A institucionalização do “E daí!??”

Mais Lidos

  • Pornografia bíblica

    LER MAIS
  • A religião do Eu acredita apenas no dinheiro, mas amor e estima não se compram. Artigo de Vito Mancuso

    LER MAIS
  • Sobre a mulher e o gênero. Uma carta aberta de Andrea Grillo a Luigi Maria Epicoco

    LER MAIS

Newsletter IHU

Fique atualizado das Notícias do Dia, inscreva-se na newsletter do IHU


Revista ihu on-line

Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

Edição: 552

Leia mais

Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

Edição: 551

Leia mais

Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

Edição: 550

Leia mais

28 Mai 2020

"O monstruoso “E daí!??” daquele que não respeita o luto das famílias que choram, transformou-se em mote publicitário de um impulso necropolítico que cansou de escamotear-se atrás de argumentos retóricos vazios, e que agora decidiu revelar toda sua perversidade", escreve Vicente Brazil, doutor em Filosofia, é professor da Universidade Estadual do Ceará.

Eis o artigo.

Recentemente, em mais uma campanha publicitária desastrosa do governo federal, o Ministério da Saúde demonstrou como as estratégias de governamentalidade no Brasil atual nada mais são do que um ressoar irrefletido da forma grotesca de pensar de um só indivíduo. Aquilo que deveria ser resultado de uma ação governamental em vista ao desenvolvimento de uma política de estado, reduz-se a um personalismo meramente reprodutivo de narcisismos.

A peça publicitária “Placar da vida” – paradoxalmente contrária àquilo que pretende ser, demonstrado através da associação com a hashtag#ninguémficapratrás” – concentra-se na apresentação de dados sobre a pandemia de COVID-19 no Brasil a partir de um ponto de vista muito peculiar. Partindo do argumento da necessidade de maior divulgação de boas notícias, o Ministério da Saúde concentrou-se na apresentação apenas dos dados relativos àqueles que foram “salvos” dos efeitos do coronavírus e daqueles que ainda estão “em recuperação”. Imaginam assim, os marqueteiros da Secom do Governo Federal, que para a construção de uma sensação coletiva de bem-estar, basta a divulgação massiva de alguns dados em detrimentos de outros. Em resumo, basta esconder o número galopante de óbitos acumulados desde o início da pandemia para que o grande público sinta-se reconfortado.

Desta forma, a insensibilidade facínora de um indivíduo ganha contornos de projeto político governamental.

O monstruoso “E daí!??” daquele que não respeita o luto das famílias que choram, transformou-se em mote publicitário de um impulso necropolítico que cansou de escamotear-se atrás de argumentos retóricos vazios, e que agora decidiu revelar toda sua perversidade.

Nenhum número deve ser omitido exatamente porque nenhuma vida pode ser esquecida. A crueldade da citada campanha publicitária do MS só torna duplamente aumentado o sofrimento das famílias que não podem mais abraçar seus entes queridos, pois no “placar” do governo federal, os vitimados pela COVID-19 são os perdedores ausentes, não nomeados, violentamente esquecidos.

Toda vida conta e deve ser contada.

Leia mais

Comunicar erro

close

FECHAR

Comunicar erro.

Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

A institucionalização do “E daí!??” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU