Charles Scicluna: o 007 vaticano antipedofilia volta ao serviço

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09 Abril 2014

Um retorno ao passado no Vaticano. Depois de um ano e meio longe dos holofotes, volta à tona Dom Charles Scicluna, durante anos histórico promotor de justiça da Congregação para a Doutrina da Fé. O prelado maltês foi nomeado pela Congregação para os Bispos como chefe da investigação chamada a jogar luz sobre os "comportamentos inapropriados" do cardeal escocês Keith O'Brien, acusado de abusos sexuais contra três padres e de um ex-sacerdote que frequentavam o seminário do qual o purpurado era reitor à época. Os fatos em disputa remontam a 30 anos.

A reportagem é de Matteo Matzuzzi, publicada no sítio Formiche, 05-04-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O escândalo estourou há pouco mais de um ano, bem no meio da confusão que se seguiu à histórica renúncia ao sólio petrino de Bento XVI. Os quatro ex-seminaristas acusaram O'Brien de tê-los molestado sexualmente durante as orações da noite ou em outros momentos em que se encontravam sozinhos com o então reitor. Um jovem decidiu abandonar o seminário e procurar aconselhamento psicológico.

Inicialmente, o cardeal arcebispo de St. Andrews havia negado tudo, confiando-se a um advogado para a proteção da sua reputação. Enquanto isso, no entanto, o caso já havia atingido o núncio em Londres, Dom Mennini, que havia imediatamente informado a Santa Sé.

Apesar dos temores dos acusadores, depois de uma rápida investigação, o Vaticano adotou as primeiras decisões: O'Brien foi chamado – na prática, forçado – a enviar a carta de renúncia à liderança da diocese "por ter alcançado o limite de idade", embora faltasse quase um mês para completar os 75 anos canônicos.

Quando a carta chegou em Roma, Bento XVI aceitou a renúncia imediatamente. Mas não foi a única decisão dramática. Embora continuando a se professar inocente e manchado por denúncias inexistentes, o purpurado – depois de um instante de hesitação – anunciou que não participaria do conclave. O motivo? "Para não distrair, chamando a atenção para mim", comentou, então.

Mas o caso não foi encerrado com a aposentadoria e a renúncia ao conclave. A investigação da Santa Sé e da Igreja local continuou, até a admissão das responsabilidades por parte do cardeal: "Em um primeiro momento, a natureza não específica e anônima das acusações me levou a contestá-las. Agora, quero aproveitar esta oportunidade para admitir que houve momentos em que minha conduta sexual esteve abaixo dos padrões a mim exigidos como padre, bispo e cardeal. Peço desculpas e peço perdão àqueles que eu ofendi, eu também peço desculpas à Igreja Católica e ao povo da Escócia".

Com a eleição de Francisco, então, o processo teria sido ainda mais acelerado. Desde maio do ano passado, em concordância com o papa – como dizia o comunicado oficial da Santa Sé –, o cardeal deixou a Escócia "para alguns meses de renovação espiritual, oração e penitência". Basicamente, um exílio do qual provavelmente não voltaria para a Escócia.

Os dez anos de Scicluna no Santo Ofício

E agora, para jogar luz sobre todos os detalhes, chega Dom Scicluna. Foi ele, por dez anos, que trabalhou ao lado de Joseph Ratzinger antes e de Bento XVI depois, na luta sem tabus contra a chaga da pedofilia na Igreja.

Em 2001, quando João Paulo II advogou para a Santa Sé, ex Motu proprio, todos os casos de abuso de clérigos contra menores, Scicluna foi escolhido como promotor de justiça da Congregação para a Doutrina da Fé. Um cargo que ele manteria até 2012.

Foi graças ao seu trabalho escrupuloso que foi possível jogar luz sobre os abusos do fundador dos Legionários de Cristo, Marcial Maciel, e sobre dezenas de outros casos sobre os quais, por décadas, havia caído o silêncio.

Intérprete da tolerância zero

Intérprete da linha mais dura, a da tolerância zero, gerou discussão a sua decisão de promover leis chamadas emergenciais para combater o fenômeno. Um comportamento que tinha criado algumas dores de estômago dentro dos muros vaticanos.

Do seu lado, no entanto, estava Ratzinger, que com ele compartilhava o pedido para que as conferências episcopais aplicassem (depois de serem redigidas) as diretrizes contra os abusos. Um caro princípio também ao cardeal arcebispo de Boston, Sean O'Malley, agora na equipe antiabusos criada do zero pelo Papa Francisco.

O trabalho de Scicluna havia sido interrompido em outubro de dois anos atrás. Com uma decisão surpresa, Bento XVI o nomeara bispo auxiliar de La Valletta, sem sequer o direito à sucessão. Decisão surpreendente não tanto pela promoção do prelado, mas sim pelo destino: não se pensava que Scicluna sairia da Cúria.

Alguns disseram que Ratzinger o tinha "estacionado" na ilha para protegê-lo daqueles que – nos Sagrados Palácios – não esperavam nada mais do que o seu escalpo. E foi justamente Scicluna, em mais de uma entrevista posterior à sua transferência – que defendeu a decisão do papa hoje emérito.

Agora, lentamente, o retorno à cena. Ainda como bispo auxiliar em Malta, mas com uma referência ao passado de detetive.

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