Caracterização das juventudes trabalhadoras no Vale do Sinos

Mais Lidos

  • “A destruição das florestas não se deve apenas ao que comemos, mas também ao que vestimos”. Entrevista com Rubens Carvalho

    LER MAIS
  • Povos Indígenas em debate no IHU. Do extermínio à resistência!

    LER MAIS
  • “Quanto sangue palestino deve fluir para lavar a sua culpa pelo Holocausto?”, questiona Varoufakis

    LER MAIS

Revista ihu on-line

Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

Edição: 552

Leia mais

Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

Edição: 551

Leia mais

Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

Edição: 550

Leia mais

Por: Nadine Steffen, João Conceição e Marilene Maia | 05 Agosto 2017

De maneira a complementar os estudos sobre trabalho, se faz necessário investigar o perfil e a realidade dos trabalhadores que estão começando a trilhar sua carreira profissional: os jovens. O Estatuto da Juventude prevê, por meio da Lei Nº 12.852 de 5 de agosto de 2013, os direitos dos jovens, os princípios e diretrizes das políticas públicas de juventude e o Sistema Nacional de Juventude - SINAJUVE, considerando as pessoas com idade entre 15 e 29 anos. Para isso, o Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos - Observasinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, reuniu os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados - CAGED disponibilizados mensalmente pelo Ministério do Trabalho e Emprego - MTE, classificando as idades em até 17 anos e entre 18 e 29 anos, e, assim, percebendo as diferenças e semelhanças envolvidas.

Entre os 109 jovens com até 17 anos em junho de 2016, 93 eram homens (85,32%) e 16 eram mulheres (14,67%). Já em junho de 2017 o número de mulheres passou para 129 (+706,25%), ou seja, um aumento de mais de 7 vezes, e os homens passaram de 93 para 162 no mesmo período. O município de Novo Hamburgo saiu de apenas 3 mulheres para 48, Canoas de 16 para 27 e Sapiranga de 4 para 16 mulheres contratadas, na comparação entre junho de 2016 e junho de 2017. Já os jovens entre 18 e 29 anos em junho de 2016 eram 329 homens (68,40%) e 152 mulheres (31,60%), enquanto no mês de junho de 2017 a presença dos homens passou para 163 (-50,46%) e a das mulheres para 86 (-40,49%). Os municípios de Esteio e Novo Hamburgo foram destaques na criação de novos postos de trabalho para as mulheres entre junho de 2016 e junho de 2017. 

Distribuição das faixas salariais

Os dados disponibilizados pelo CAGED apontam que os jovens com idade até 17 anos ganham no máximo dois salários mínimos no Vale do Sinos. Os dados mostram que em junho de 2017 entre admitidos e desligados somente um jovem com até 17 anos ganhava dois salários mínimos. Por outro lado, é importante destacar que caiu de 93 para 32 o número de jovens que ganhavam até 0,50 salário mínimo, ao passo que cresceu de 61 para 90 o número de jovens com até 17 anos ganhando mensalmente entre 1,01 e 1,5 salário mínimo. Ainda assim, a maior parte dessa faixa etária, com 168 jovens (57,73%), ganhava entre 0,51 e 1,0 salário mínimo.

A distribuição salarial de quem possui entre 18 e 29 anos varia entre 0,50 até acima de 20 salários mínimos. Entretanto, houve variação positiva somente em três faixas salariais em junho de 2017. Um jovem apenas ganhava 0,50 salário mínimo e 14 jovens ganhavam até 7,0 salários mínimos. A concentração maior estava na faixa entre 1,0 e 1,5 salário mínimo. Tal fato possibilitou um saldo positivo de 438 entre admitidos e desligados nessa faixa. Ao incluir os saldos negativos das outras faixas salariais, chegamos ao número de 251 jovens entre 18 e 29 anos com emprego formal.

Juventudes e educação

Se consideradas as movimentações no emprego formal para trabalhadores de até 17 anos de idade, o Ensino Médio Incompleto foi o grau de instrução que representou maior quantidade de admissões em junho de 2017 no Vale do Sinos (237), pelo menos vinte vezes superior ao do mesmo mês do ano passado. Assim, de uma participação de 9,17% em junho de 2016 nas admissões dos municípios do Vale do Sinos, passou para 81,44% em junho de 2017. Novo Hamburgo representou 29,11% dos postos de trabalho criados, Campo Bom 28,27% e Canoas 8,44%; juntos, os três municípios somam mais de 65% das admissões de jovens de até 17 anos do Vale do Sinos. Para jovens com Ensino Médio Completo, o crescimento entre os anos foi de 15,15%, sendo identificada a maior incidência de movimentações novamente em Novo Hamburgo.

Por outro lado, jovens analfabetos não apresentaram movimentações tanto de admissão quanto de desligamento no mesmo período. Outros com até o 5º ano Fundamental Incompleto ou Completo e de 6º a 9º ano do Ensino Fundamental Incompleto ou Completo sofreram queda na participação entre um ano e outro, sendo percebida maior volatilidade para jovens trabalhadores com instrução de 6º a 9º ano do Ensino Fundamental com a contração dos postos e trabalho em 98,25% entre junho de 2016 e junho de 2017. Os municípios que registraram os desligamentos foram São Leopoldo, Campo Bom, Esteio e Sapucaia do Sul. Em junho de 2016, tal instrução representava mais da metade das admissões de jovens no Vale do Sinos, cedendo espaço para o posterior crescimento das admissões de jovens com instrução a partir do Ensino Médio.

O reflexo de tal reconfiguração, que combina mais jovens nos ambientes de trabalho à crescente qualificação destes, pode ser motivado pela inserção de aprendizes, que tem como requisitos: ter idade entre 14 e 24 anos e estar cursando Ensino Fundamental, Médio ou Superior (o nível de escolaridade fica a cargo da empresa que o contratar). A iniciativa leva obrigatoriamente à contratação do Jovem Aprendiz por CLT - Consolidação das Leis do Trabalho, sendo a carga horária reduzida e o salário definido pela empresa. Cabe destacar que o interesse em incluir mais jovens nas organizações possa ter viés de redução de custos através do pagamento de um salário mais baixo relativamente do que em outros tipos de contratações; ainda assim, o Jovem Aprendiz tem sido para muitos jovens a porta de entrada da carreira profissional.

Confirmando a tendência anterior sobre a crescente inserção de jovens de até 17 anos com maior escolaridade, estendemos as evidências para jovens entre 18 e 29 anos de idade. Nessa faixa etária, jovens com Ensino Médio Completo ilustraram uma contração de 50% na criação de postos de trabalho, passando de um saldo de movimentações de 398 em junho de 2016 para 197 em junho de 2017. Abaixo do Ensino Médio Completo, todos os níveis de escolaridade passaram de singelas admissões a significantes desligamentos, mostrando novamente a preferência por jovens mais qualificados para os postos de trabalho. Os municípios com mais desligamentos foram: Nova Hartz, São Leopoldo, Novo Hamburgo e Canoas.

Para jovens com idades entre 18 e 29 anos, o crescimento de admissões entre junho de 2016 e junho de 2017 se deu apenas para aqueles com Ensino Superior Incompleto, partindo de 45 para 121, o que significa que quase triplicaram. Interessante confirmar esse dado comparando a participação de um ano para outro: em junho de 2016, 9,36% dos postos de trabalho do Vale do Sinos para essa faixa etária foram assumidos por jovens com Ensino Superior Incompleto e, em junho de 2017, esse percentual foi de 48,6%; os municípios com mais admissões foram, respectivamente, São Leopoldo, Esteio, Sapiranga, Campo Bom e Estância Velha. Já para jovens com Ensino Superior Completo o percentual de crescimento de admissões de um ano para outro foi de 84,8%; os principais municípios onde as admissões se deram foram Campo Bom, Novo Hamburgo, Canoas, São Leopoldo e Sapucaia do Sul. Se somadas as movimentações de jovens com Ensino Superior Incompleto e Completo em junho de 2017, São Leopoldo representa aproximadamente uma em cada três admissões no Vale do Sinos, chegando a 56 admissões, seguido de Esteio, com 30 admissões, e Novo Hamburgo, com 25.

Onde os jovens estão a trabalhar?

O Vale do Sinos possuía, em junho de 2016, 109 jovens de até 17 anos no mercado formal distribuídos entre os oito setores analisados. Em junho de 2017, esse número passou para 291. Tal aumento pode ser explicado também como reflexo da crise econômica. A maior inserção de jovens até 17 anos no mercado formal nesse último um ano deve-se ao desemprego de membros familiares, queda do salário real, maior procura por empregos com carteira assinada ou o fato de as empresas estarem contratando mais jovens por conta de uma mão de obra mais barata, tendo em vista que esses ainda estão em processo de formação. 

O setor que mais empregou jovens até 17 anos foi a indústria de transformação. No mês de junho de 2017 o setor foi responsável por 48,79% (142) dos admitidos, enquanto no mesmo período do ano passado foram 72,48% (79) dos admitidos. A comparação mostra que apenas em números absolutos houve aumento de jovens até 17 anos no mercado de trabalho formal.

As informações ainda mostram que a inserção de mais jovens de até 17 anos alterou substancialmente a distribuição dessa faixa etária entre os setores econômicos. O setor de serviços teve saldo positivo de 37 em junho de 2016; já quando se analisa junho de 2017, esse número passa para 64 (+72,97%). Outro setor foi o comércio, que registrou saldo negativo de menos 12 postos de trabalho, enquanto no mês de junho de 2017 o saldo foi de 70 novos postos de trabalho. 

O município de Novo Hamburgo foi o que mais teve jovens até 17 anos admitidos no mês de junho de 2017 (75). Dois Irmãos era o município que ocupava essa posição até junho do ano passado. Outros municípios como Campo Bom, Canoas, Dois Irmãos, Ivoti, São Leopoldo e Sapiranga também reduziram o número de jovens com até 17 anos no mercado formal entre junho de 2016 e junho de 2017.

Ao analisar a faixa etária entre 18 e 29 anos, os dados desvendam outras realidades. O saldo entre admitidos e desligados em junho de 2016 foi de 481 jovens. O saldo positivo manteve-se em junho de 2017, entretanto o saldo caiu para 249 (-48,23% em relação ao mesmo período de 2016).

Os setores econômicos para faixa entre 18 e 29 anos também passou por transformações. Em junho de 2016, a indústria da transformação empregou 290 jovens nessa faixa etária. O setor correspondia a 60,29% dos 481 postos abertos no período. Essa situação muda consideravelmente em junho de 2017, quando o setor saiu de um saldo positivo de 290 para 31. Esses jovens de 18 a 29 anos passaram a ingressar nos setores de comércio e serviços. Esse primeiro setor saltou de um saldo positivo de 9 para 133 e o setor de serviços, de 89 para 124. 

Apenas três municípios da região do Vale do Sinos (Dois Irmãos, Estância Velha e Esteio) conseguiram ampliar o número do saldo positivo entre admitidos e desligados na faixa etária entre 18 e 29 anos. Os municípios de Ivoti e Nova Hartz são os únicos municípios que seguem apresentando saldo negativo em comparação com junho de 2016 e junho de 2017. 

Quais as ocupações exercidas?

Ampliando a análise, surge a necessidade de cruzar os dados capazes de traçar o perfil das juventudes trabalhadoras com as ocupações em que estão alocadas. As admissões de jovens de até 17 anos foram, em junho de 2017, fortemente concentradas na ocupação de escriturário, que presta atendimento aos clientes, confere documentos e relatórios, realiza lançamentos, acompanha a movimentação financeira, analisa registros, entre outros: com crescimento de postos de trabalho em pelo menos cinco vezes, representou 43% do total de admissões do Vale do Sinos em junho de 2017. Novo Hamburgo representou 21,6% desse resultado e Campo Bom, 18,4%. A ocupação de escriturário também significou 73,9% das admissões de jovens de até 17 anos de idade do município de Portão, 59,26% das admissões em Canoas, 36,5% das admissões em Campo Bom e 31,76% das admissões em Novo Hamburgo.

 

Para mostrar quão concentradas são as admissões da faixa etária em algumas ocupações, em junho de 2017, temos que: em Novo Hamburgo 15,29% das admissões foram de Vendedores e Prestadores de Serviços do Comércio e 14,12% de Trabalhadores nas Indústrias Têxtil, do Curtimento, do Vestuário e das Artes Gráficas; em Campo Bom, 60,32% das admissões foram de Trabalhadores de Instalações e Máquinas de Fabricação de Celulose e Papel; e, em Canoas, 55,56% das admissões foram de Vendedores e Prestadores de Serviços do Comércio. Inversamente, a ocupação que mais indicou desligamentos para jovens de até 17 anos foi a de Trabalhadores nas Indústrias Têxtil, do Curtimento, do Vestuário e das Artes Gráficas, passando de uma participação de 61,47% em junho de 2016 para 18,21% das admissões totais do Vale do Sinos em junho de 2017. Em junho de 2016, Dois Irmãos representava 73,13% das admissões dessa ocupação no Vale do Sinos.

Pautando agora as características ocupacionais para a faixa etária que engloba jovens de 18 a 29 anos, as admissões partiram de 481 em junho de 2016 para 249 em junho de 2017, sendo a queda conduzida em 14,77% por desligamentos de Vendedores e Prestadores de Serviços do Comércio, 13,38% por Escriturários, 12,22% por Trabalhadores dos Serviços e 11,1% por Trabalhadores nas Indústrias Têxtil, do Curtimento, do Vestuário e das Artes Gráficas. O saldo mais positivo do acumulado dos meses no Vale do Sinos foi o de Novo Hamburgo, com acréscimo de 220 postos de trabalho, e o único negativo foi o de Nova Hartz, com a perda de 73 postos de trabalho desencadeados pela contração de empregos de jovens nas Indústrias Têxtil, do Curtimento, do Vestuário e das Artes Gráficas. Tal apontamento, tangente ao Vale do Sinos, fez com que o número de postos de Trabalhadores nas Indústrias Têxtil, do Curtimento, do Vestuário e das Artes Gráficas caísse quase três vezes entre o período analisado.

Destaca-se que Trabalhadores de Funções Transversais – tais como operadores de robôs, de veículos operados e controlados remotamente, condutores de equipamento de elevação e movimentação de cargas etc. – apresentaram o maior crescimento entre as ocupações de jovens de 18 a 29 anos: 26% de junho de 2016 para junho de 2017, saindo de uma participação de 24,32% do total de admissões em junho de 2016 para outra de 59,04% em junho de 2017. Assim, de um ano para outro, Novo Hamburgo perdeu participação (de 58,1% para 41,5%), mas segue como o principal município; Canoas passou de 9,4% para 22,45%; e São Leopoldo passou de 5,98% para 17,69%; assim, os três figuram com a maior participação da ocupação no Vale do Sinos. Análogo a essa evidência, temos o debate contemporâneo sobre a crescente substituibilidade do trabalhador por máquina, tão logo que crescem os postos para homens operarem máquinas que um dia talvez e provavelmente exercerão seu trabalho.

Leia mais

Comunicar erro

close

FECHAR

Comunicar erro.

Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Caracterização das juventudes trabalhadoras no Vale do Sinos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU