22 Abril 2021
A discriminação de gênero é um motor fundamental e causa da pobreza. “Apenas uma agenda mais abrangente e transformadora que aborde as raízes da violência pode mudar a experiência das mulheres e, em última instância, sustentar a paz. Soluções significativas serão encontradas quando houver vontade de abordar as causas que produzem a vulnerabilidade e a exposição a essa violência em primeiro lugar”.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
A opinião é de Amanda Khozi Mukwashi, diretora executiva da Christian Aid, uma ONG que representa 41 denominações religiosas da Grã-Bretanha voltada à assistência solidária em situações de emergência e desenvolvimento.
Se não for abordada a ligação fundamental entre raça, pobreza, desigualdade e violência, “estaremos apenas arranhando a superfície das formas e das causas que produzem a violência”, afirmou em entrevista para o serviço de imprensa do Conselho Mundial de Igrejas.
Globalmente, analisou a entrevistada, as injustiças continuam à medida que os sistemas econômicos que existem exploram os mais pobres do mundo. E quem são os mais pobres? A maioria dos mais pobres, apontou, “são negros e pardos, independentemente de onde estejam. Portanto, é necessária uma abordagem mais abrangente”.
Amanda é embaixadora das Quintas-Feiras em Preto, do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), uma campanha que empodera mulheres a enfrentarem a violência doméstica e de gênero. Na cultura ocidental, a cor preta representa o luto ou ganha conotações raciais negativas. Na campanha, o preto significa a cor da resistência e da resiliência.
Dados da ONU apontam que antes da pandemia do covid-19, 243 milhões de mulheres e meninas no mundo, com idade entre 15 e 49 anos de idade, sofreram algum tipo de violência sexual ou física da parte de um parceiro íntimo. Com a covid esse quadro só piorou. Por isso, enfatizou Amanda, a chamada coletiva por um mundo sem estupro e violência é crítica e urgente.
“Quase todos os dias acordamos com um fluxo interminável de notícias que nos deixa desesperadas. Em tempos de paz e em tempos de conflito e deslocamento, os corpos das mulheres em todo o mundo são alvo de violência, como campos de batalha e zonas de guerra”, comparou.
Amanda reportou-se ao relatório da Christian Aid – Of The Same Flesh: Exploring a Theology of Gender (Da mesma carne: explorando uma teologia de gênero) para indicar como a linguagem da fé e das normas sociais costuma ser a chave que molda as expectativas das mulheres e dos homens sobre quem deveriam ou poderiam ser.
A diretora da organização humanitária destacou a atuação de Débora, relatada no livro de Juízes, como uma figura inspiradora por conduzir Israel à vitória e paz por 40 anos. Débora “obtém sua força e confiança ao confiar em Deus. Ela se levanta e fala numa sociedade muito patriarcal. Há uma razão pela qual a Bíblia destaca sua história e sou grato por isso”, assinalou.