Ben Jelloun: adeus a pátria dos direitos se a França copiar Guantánamo

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18 Dezembro 2015

"Guantánamo é uma catástrofe. A França não siga o exemplo ou será o fim da pátria dos direitos humanos". Nestes dias, Tahar Ben Jelloun está em sua casa no Marrocos. Entre os intelectuais magrebinos mais ouvidos na Europa, o escritor e poeta de 71 anos ainda está chocado com os atentados em Paris.

A entrevista é de Paolo Levi, publicada por La Stampa, 11-12-2015. A tradução é de Ramiro Mincato

As palavras de Ben Jelloun chegam menos que 24 horas depois que o deputado de oposição, Laurent Wauquiez (Les Républicains), pediu a prisão preventiva, com base em simples indícios, sem recurso à justiça comum, para os indivíduos rotulados com o "cartão S”, o que indica os indivíduos "radicalizados", em odor de jihad, mas sem terem sido condenados. Uma proposta que o governo do socialista Hollande levou para o Conselho de Estado para exame da legitimidade.

Eis a entrevista

Alguns denunciam a perspectiva de uma "Guantánamo a la francesa". O senhor o que diz?

“Penso que neste caso os Estados Unidos não podem ser um modelo para a França e para a sua antiga tradição dos direitos humanos. Guantánamo é uma catástrofe, dentro não há apenas terroristas, mas provavelmente também muitas pessoas inocentes. E, acima de tudo, não impediu novos atentados. É uma prisão ilegal, que nem mesmo Obama consegue fechar. Paris não siga o mesmo caminho ou será o fim da Pátria dos Direitos".

Mas agora, na Assembleia Nacional, todos concordam que é preciso sacrificar uma dose de liberdade para ter mais segurança. Marine Le Pen voa nas pesquisas. A direita moderada e do Partido Socialista correm atrás...

"Quando você é ferido num atentado como os de 13 de novembro, o instinto inicial é de reagir com força, vigor e violência. É compreensível. Mas, no final, são a justiça e a lei que devem sobressair-se à raiva. Seja qual for o suspeito, a democracia não pode invadir uma casa ou prender aquele que a polícia suspeita que passará a ação".

Como, então, para combater os terroristas do Califado?

"É uma luta longa e difícil. Os ataques aéreos sobre suas posições não são suficientes, eles estão em nosso meio. Vimos isso em Paris, em Túnis, na Califórnia. Bombardear a nós mesmos? Impossível. Lutamos com armas desiguais. É uma guerra de um novo tipo que a Europa não pode combater sem abrir mão de seus valores. Repito: A democracia é o nosso bem mais precioso, mas não está equipada para lutar contra este tipo de terrorismo".

Os terroristas são mais fortes?

"Ao contrário de nós, são invisíveis e imprevisíveis. Eles não têm medo de sacrificar suas vidas. Eles tiveram uma lavagem cerebral. O instinto vital, para nós tão óbvio, foi revertido em instinto de morte".

Refere-se ao martírio e as famosas 72 virgens como uma recompensa?

"Acabei de voltar do bar, no térreo, e entre um café e o outro brincávamos dizendo que os terroristas não compreenderam nada: na verdade não são 72 virgens, mas uma virgem de 72 anos ... Este é Tânger."

O que mais ouviu no café?

"Aqui no Marrocos repetem todos a mesma coisa: serão os muçulmanos inocentes a pagar as consequências deste grupo de criminosos, e será um preço muito alto. Quando ouvimos o que diz Trump nos EUA, ou a Frente Nacional na França. Responsabilidade dos políticos é evitar fáceis confusões ...".

Há quem definiu as periferias transalpinas como "territórios perdidos da République". O senhor concorda?

"Por tê-las frequentado assiduamente, devo reconhecer que o Estado francês não as ajudou muito. Mas as culpas recaem também sobre aquelas tantas famílias que não vigiaram seus filhos. Olha, é como a máfia, a polícia não é suficiente. É preciso tempo e muito de educação".

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