19 Mai 2021
Não é uma marcha à ré aquela dos bispos italianos sobre o projeto de lei Zan contra a homotransfobia, mas sim uma ligeira mudança de rota.
A reportagem é de Luca Kocci, publicada por il manifesto, 18-05-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Na verdade, se até agora a lei havia sido definida "liberticida" e perigosa para "as escolhas educacionais, o modo de pensar e de ser, o exercício da crítica e do dissenso" e os católicos eram chamados - dentro e fora das salas parlamentares – a fazer barricadas contra a aprovação, nos últimos dias o cardeal presidente da Conferência Episcopal Italiana, Gualtiero Bassetti, fez declarações mais conciliatórias.
No domingo, na saída da missa para os profissionais da informação no dia das comunicações sociais celebrado na igreja romana de Santa Maria em Montesanto, o chefe dos bispos italianos disse que a lei de combate à homotransfobia "deveria ser mais corrigida do que arquivada". O projeto de lei, acrescentou Bassetti, "poderia ser melhor redigido porque a lei deveria ser clara em todos os seus aspectos, sem subentendidos, só peço clareza".
Conceitos reiterados ontem, em entrevista ao Corriere della Sera. “Para mim não é e nunca foi um problema defender as pessoas homossexuais de insultos homofóbicos, de agressão ou violências, de forma alguma. Mas a lei deve ser clara e não se prestar a subentendidos”. Em especial, o presidente da CEI pede que "na formulação não se desvie para outros campos, para terrenos perigosos como a chamada identidade de gênero”, uma “confusão antropológica" que "coloca em discussão a diferença entre homens e mulheres" e que para "nós é inaceitável”. Isso não significa "que não se deva aceitar ou acolher as diferentes escolhas, as várias situações existenciais, as fragilidades". Mas, conclui Bassetti, “como cidadão percebo que o texto está mal escrito. Na minha opinião, a proteção contra essas situações já estava contida nas leis existentes, mas se se quer acentuá-la, então que seja acentuada: no sentido de proteção, porém. Com clareza e sem ambiguidades”.
O conteúdo, portanto, é o mesmo: a lei é supérflua, porque, segundo Bassetti, já existe "uma legislação suficiente para proteger as pessoas contra as discriminações e as violências". Mas os tons são diferentes e mais conciliatórios do que há alguns meses, quando a CEI argumentava que o projeto de lei Zan introduzia um "crime de opinião" e que pretendia "submeter a processo penal aqueles que consideram que a família exige, para ser família, um pai e uma mãe".
Conciliação que, no entanto, poderia esconder uma estratégia. De fato, se o projeto, já aprovado na Câmara, for modificado pelo Senado, o mesmo deverá então retornar ao Montecitorio para uma nova leitura, alongando os tempos de forma imprevisível e colocando em risco todo o dispositivo.
Enquanto isso, ontem no mundo católico e cristão de base (na Itália e no exterior, da Polônia à Espanha, da Hungria ao Chile), foram realizadas, como tem acontecido desde 2007, vigílias de oração e cultos evangélicos para lembrar as vítimas da violência da homofobia e da transfobia. E se há quinze anos eram celebradas de forma quase clandestina, porque as portas da maioria das igrejas católicas permaneciam fechadas - com poucas exceções de alguns padres que desafiavam também as proibições de seus próprios bispos -, agora a situação mudou definitivamente: foram realizadas vigílias "autorizadas" em dezenas de cidades italianas, de norte a sul; aquela de Civitavecchia foi presidida pelo bispo, monsenhor Giovanni Ruzza, em Milão também participou o vigário episcopal, monsenhor Luca Bressan.
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Homotransfobia. A meia marcha à ré dos bispos italianos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU