22 Mai 2020
Marco Politi, um dos vaticanistas italianos mais conhecidos e autor de “Francisco entre os lobos” (Ed. Texto & Grafia), alertou para a rejeição da oposição interna à Igreja ao Papa Francisco.
A reportagem é de Christa Pongratz-Lippitt, publicada por The Tablet, 20-05-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“[A oposição] não é uma minoria. Eu estimaria que cerca de 30% do clero, dos leigos comprometidos e dos bispos do mundo seguem a mesma linha”, disse ele ao site Domradio.de no dia 13 de maio, comentando a carta aberta do dia 8 de maio organizada pelo diplomata papal aposentado e arcebispo Carlo Maria Viganò, intitulada “Apelo para a Igreja e para o mundo, aos fiéis católicos e aos homens de boa vontade” [disponível aqui, em português].
O apelo defende que a pandemia da Covid-19 está sendo explorada para restringir os direitos básicos das pessoas – especificamente o direito de participar da missa “de modo desproporcional e injustificado”. O Papa Francisco aceitou que as restrições são necessárias.
“Absolutamente não há nenhum sentido em minimizar essa oposição, como fazem repetidamente os defensores de Francisco quando falam de uma ‘pequena minoria barulhenta”, acrescentou Politi.
“O tom do apelo é muito agressivo e lembra o da alt-right nos EUA. Além disso, Viganò tem alguns apoiadores de destaque, como o ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal Gerhard Müller, e o ex-bispo de Hong Kong, cardeal Joseph Zen. Não se deve subestimar essas pessoas. Elas são apenas a ponta do iceberg”, afirmou Politi.
No Sínodo Amazônico, vários cardeais e bispos e “um número não desprezível de clérigos e leigos” se opuseram a Francisco e a qualquer tipo de reforma da Igreja, lembrou.
Politi disse que os apoiadores do apelo estão usando a pandemia do coronavírus como uma oportunidade para provocar novamente uma “Kulturkampf”, uma guerra cultural. A verdadeira Igreja, na opinião deles, é contra o mundo moderno, e não é a Igreja do Papa Francisco, ressaltou.
Viganò e o conceito de Igreja dos seus apoiadores contradizem o apelo do Papa Francisco a todos os católicos – e as muitas Conferências Episcopais que apoiaram o apelo do papa – a ficar em casa e evitar de ir aos ritos da Igreja como um ato de amor ao próximo, a fim de não infectar a outros, disse Politi.
Politi afirmou que muitos homens da Igreja já estão tentando influenciar no próximo conclave. O superior geral dos jesuítas, Arturo Sosa, por exemplo, havia falado de uma luta política dentro da Igreja, e o cardeal Walter Kasper havia expressado pensamentos semelhantes.
“Há pessoas que preferem ver o Papa Francisco fora do caminho. Parte da estratégia delas agora é criar a atmosfera ‘certa’ e reunir as maiorias ‘certas’ para o próximo conclave.”
O correspondente da The Tablet em Roma, Christopher Lamb, concordou que a oposição a Francisco tem sido “vigorosa e sustentada”, e não deve ser subestimada. Mas ele insistiu que a maioria da Igreja aprova a direção que Francisco está tomando.
“Graças ao seu poder e influência, os adversários criaram uma impressão de que muitos concordam com a posição deles”, disse Lamb. “Mas a verdade é que [a maioria dos católicos] está com Francisco.”
Aqueles que se opõem a Francisco têm influência em Roma, disse ele, e o que está acontecendo é “uma luta pela alma do catolicismo”.
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“Não subestimem a oposição a Francisco” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU