CEBs: Justiça e profecia a serviço da vida a partir dos injustiçados. Artigo de Frei Gilvander Moreira

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04 Junho 2013

"Jesus, ressuscitado e presente no nosso meio, testemunha um caminho de salvação não tanto porque sofreu demais, mas porque amou demais. Jesus se doou integralmente. Viveu consolando os aflitos e afligindo os consolados. Colocar a vida em risco por amor aos pobres que, em movimento, se rebelam contra todas as opressões, é estar em sintonia com Jesus e com seu projeto. Diante de tantas injustiças que bradam aos céus não dá para ficar calado. “Se calarem a voz dos profetas, as pedras falarão” (Lc 19, 40)", escreve Frei Gilvander Luís Moreira, padre da Ordem dos carmelitas, é professor de Teologia Bíblica, assessor da Comissão Pastoral da Terra – CPT, do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos – CEBI, do Serviço de Animação Bíblica - SAB e da Via Campesina em Minas Gerais, 03-05-2013.

Eis o artigo.

"Nada a temer senão o correr da luta / Nada a fazer senão esquecer o medo / Abrir o peito à força, numa procura / fugir às armadilhas da mata escura.” (Música Caçador de mim, de Milton Nascimento).

Com o tema CEBs: JUSTIÇA E PROFECIA A SERVIÇO DA VIDA, e o lema: CEBs, ROMEIRAS DO REINO NO CAMPO E NA CIDADE, dias 31/05 e 1 e 2 de junho de 2013, aconteceu, em uma Escola Estadual, em Ressaquinha, MG, o XXVIII Encontro de CEBs da Região Sul da Arquidiocese de Mariana, MG.

Participaram cerca de cem lideranças de muitas Comunidades Eclesiais de Base – CEBs - de várias paróquias, participantes de várias pastorais da Igreja Católica, de pastorais sociais e de movimentos sociais populares. Os participantes foram hospedados graciosamente em casas de famílias da Paróquia São José, em Ressaquinha. Entre celebrações, animação, convivência, troca de experiência e reflexão sobre o tema acima, o encontro se deu sob assessoria nossa.

Que beleza a prioridade que a Arquidiocese de Mariana dá ao acompanhamento das CEBs, com Roteiros de Reflexão, com milhares de cópias, para semanalmente subsidiar os Grupos de Reflexão que, com um olho na Bíblia e outro na realidade dos pobres, vão tecendo relações humanas, cultivando a vida em comunidades e conjuntamente buscando solução para os problemas que afligem a vida do povo. Entre vários movimentos populares, animados pelas CEBs, há em Barbacena o Movimento Cidadania Já, que vem lutando por Política com ética. Eis, abaixo, um pouco do que refletimos no Encontro.

1 - Luta por justiça, o que é isso?

“Prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão...” Essa foi a primeira música religiosa que aprendi na minha vida. Já assisti umas trinta vezes ao filme ROMERO, de John Duigan, sobre a conversão, a opção pelos pobres e o martírio de Dom Oscar Romero. Sinto que é mais do que verdade o que disse dom Oscar Romero na iminência de ser assassinado: “se me matam, ressuscitarei na luta do meu povo”. De forma organizada, com fé no Deus da vida, fé nos pequenos, nos/as companheiros/as e em si mesmo, o povo das CEBs segue lutando por justiça, rompendo os grilhões que o aprisionam.

Jesus, ressuscitado e presente no nosso meio, testemunha um caminho de salvação não tanto porque sofreu demais, mas porque amou demais. Jesus se doou integralmente. Viveu consolando os aflitos e afligindo os consolados. Colocar a vida em risco por amor aos pobres que, em movimento, se rebelam contra todas as opressões, é estar em sintonia com Jesus e com seu projeto. Diante de tantas injustiças que bradam aos céus não dá para ficar calado. “Se calarem a voz dos profetas, as pedras falarão.” (Lc 19, 40).

A melhor forma de ser solidário com uma pessoa ameaçada de morte (e de ressurreição) é entrar para a luta também. O dia que aumentar o número de pessoas na luta seremos como o povo hebreu no Egito: “um povo numeroso e forte.” Aí não será mais possível os  chefes dos sistemas opressores matarem Chico Mendes, no Acre; Padre Ezequiel Ramin, em Rondônia; Padre Josimo Tavares, em Imperatriz, MA; Irmã Dorothy e os Sem Terra, no Pará; Padre Gabriel, no Espírito Santo; Francisco Anselmo e Dorcelina Follador, no Mato Grosso do Sul; Os fiscais em Unaí, MG; Os Sem Terra, em Felisburgo, MG e... Não poderão mais matar ninguém para tentar intimidar outros.

Nos últimos tempos, o Império do capital impôs a mais pesada sexta-feira santa sobre a humanidade, sobre a mãe terra, sobre a irmã água, sobre a flora e a fauna. Há devastação socioambiental, o que gera sofrimento em demasia. A via-sacra imposta a milhões de injustiçados não tem apenas 15 estações, mas está se tornando sem fim.

Jesus foi condenado à morte pelos poderes político, religioso e econômico. Deus pai jamais quis que seu filho fosse crucificado. Por amor, Deus ressuscitou Jesus. O germe da vida está inoculado em tudo. Com a ressurreição de Jesus as utopias jamais morrerão; os sonhos de libertação jamais serão pesadelos; a luta dos pequenos será sempre vitoriosa (ainda que custe muito suor e, às vezes, sangue); as forças da Vida terão sempre a última palavra. A vida prevalecerá sobre a morte; a ética sobre a corrupção; a verdade sobre a mentira; o bem sobre o mal; a solidariedade sobre o egoísmo; o amor ao próximo sobre o egocentrismo; a justiça sobre as injustiças. Por mais cruéis que sejam, todas as tiranias e guerras passarão! As crianças, as pessoas com deficiência e todos que se regem pela lógica do amor triunfarão. Nisso cremos e por isso lutamos.

Se olharmos, com benevolência, com os olhos do coração, em volta e no mais profundo das relações humanas, veremos, surpresos, que os sinais de Páscoa superam os sinais de morte. Vejam! Atenção! No ventre de uma grande noite escura, em muitas lutas, grandes e pequenas, umas visíveis e outras invisíveis, está em gestação uma radiante transformação, um novo paradigma de convivência onde não seja tão difícil tratarmos os seres da natureza com compaixão e nosso próximo com humanidade e com cuidado.

É hora de refletirmos: Como ser solidário lutando por justiça?  Qual a diferença entre fazer solidariedade e lutar por justiça?

2 - PROFECIA, o que é isso?

“Não deixe morrer a profecia.” (Dom Hélder Câmara)

Os profetas e as profetisas da Bíblia não tinham um canal de comunicação direta com Deus, como se fossem pessoas privilegiadas. Deus não ditava-lhes as profecias. Devemos sepultar, de uma vez por todas, essa ideia que só serve para impedir as pessoas simples de desenvolverem a capacidade profética que todos nós temos. Não precisamos ficar lamentando: “Ah, se eu fosse Jeremias, se eu fosse Elias, ou Ezequiel, ou Amós, ou Oséias.”. Os profetas e profetisas da Bíblia eram pessoas do povo. Conseguiram desenvolver toda a beleza, a grandeza e a dignidade humana existente neles. Isto é possível a qualquer pessoa que se coloque em sintonia com a realidade do povo simples, na perspectiva da fé libertadora.

Os profetas e as profetisas são pessoas com corações sonhadores, pés cravados no chão, mãos sujas na labuta e cabeça erguida. Nas palavras e no testemunho, Paulo Freire disse para nós: “Ai daqueles e daquelas que pararem com a sua capacidade de sonhar, de inventar a sua coragem de denunciar e de anunciar. Ai daqueles que, em lugar de visitar de vez em quando o amanhã, o futuro, pelo profundo engajamento com o hoje, com o aqui e com o agora, se atrelam a um passado de exploração e de rotina.”

Sentindo-me na pele dos Sem Terra, dos sem teto, das pessoas injustiçadas, convido você para visitar algumas profecias bíblicas de Elias, de Amós, de Miqueias e de Jesus de Nazaré, na esperança de que possam iluminar nossas consciências e aquecer nossos corações para discernirmos bem e comprometermos de fato com a causa dos pobres que, com fé libertadora, lutam por justiça social, justiça ambiental, justiça agrária...

Em meados do século XIX a.C., o profeta Elias ferveu o sangue de indignação quando ouviu e viu que o rei Acab, a primeira dama Jezabel e latifundiários estavam reforçando a latifundiarização da terra prometida pelo Deus da vida ao povo Sem Terra, filhos/as de Abraão e Sara. A terra para o povo da Bíblia é herança de Deus, deve ser passada de pai para filho para usufruto e  jamais ser considerada uma mercadoria. “Javé me livre de vender a herança de meus pais” (I Rs 21,3), respondeu Nabot, um pequeno agricultor, ao receber uma proposta indecorosa do rei que desejava comprar seu sítio para anexá-lo ao grande latifúndio que já tinha acumulado.  O rei Acab se irritou com a resistência de Nabot. Jezabel, rainha adepta do ídolo Baal, manipulou a religião e a justiça para roubar a terra do pequeno posseiro. Caluniou, criminalizou e demonizou Nabot que, com o beneplácito do poder judiciário, foi condenado à pena de morte na forma de apedrejamento, morte que mata aos poucos. Hoje, o “apedrejamento” aos empobrecidos acontece por meio de calúnias, humilhações e, muitas vezes, com o veredicto do Estado, através do poder judiciário. Mais de seis milhões de indígenas e outros seis milhões de negros, como Nabot, foram “apedrejados” no Brasil.

Mas a opressão dos pobres e o sangue dos mártires suscitam profetas. O profeta Elias, ao ouvir que o rei Acab estava invadindo o pequeno sítio de Nabot, após o ter matado, em alto e bom som, profetizou: “Você matou, e ainda por cima está roubando? Por isso, assim diz Javé (Deus solidário e libertador): No mesmo lugar em que os cães lamberam o sangue de Nabot, lamberão também o seu. Farei cair sobre você a desgraça” (I Rs 21,19.21). Acab desencadeou uma grande perseguição ao profeta Elias, que fugiu, mas refez sua opção pelo Deus da vida e continuou a luta ao descobrir que não estava sozinho na luta. Outros sete mil profetas conspiravam ao lado dele na luta contra as injustiças. Elias inspirou Eliseu, que inspirou Jesus de Nazaré, que inspira milhões de pessoas cristãs pelo mundo afora. Acab teve morte parecida com a do general Garrastazu Médici, que, após liderar anos de chumbo no Brasil, morreu carcomido por um câncer.

Por volta de 760 a.C., o profeta Amós, camponês sem-terra, insurge contra a injustiça social. Em Am 4,1-3, do coração de Amós brada: “OUVI esta palavra, vacas de Basã, que estais sobre monte de Samaria, que oprimis os fracos, que esmagais os excluídos, que dizeis aos vossos senhores: “Trazei-nos o que beber!”. O  Senhor Javé jurou, pela sua santidade: sim, dias virão sobre vós, em que vos carregarão com ganchos e a vossos descendentes com arpões (de pesca).”

A expressão “vacas de Basã” adquire um sentido mais verdadeiro dentro da cultura bíblica se o termo “vacas” não for utilizado em relação a mulheres, mas a homens, aqueles que quiseram ser como os touros de Basã, que pela sua força se tornaram “vacas”, com conotação depreciativa. Na profecia de Amós está uma crítica veemente e contundente aos agentes e mecanismos de exploração e opressão dos camponeses empobrecidos sob o (des)governo expansionista do rei Jeroboão II e sob as condições de um incremento de relações de empréstimos e dívidas entre pessoas do próprio povo no século VIII a.C.. Amós tem consciência de que o problema fundamental da injustiça reinante na sociedade não é fruto somente de fraquezas pessoais, mas tem como causa motriz estruturas sócio-econômico-político-cultural e religiosas que engrenam uma máquina de moer pessoas.

Camponês de origem, o profeta Miqueias captou os sussurros do Deus da vida no final do século VIII a.C., quando o território de seu povo estava sendo devastado pelos assírios imperialistas. Para Miqueias, a cobiça e as injustiças sociais deixam Deus possuído por uma ira santa. “São vocês os inimigos do meu povo: de quem está sem o manto (como os Sem Terra de hoje), vocês exigem a veste; vocês expulsam da felicidade de seus lares as mulheres do meu povo (como milhares de meninas que são empurradas para a prostituição infanto-juvenil), e tiram dos filhos a liberdade que eu lhes tinha dado para sempre (como a juventude que, jogada nas garras do narcotráfico, está sendo dizimada pela guerra civil não declarada). (Miq 2,8-9).

Após libertar das garras dos faraós no Egito e marchar 40 anos pelo deserto, o povo oprimido da Bíblia conquista a terra prometida que estava em mãos de grileiros cananeus, os territórios foram sorteados fraternalmente, para que cada família tivesse o seu lote. Democratizaram o acesso a terra. Mas após alguns séculos, os enriquecidos, pouco a pouco, invadiram cada vez mais campos e territórios. Assim, multidões de sem-terra foram jogados na miséria, impossibilitados de ter a sua parte na terra do povo de Deus.

Vindo da roça, Miqueias, ao chegar à capital Jerusalém, se defronta com os enriquecidos e com políticos e religiosos profissionais e os acusa de roubar casas e campos para se tornarem latifundiários. “Ai daqueles que, deitados na cama, ficam planejando a injustiça e tramando o mal! É só o dia amanhecer, já o executam, porque têm o poder em suas mãos. Cobiçam campos, e os roubam.” (Miq 2,1-2).

Miqueias mostra que a riqueza deles se baseia na miséria de muitos e tem como alicerce a carne e o sangue do povo. “Essa gente tem mãos habilidosas para praticar o mal: o príncipe exige, o juiz se deixa comprar, o grande mostra a sua ambição. E assim distorcem tudo. O melhor deles é como espinheiro, o mais correto deles parece uma cerca de espinhos! O dia anunciado pela sentinela, o dia do castigo chegou: agora é a ruína deles.” (Miq 7,3-4).

O galileu de Nazaré se tornou Cristo, filho de Deus. Como camponês, deve ter feito muitos calos nas mãos, na enxada e na carpintaria, ao lado do seu pai José. Os evangelhos fazem questão de dizer que Jesus nasceu em Belém, (em hebraico, “casa do pão” para todos), cidade pequena do interior. “És tu Belém a menor entre todas as cidades, mas é de ti que virá o salvador”, diz o evangelho de Mateus. (Mt 2,6).

É hora de refletir: O que de fato é profecia? Quem é profeta ou profetisa para nós? Como podemos e devemos ser profetas ou profetisas?

3 - SERVIÇO À VIDA, o que é isso? Que tipo de serviço as CEBs devem continuar prestando?

Os relatos dos evangelhos sobre a partilha dos pães nos ensinam como atacar pela raiz os problemas da fome, da doença e da injustiça. Ensina-nos como devemos servir à vida de forma libertadora, não ingênua. Vejamos!

A fome era um problema tão sério na vida dos primeiros cristãos e cristãs, que os quatro evangelhos da Bíblia relatam Jesus partilhando pães e saciando a fome do povo (cf. Mt 14,13-21; Mc 6,32-44; Lc 9,10-17 e Jo 6,1-13). Mateus mostra que o povo faminto “vem das cidades”, ou seja, as cidades, ao invés de serem locais de exercício da cidadania, se tornaram espaços de exclusão e de violência sobre os corpos humanos.

“Jesus atravessa para a outra margem do mar da Galileia” (Jo 6,1), entra no mundo dos gentios, dos pagãos, dos impuros, enfim, dos excluídos. Jesus não fica no mundo dos incluídos, mas estabelece comunicação efetiva e afetiva entre os dois mundos, o dos incluídos e o dos excluídos. Assim, tabus e preconceitos começam a se desmoronar.

Profundamente comovido, porque “os pobres estão como ovelhas sem pastor” (Mc 6,34), Jesus percebe que os governantes e líderes da sociedade não estavam sendo libertadores, mas estavam colocando grandes fardos pesados nas costas do povo. Com olhar altivo e penetrante, Jesus vê uma grande multidão de famintos que vem ao seu encontro, só no Brasil são milhões de pessoas que têm os corpos implodidos pela bomba silenciosa da fome.

Jesus não sentiu medo dos pobres, encarou-os e procura superar a fome que os golpeava e humilhava. Apareceram dois projetos para resgatar a cidadania do povo faminto. O primeiro foi apresentado por Filipe: “Onde vamos comprar pão para alimentar tanta gente?” (Jo 6,5). No mesmo tom, outros discípulos tentavam lavar as mãos: “Despede as multidões para que vão aos povoados comprar alimento para si.” (Mt 14,15). Filipe está dentro do mercado e pensa a partir do mercado. Está pensando que o mercado é um deus capaz de salvar as pessoas. Cheio de boas intenções, Filipe não percebe que está enjaulado na idolatria do mercado.

O segundo projeto é posto à baila por André, um outro discípulo de Jesus, que, mesmo se sentindo fraco, acaba revelando: “Eis um menino com cinco pães e dois peixes” (Jo 6,9). Jesus acorda nos discípulos e discípulas a responsabilidade social, ao dizer: “Vocês mesmos devem alimentar os famintos” (Mt 14,16). Jesus quer mãos à obra. Nada de desculpas esfarrapadas e racionalizações que tranqüilizam consciências. Jesus pulou de alegria e, abraçando o projeto que vem de André (= humano, em grego), anima o povo a “sentar na grama” (Jo 6,10). Aqui aparece duas características fundamentais do processo protagonizado por Jesus para levar o povo da exclusão à cidadania. Jesus convida o povo para sentar-se. Por quê? Na sociedade escravocrata do império romano somente as pessoas livres, cidadãs, podiam comer sentadas. Os escravos deviam comer de pé, pois não podiam perder tempo de trabalho. Era só engolir e retomar o serviço árduo. Um terço da população era escrava e outro terço, semi-escrava. Logo, quando Jesus inspira o povo para sentar-se, ele está, em outros termos, defendendo que os escravos têm direitos e devem ser tratados como cidadãos.

Por que sentar na grama? A referência à existência de “grama” no local indica que o povo está no campo, na zona rural, e é a partir de uma reorganização da vida no campo que poderá advir uma solução radical para a fome que aflige o povo nas cidades. Em outras palavras, o combate que liberta da fome passa necessariamente pela realização de uma autêntica Reforma Agrária. Não dá para continuar a iníqua estrutura fundiária no Brasil, com 2% da população sendo proprietária de 50% da terra brasileira. Mais: apenas 10% das terras férteis brasileiras são usadas para a agricultura.

Jesus estimula a organização dos famintos. “Sentem-se, em grupos de cem, de cinqüenta, de dez...” (Mc 6,40). Assim Jesus e os primeiros cristãos nos inspiram que a resolução do problema da fome só será superado quando o povo marginalizado e excluído se organizar. Jesus provoca a solidariedade conclamando para a organização dos marginalizados como meio para se chegar à cidadania que não é apenas participar da sociedade, mas transformá-la.

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