Gulumapu e Puelmapu, juntos contra o terrorismo estatal argentino e chileno

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08 Agosto 2020

“A plurinacionalidade deve ser delineada para além dos limites territoriais dos Estados, que estão pensados a partir de lógicas econômico-militares e não das comunidades e ecossistemas”, escreve Andrés Kogan Valderrama, sociólogo, em artigo publicado por OPLAS, 06-08-2020. A tradução é do Cepat.

Eis o artigo.

A propósito das violentas ações racistas cometidas na noite do dia 1º de agosto, por parte de setores da ultradireita do Chile contra integrantes de comunidades mapuche, pretende-se problematizar um processo de colonização do Wallmapu por parte do Estado da Argentina e do Chile, iniciado no século XIX.

Os comuneiros estavam em um processo de tomada de diferentes municípios da Província de Malleco, como forma de pressão pela situação de 27 presos políticos mapuche, que estão em greve de fome.

Um processo colonial dos dois Estados, nomeado por meio de um discurso racista como a “Conquista do Deserto” e a “Pacificação da Araucanía”, evidencia explicitamente a concepção de inferioridade e de selvagerismo das elites políticas, militares, econômicas e religiosas a respeito do povo mapuche.

Sendo assim, esta situação pontual ocorrida nada mais é do que a herança de um processo de limpeza étnica e de terrorismo estatal. Embora possa se situar historicamente nas campanhas realizadas por parte do conquistador argentino Julio A. Roca e do conquistador chileno Cornelio Saavedra, em meados do século XIX, tem sido constante o aprofundamento daquele etnocídio e ecocídio, diretamente relacionados à expansão da produção agropecuária, petroleira, florestal, mineira, salmoneira, hidrelétrica, para sustentar economias extrativas que se dedicam principalmente à pilhagem desenfreada de bens comuns.

Não é por acaso, portanto, que o genocídio, a perseguição e o deslocamento de comunidades mapuche tenha se mantido historicamente, em maior ou menor medida, independente dos diferentes governos da Argentina e Chile, sejam eles liberais, conservadores, socialistas ou peronistas, que enxergaram o mapuche como um obstáculo para alcançar um ideal de progresso, desenvolvimento ou revolução, que nada mais é do que a imposição de um projeto civilizatório de morte, cujo principal fim é colonizar todos os territórios possíveis, sem importar o custo humano e da Mãe Terra.

Não obstante, será com a imposição de ditaduras nos dois países, nos anos 1970, e depois com a implementação de receitas neoliberais, que se iniciará um processo de privatização dos territórios mapuche, com grandes empresas se instalando para explorar essas terras a partir de uma lógica puramente de acumulação capitalista, com uma evidente cumplicidade da classe política, com a volta da democracia na Argentina e no Chile. Tanto os governos de Carlos Menem como os da Concertación se subordinaram completamente ao capital transnacional.

Os casos de inícios dos anos 1990, por parte do grupo Benetton, na Argentina, e da empresa Endesa, no Chile, nada mais foram do que o começo de um processo de apropriação de milhares de hectares e de fontes de água, somados ao realizado por outras grandes empresas dedicadas à superexploração de árvores, salmões, petróleo, minerais (Arauco, Colbún, YPF-Chevron, Enel, Ima Resources, Agrosuper, Pan American Silver, Metallurgical Construction Corporation), que serviram para desenvolver o negócio extrativo, por meio da pilhagem privada, sendo o Estado dos dois países o afiançador, mediante a militarização, a repressão, o encarceramento e a instalação de um Estado Uninacional, com leis antiterroristas, implementando a ideia de um mapuche como inimigo interno.

Soma-se a isso, o assassinato de dirigentes pela causa mapuche, nos últimos anos, com a conivência dos dois Estados, como aconteceu com Santiago Maldonado, Rafael Nahuel, Matías Catrileo, Alex Lemun, Macarena Valdés, Camilo Catrillanca, entre outras pessoas. Além disso, o assédio sistemático a Alberto Curamil, a quem, apesar de ter recebido o Prêmio Ambiental Goldman 2019, o Estado do Chile preferiu prender por se mobilizar contra o Projeto Hidrelétrico Alto Cautín.

É por todo esse cenário semelhante historicamente, por parte do Estado da Argentina e do Chile, que a luta pela autodeterminação do Wallmapu necessariamente deve ser entre Gulumapu (terra mapuche do oeste) e Puelmapu (terra mapuche do leste), só assim se poderá gerar um horizonte descolonizador. Daí que a plurinacionalidade deve ser delineada para além dos limites territoriais dos Estados, que estão pensados a partir de lógicas econômico-militares e não das comunidades e ecossistemas.

 

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