da época, sentar-se à mesa com alguém significava entrar em comunhão de vida e de destino, e as três parábolas dizem, de forma clara que Deus, na pessoa de Jesus, senta-se à nossa mesa; comunga da nossa vida e destino; e nos convida a partilhar de sua filiação divina. O Evangelho nos revela um Deus que ama e que vai em busca dos pecadores, dos excluídos, dos marginalizados, e que faz uma grande festa para celebrar o reencontro.

 

Para nos ajudar a entender essa lógica de Deus, podemos recordar um escrito do cardeal Van Thuan a partir dessas três parábolas, intitulado “os defeitos de Jesus”:

 

 

 

 

Meus irmãos e irmãs, sabemos que ser testemunhas da misericórdia e do amor de Deus no mundo não significa pactuar com o pecado, ódio, injustiça, opressão, sofrimento. Tudo isso deve ser combatido e vencido. Mas, Deus nos convida a sermos conscientes de que também nós somos frágeis, por isso, Ele nos pede para amar o pecador e a acolhê-lo sempre como um irmão, como queremos que façam conosco. É esta atitude que nos mantém como autênticos discípulos de Cristo, aptos para atuar numa constante renovação no coração da Igreja.

 

É este Deus escandalosamente amoroso que somos convidados a descobrir, anunciar e testemunhar. Que Nossa Senhora nos ajude neste caminho de conversão da mente e do coração, até o dia em que estaremos todos e todas reunidos no coração amoroso do Pai.

 

Fiquem com Deus!

 

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