O matrimônio no protestantismo, uma abordagem teológica

Mais Lidos

  • Elon Musk e o “fardo do nerd branco”

    LER MAIS
  • O Novo Ensino Médio e as novas desigualdades. Artigo de Roberto Rafael Dias da Silva

    LER MAIS
  • “A destruição das florestas não se deve apenas ao que comemos, mas também ao que vestimos”. Entrevista com Rubens Carvalho

    LER MAIS

Revista ihu on-line

Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

Edição: 552

Leia mais

Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

Edição: 551

Leia mais

Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

Edição: 550

Leia mais

23 Março 2015

No protestantismo, o matrimônio não é considerado um sacramento. Por quê? Nas suas obras latinas, Lutero escreve: “As Sagradas Escrituras conhecem um só sacramento, é o Cristo, o próprio Senhor”. Em 1520, in “A cativez babilônica na Igreja”, ainda fala deste “único sacramento (isto é, Cristo)” e de três sinais sacramentais. O sinal sacramental necessita de uma palavra de promessa ligada – por instituição de Cristo – com um sinal. Neste sentido, se pode reter que o sejam somente o Batismo e a Ceia. Prevalece compreensão cristocêntrica do sacramento. Somente Cristo é o “instrumento da salvação”.

A reportagem é de Jean-Claude Hutchen, publicada por Baptisés, 17-03-2015. A tradução é de Benno Dischinger.

No que se refere ao matrimônio como sacramento, Lutero esclarece: “Já que o matrimônio existia desde o início do mundo e continua existindo, também entre os não-crentes, até hoje, não existe motivo de pensar que o matrimônio possa ser chamado sacramento somente da nova aliança e da Igreja. Porque os matrimônios dos nossos pais não eram menos santos do que os nossos, e os matrimônios dos não-crentes não são menos verdadeiros do que aqueles dos crentes – e no entanto eles [a Igreja católica] não os consideram um sacramento. Além disso, entre os crentes há cônjuges incrédulos que são muito mais incrédulos do que os próprios pagãos. Por que, então, chamar aqui de sacramento o matrimônio, mas não para os pagãos?

A posição de Calvino é próxima daquela de Lutero, embora com acentos diversos. É a partir da convicção de que somente Cristo (presente pela pregação) oferece a salvação. Dizer que o matrimônio não é um sacramento não reduz, todavia, a importância que lhe é dada nas igrejas protestantes, que preferem falar de “bênção do matrimônio”.

Com respeito ao direito matrimonial da Idade Média, que aos poucos foi sempre mais sendo estabelecido pela Igreja, para Lutero o matrimônio é um estado querido por Deus, que entra na ordem da criação. Ele não tem um papel específico na ordem da redenção. Por isso, é um assunto que diz respeito à ordem civil. A concepção protestante do matrimônio se inscreve sem dificuldade na prática da anterioridade legal do matrimônio civil em referência ao matrimônio religioso. De fato, o matrimônio é uma instituição fundamentalmente humana que organiza as relações privilegiadas de um homem e de uma mulher. As características essenciais da compreensão cristã do matrimônio têm sido retomadas pelo direito civil com respeito ao elo matrimonial devidamente oficializado, duradouro, exclusivo, ao qual se adere livremente e que é aberto à acolhida de filhos. 

Isto, todavia, não significa que o Estado se substitua à Igreja nas questões matrimoniais. Mas, é competência do Estado exercer a sua proteção perante o matrimônio, o qual é uma instituição que o precede.

O sentido da celebração do matrimônio

A celebração do matrimônio numa Igreja é considerada como “casual”, isto é, como um culto para uma ocasião particular. Os cristãos acompanham geralmente todas as fases importantes de sua vida com a prece e com a palavra de Deus. Isso vale tanto para o início da vida (culto do batismo) como para o seu fim (culto do adeus), mas também para o início da vida a dois. O motivo essencial do matrimônio religioso está na troca dos empenhos na presença de Deus, isto é, na consciência da própria responsabilidade ante o Criador e na confiança em sua ajuda e em sua proteção, que se exprime na bênção dada ao casal. Nas liturgias do matrimônio, o empenho de Deus pelos esposos precede o empenho dos esposos, fundamenta-os e lhes dá sentido e futuro. No Novo Testamento o matrimônio é uma imagem e uma forma de realização do amor de Cristo pela Igreja.

A celebração religiosa constitui uma ajuda para o matrimônio. Quem recebe amor, pode por sua vez doá-lo. Quem se deixa amar pela “cabeça do corpo”, isto é, por Cristo, pode também procurar refletir este amor no casal. Na bênção do casal, Deus faz dom aos esposos da força de Cristo, a qual confere uma sólida base ao matrimônio cristão.

Bênção do casal

Lutero explica em seu “Pequeno catecismo para os pastores simples” (1529) que o matrimônio, embora seja uma instituição profana, “tem a seu favor a palavra de Deus” e é por isso que precisa “honrar este estado divino”, “bendizê-lo e orar por isso e honrá-lo”. E um pouco além [A vinda do casal à Igreja] exprime “a grande seriedade” que os esposos lhe atribuem. De fato, “não há nenhuma dúvida, eles vêm a buscar-lhes a bênção de Deus e uma prece para todos e não fazer uma comédia ou farsas pagãs”. De fato, quem deseja bênção e prece do pastor ou do bispo, o quanto necessita das bênçãos de Deus e da prece de todos para este estado no qual começa a viver, já que se vê cotidianamente quanta miséria o diabo semeia no estado do matrimônio, com adultério, infidelidade, desacordo e toda espécie de mal”. “A bênção de Deus é, portanto, imediatamente prevista por Lutero como uma ajuda indispensável para viver bem a vida na qual o casal se empenha”.

Comunicar erro

close

FECHAR

Comunicar erro.

Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

O matrimônio no protestantismo, uma abordagem teológica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU