Depois do que aconteceu em Cuba, o que fazer? Artigo de Flavio Lazzarin

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07 Outubro 2021

 

"Estar 'à esquerda' - para mim - é ser 'contra', mas não 'um contra' circunstancial, eleitoral e oportunista, mas sim 'um contra' radical, contra o templo e o palácio, denunciando incansavelmente tudo que é contra os seres humanos, a vida, a liberdade: como se soubéssemos o que deve ser feito, como se soubéssemos repartir o pão e as coisas da vida, como se soubéssemos que é possível fazê-lo", escreve Flavio Lazzarin, padre italiano fidei donum que atua na Diocese de Coroatá, no Maranhão, e agente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em artigo publicado por Settimana News, 03-10-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Eis o artigo.

 

Ainda somos obrigados, repetindo leituras obsoletas, a escolher entre estados e regimes que controlam indivíduos egoístas e consumistas, que se julgam livres, e estados e regimes que controlam o rebanho, obrigado por leis ferrenhas a servir ao coletivo e ao bem considerado comum? Ou é possível construir novas perspectivas e novos caminhos?

Acredito que tenha sido sempre um equívoco político pensar que fosse impossível uma alternativa às duas antropologias redutivas e doentes. Fomos escravos de dois sistemas que prometem pão e justiça para todos e, no final, traem as expectativas ilusórias.

No entanto, é preciso admitir que o socialismo funcionou pelo menos como força política que obrigou o capitalismo a ocultar sua violência desumana com a farsa da democracia e dos direitos humanos, segredo inicialmente violado pelo nazifascismo e, hoje, amplamente revelado pela barbárie da crise de civilização.

Tanto o individualismo liberal-burguês quanto o coletivismo stalinista reduzem a complexidade da experiência humana. Em cada ser humano encontramos um processo que sintetiza a irredutíveis individualidade e alteridade de cada um, juntamente com a abertura constitutiva à comunidade e à sociedade. Somos fruto e referência de relações familiares, de amizade, amor, religiosas, econômicas, políticas, somos livres e frágeis, expostos a conflitos, às vezes doentes, ameaçados pela natureza, destinados à morte, frequentemente algozes ou vítimas da violência, da fome, dos abusos, desigualdades, racismos e injustiças, sujeitos de direitos e responsabilidades.

Os estados, mas também as igrejas, não conseguem conjugar essa complexidade. E o direito e a economia mostraram por toda parte sua trágica incapacidade de respeitar e promover os seres humanos, ao longo de toda a história do Ocidente.

Portanto, estar "à esquerda" - para mim - é ser "contra", mas não "um contra" circunstancial, eleitoral e oportunista, mas sim "um contra" radical, contra o templo e o palácio, denunciando incansavelmente tudo que é contra os seres humanos, a vida, a liberdade: como se soubéssemos o que deve ser feito, como se soubéssemos repartir o pão e as coisas da vida, como se soubéssemos que é possível fazê-lo. Em suma, significa manter aceso o fogo do Ágape, da Verdade e da Justiça, servas do Reino de Jesus de Nazaré.

Quem está abrindo de novo este caminho em defesa da vida encontra-se nos setores significativos das nações e dos povos indígenas do Abya Ayala, que construíram processos civilizatórios sem o estado.

É óbvio que não poderiam ter pensado em criar alternativas de organização social quando ainda não conheciam os efeitos problemáticos e letais do estado, mas, de fato, construíram prodigiosamente sistemas que controlam a prepotência e os excessos do poder. Os chefes existem, mas não comandam, aliás, entre os povos originários, é impossível ver a coerção: ninguém comanda e ninguém obedece. E ninguém pode decidir sozinho o destino de todos.

Igualmente prodigiosamente vivem espiritualidades que dispensam os templos e as castas sacerdotais e consideram apenas a Terra como tal sagrada e espiritual.

Se “o céu está caindo” - como nos diz o xamã Yanomami Davi Kopenawa - deve ser levada a sério a profecia que pode abrir novos caminhos para sair da crise mortal que assola o Ocidente.

 

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