24 Mai 2021
"É necessário, portanto, que leigos de diferentes sensibilidades, que representam 99% da tribo, estejam envolvidos no funcionamento da Igreja, em todos os níveis", escreve Paule Zellitch, Presidente da Conférence catholique des baptisé-e-s francophones (CCBF), publicado por La Croix, 21-05-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o texto.
Quando hoje usamos a expressão “cultura da sinodalidade”, falamos no fundo de algo que deveria ser elementar na Igreja, ou seja, uma cultura da alteridade. Originalmente, a palavra sínodo vem das raízes gregas syn ("juntos"), - o que significa que todas as vozes, todas as sensibilidades devem ser ouvidas -, e hodos ("o caminho"), - o que implica que nenhuma decisão deve cair do alto na estrada: é preciso poder avançar sem argumentos tabus, colocando tudo em pauta para discernir. Isso pressupõe que a pessoa não fique sempre no grupo restrito, principalmente com as mesmas pessoas nos cargos de tomada de decisão. E não impede de forma alguma a responsabilidade e o ofício dos bispos, é uma outra forma de fazer Igreja.

Foto: Cathopic
Há um problema ligado a como a Igreja na França está mudando: apenas 34% dos batizados hoje se declaram católicos, mas não está claro qual é sua relação com a instituição. Os praticantes são 2%. Quando se fala em consultar os católicos, de quem estamos falando? Não se pode imaginar que a Igreja avance consultando apenas aqueles 2%. A Igreja deve dar um jeito para que isso vá mais longe. E, para isso, deve superar a fixidez, voltar às coisas simples, com a introdução da alteridade e, portanto, com a diversidade de posições, palavras, estados de vida na instituição. É necessário viver verdadeiramente um retorno ao Evangelho. Aqui na CCBF as coisas acontecem de forma muito deliberativa, com a preocupação de ir tanto para os cristãos "da nave principal da igreja", como para aqueles "do adro", aqueles “das periferias". Não guardamos nada em segredo. No entanto, também não praticamos a indiscrição espiritual, e isso está na base da liberdade interior e da recusa do controle. Até hoje, muitos batizados de boa vontade foram desencorajados, porque foram designados a eles apenas cargos administrativos ou de caridade, enquanto muitos católicos são capazes e dispostos de se engajar em iniciativas de transformação eclesial, nas quais se envolveriam pessoalmente, seriam considerados, nas quais sua voz seria importante!
É necessário, portanto, que leigos de diferentes sensibilidades, que representam 99% da tribo, estejam envolvidos no funcionamento da Igreja, em todos os níveis. Que sejam consultados em todos os lugares. As ciências sociais nos fornecem muitos métodos para realizar, com profissionais, amplas consultas com perguntas abertas. Depois disso, será importante confrontar - talvez a cada dois ou três anos - os resultados obtidos para cada problema proposto. Não se trata de um protocolo inquisitorial, mas de uma forma de balanço, tendo em vista o objetivo. Daí resultará a seriedade e a "performatividade" do caminho para sair da cultura dos abusos, para uma cultura da corresponsabilidade bem colocada.
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Por uma Igreja mais sinodal: “Consultar muito mais os leigos” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU