21 Março 2013
Na igreja latino-americana, os setores progressistas sempre foram minoria, mas cresceram no tempo de João XXIII (1958-1963) e Paulo VI (1963-1978). Depois veio a condenação de João Paulo II (1978-2005) e seu cardeal Joseph Ratzinger a parte da Teologia da Libertação e o retrocesso das Comunidades Eclesiais de Base (CEB) e da nomeação de bispos renovadores. Agora, referências como o teólogo brasileiro Leonardo Boff e o bispo catalão residente no Brasil Pedro Casaldáliga têm esperanças. Francisco foi um cardeal conservador, mas moderado, e seus primeiros gestos como papa despertaram esperanças.
A reportagem é de Alejandro Rebossio, publicada pelo jornal El Pais, e reproduzida pelo portal Uol, 22-03-2013.
O ex-sacerdote Boff declarou ao semanário alemão "Der Spiegel" que "há alguns meses" Bergoglio "aprovou expressamente que um casal homossexual adotasse uma criança". Em sua coluna semanal, Boff escreveu: "Francisco tem em mente uma igreja fora dos palácios e dos símbolos do poder. É um papa que vem do Grande Sul, onde estão os mais pobres da humanidade. De baixo, poderá reformar a Cúria, descentralizar a administração e dar um rosto novo e verossímil à igreja".
Casaldáliga, que teve de se mudar de cidade em dezembro, aos 85 anos, devido às ameaças de morte que recebeu por defender indígenas do Mato Grosso, temia que fosse outro o sucessor de Bento XVI. "A eleição significa uma mudança", declarou. No jornal "O Globo", elogiou a simplicidade de Francisco, seu espírito evangelizador e o simbolismo do primeiro gesto de inclinar-se diante das pessoas que o aguardavam na praça de São Pedro. Apesar de lembrar o tempo sombrio da igreja da Argentina na última ditadura militar desse país (1976-1983), ficou esperançoso com as mudanças na Cúria.
Em El Salvador, o jesuíta espanhol Jon Sobrino advertiu, em uma entrevista ao jornal "Deia", que "Bergoglio, superior dos jesuítas da Argentina nos anos de maior repressão do genocídio cívico-militar, teve um afastamento da igreja comprometida com os pobres, não foi um (Óscar) Romero". Mas destacou "sinais pequenos, mas claros" de "simplicidade e humildade" do novo papa e desejou que "cresçam como sinais grandes".
Um dos poucos bispos argentinos que enfrentou publicamente o regime, Miguel Hesayne elogiou Francisco: "Sempre foi generoso e corajoso". Também nega qualquer ligação de Bergoglio com a ditadura e sua suposta colaboração no sequestro de dois padres jesuítas: "Alguém que queria ter uma entrevista com Bergoglio no dia em que foram capturados o encontrou chorando e dizia: 'Me sequestraram [Orlando] Yorio e [Francisco] Jalics".
O coordenador do Grupo de Padres em Opção pelos Pobres da Argentina, Eduardo de la Serna, afirma que "no compromisso libertador com os pobres, continua na linha [conservadora]. Em direitos humanos, pesa a sombra dos jesuítas desaparecidos. Não é provável que seja um papa de avanços. Há coisas que preocupam a muitos, e não creio que sejam para ele principais, como a comunhão dos divorciados, a homossexualidade e o aborto. Também não creio que haverá mudanças no papel da mulher na igreja. Podemos esperar gestos de aproximação. São coisas positivas depois de um papa tão distante quanto Bento 16, que não viu um pobre em sua vida", disse ao jornal "Página/12".
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Teólogos da Libertação apoiam os primeiros passos do papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU