Papa às petrolíferas: ''É preciso agir aqui e agora, o tempo está se esgotando''

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17 Junho 2019

A crise climática “requer de nós uma ação determinada, aqui e agora”: foi o que disse o papa aos líderes das companhias petrolíferas recebidos no Vaticano pelo segundo ano consecutivo. “Caros amigos, o tempo está se esgotando!”, afirmou Francisco, que, assegurando suas orações pelas “decisões” dos seus hóspedes, recordou a validade do Acordo de Paris sobre a transição ecológica e, a poucos dias do aniversário da publicação da encíclica Laudato si’  (24 de maio de 2015), ele reiterou que “são os pobres que sofrem o pior impacto da crise climática”. Jorge Mario Bergoglio, que nos últimos meses se encontrou com a jovem ambientalista sueca Greta Thunberg, também enfatizou que “os jovens exigem uma mudança”.

A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada em Vatican Insider, 14-06-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

É o segundo ano que o papa recebe os representantes da indústria petrolífera. Também neste ano, o congresso de dois dias, nessa quinta e sexta-feira, foi organizado junto à Casina Pio IV, sede da Pontifícia Academia das Ciências, do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral e do Mendoza College of Business da Universidade de Notre Dame.


Greta Thunberg e Papa Francisco, no Vaticano, em abril de 2019. Foto: Vatican News

Participam do “diálogo”, intitulado “A transição energética e a proteção da casa comum”, como relatado nos últimos dias pelo site norte-americano Axios: Ben Van Beurden, CEO da Royal Dutch Shell; Michael Wirth, CEO da Chevron; Barbara Novick, vice-presidente e cofundadora da BlackRock; Larry Fink, CEO da BlackRock; Ryan Lance, CEO da ConocoPhillips; Darren Woods, CEO da ExxonMobil; Bob Dudley, CEO da BP. Também estava prevista a presença da empresa italiana Eni.

“O fato de vocês se reencontrarem em Roma, depois do encontro do ano passado, é um sinal positivo do seu constante compromisso de trabalhar juntos em um espírito de solidariedade, a fim de promover passos concretos para a proteção do nosso planeta”, disse-lhes o papa. “Eu lhes agradeço por isso”, continuou, ressaltando que “a atual crise ecológica, especialmente as mudanças climáticas, ameaça o próprio futuro da família humana. Por muito tempo, ignoramos coletivamente os frutos das análises científicas, e – continuou Francisco citando a Laudato si’ – “as previsões catastróficas já não podem mais ser olhadas com desprezo e ironia’”.

O pontífice argentino lembrou, em particular, que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas prevê, em seu relatório, que haverá efeitos “catastróficos” sobre o clima “se ultrapassarmos o limite de 1,5ºC delineado no objetivo do Acordo de Paris” e que “falta pouco mais de uma década para alcançar essa barreira do aquecimento global”.

“Diante de uma emergência climática, devemos tomar as medidas oportunas para poder evitar cometer uma grave injustiça para com os pobres e as futuras gerações”, disse o papa. “Devemos agir com responsabilidade e considerando bem o impacto das nossas ações no curto e no longo prazo. Com efeito, são os pobres que sofrem o pior impacto da crise climática. Como demonstra a atual situação, os pobres são os mais vulneráveis aos furacões, à seca, às inundações e aos outros eventos climáticos extremos.”

Além disso, “as futuras gerações estão prestes a herdar um mundo muito arruinado. Os nossos filhos e netos não deveriam ter que pagar o custo da irresponsabilidade da nossa geração. De fato, como se torna cada vez mais evidente, os jovens exigem uma mudança”, sublinhou o papa.

E, de improviso, acrescentou: “Peço desculpas, mas gostaria de sublinhar isto: eles, os nossos filhos, os nossos netos não terão que pagar, não é justo que eles paguem o custo da nossa irresponsabilidade. De fato, como está se tornando cada vez mais evidente, os jovens exigem uma mudança. O futuro é nosso’, gritam os jovens hoje, e eles têm razão!”.

Entrando nos detalhes da discussão do colóquio vaticano, Francisco destacou, acima de tudo, que uma correta transição ecológica, “referida no Preâmbulo dos Acordos de Paris”, “pode gerar novas oportunidades de emprego, reduzir a desigualdade e aumentar a qualidade de vida para aqueles que são atingidos pelas mudanças climáticas”.

Em segundo lugar, falando em particular do carvão, o papa, que convocou para outubro um Sínodo especial para a Amazônia, destacou que a utilização dos recursos ambientais comuns “só pode ser considerado ético quando os custos sociais e econômicos do seu uso são reconhecidos de maneira transparente e são plenamente apoiados por aqueles que deles usufruem, ao invés de por outras populações ou pelas gerações futuras”.

E, finalmente, a transparência para relatar os riscos climáticos “é essencial, porque os recursos econômicos devem ser explorados onde podem trazer o máximo bem”.

“Caros amigos, o tempo está se esgotando!”, concluiu o papa. “As reflexões devem ir além das meras explorações do que pode ser feito e se focar no que precisa ser feito. Não podemos nos dar ao luxo de esperar que os outros se apresentem ou de dar prioridade às vantagens econômicas de curto prazo. A crise climática requer de nós uma ação determinada, aqui e agora, e a Igreja está plenamente comprometida em fazer a sua parte.”

Hoje, disse Jorge Mario Bergoglio, “é necessária uma transição energética radical para salvar a nossa casa comum. Ainda há esperança, e resta tempo para evitar os piores impactos das mudanças climáticas, contanto que haja uma ação pronta e resoluta, porque sabemos que “os seres humanos, capazes de se degradar ao extremo, também podem se superar, voltar a escolher o bem e se regenerar”, disse o Papa Francisco, citando novamente a Laudato si’ e assegurando aos petroleiros as suas “orações” pelas suas “decisões”.

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