15 Janeiro 2019
O padre Paulo Ricardo de Azevedo, que atua em Cuiabá (MT) e que ganhou fama na semana passada depois de o presidente Jair Bolsonaro compartilhar um vídeo no Twitter onde o religioso defende o armamento da população, afirmou em um programa de TV que o governo da Suécia obriga todas as crianças a usarem uniforme de cor laranja e relacionou a suposta norma com a chamada "ideologia de gênero" e acabou sendo desmentido pela Embaixada do País no Brasil.
A reportagem é de Alexandre Aprá, publicada por Isso É Notícia, 12-01-2019.

Bolsonaro e padre Paulo Ricardo de Azevedo | Foto: Congresso em Foco
As declarações do padre, que é conhecido como o "Malafaia" da Igreja Católica, foram ao ar pela TV Canção Nova no dia 4 de janeiro, em programa que repercutia a declaração da ministra Damares Alves, de que, a partir de agora, "meninos vestem azul e meninas, rosa".
"Na Suécia, o governo obriga os alunos - meninos e meninas - a se vestir de cor laranja. (...) existe um projeto educacional chamado "ideologia de gênero" que já está implantado em muitos países que pegam as crianças desde a mais tenra infância e obrigam a criança a ter uma sexualidade neutra", declarou o padre.
Segundo a Embaixada, ao contrário do que foi dito pelo padre, as escolas da Suécia são impedidas de exigirem uniformes dos alunos. Atualmente, a Suécia é o 8º País com o melhor IDH do mundo. O Brasil está na 79ª posição.
O desmentido da Embaixada aconteceu após o professor Josemar De Campos Maciel, da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), de Campo Grande (MS), publicar o vídeo com as declarações do padre na página do Facebook da embaixada sueca e receber uma resposta oficial do órgão. Ele republicou a resposta oficial no seu perfil.
Na mesma ocasião, o religioso ainda afirmou que, naquele País, os pais que não aceitam educar seus filhos conforme o que determina o Estado sueco são obrigados a se exilar em ilhas no Atlântico Norte.
Para Paulo Ricardo, a Suécia é um Estado totalitário que quer controlar a forma como os pais educam os seus filhos. No vídeo, o religioso chegou a tratar as crianças suecas como "laranjinhas" por conta da suposta norma dos uniformes escolares que não existe.
A Suécia também informou que não possui ilhas e territórios no Atlântico Norte e que o Estado sueco não interfere em questões de cunho privado ou familiar.
O país escandinavo ainda declarou lá "eles e elas são ensinados que podem conseguir qualquer coisa independente do seu gênero, origem, cor e religião".
Padre Paulo Ricardo é fiel escudeiro de Jair Bolsonaro. Durante a campanha eleitoral, em um vídeo viralizado por sites alinhados com a extrema direita, o padre foi flagrado "pregando" que o então candidato do PSL foi esfaqueado por "falar a verdade".
Já posou com uma espingarda ao lado do não-menos lunático Olavo de Carvalho, com quem também divide "hangouts" intitulados "Método filosófico", publicados no YouTube.
O religioso divulga vídeos na internet onde denuncia, entre outras coisas, o "globalismo", a invasão comunista e a ideologia de gênero no Brasil.
Confira as declarações do padre na TV e o desmentido da Embaixada da Suécia:
A Embaixada da Suécia respondeu oficialmente, a mim, hoje.
Não há uniforme obrigatório na Suécia.
A "igualdade" é para as crianças acreditarem que o fato de terem gêneros, cores ou origens diferentes não as limita. Segue o texto, breve mas elucidador.
"Prezado Josemar,
Agradecemos por compartilhar o vídeo.
Esclarecemos que no sistema educacional da Suécia não é permitido o uso de uniforme obrigatório. Além disso, em todos os níveis do sistema escolar, meninos e meninas são tratados igualmente. Eles e elas são ensinados que podem conseguir qualquer coisa independente do seu gênero, origem, cor e religião.
Também gostaríamos de esclarecer que a Suécia não possui territórios no Atlântico Norte e que o Estado não interfere em questões de cunho privado ou familiar.
Att.
Equipe de Redes Sociais
Embaixada da Suécia"
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Embaixada da Suécia desmente fakenews de 'padre bélico' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU