12 Novembro 2018
Comandante das Forças Armadas, o general Eduardo Villas Bôas se manifestou publicamente pela primeira vez depois que fez advertências, em redes sociais, na véspera do julgamento em que o Supremo Tribunal Federal (STF) negou habeas corpus ao ex-presidente Lula. Na ocasião, o militar escreveu uma mensagem de "repúdio à impunidade" e que o Exército brasileiro "se mantém atento às suas missões institucionais". A mensagem, lida no final do Jornal Nacional (TV Globo) daquele 3 de abril, soou como uma ameaça de ação militar em caso de soltura do presidente, que viria a ser preso quatro dias depois, em 7 de abril.
A reportagem é publicada por Congresso em Foco,11-11-2018, a partir da entrevista do general Eduardo Villas Bôas à Folha de S.Paulo.
"Eu reconheço que houve um episódio em que nós estivemos realmente no limite, que foi aquele tuíte da véspera do votação no Supremo da questão do Lula. Ali, nós conscientemente trabalhamos sabendo que estávamos no limite. Mas sentimos que a coisa poderia fugir ao nosso controle se eu não me expressasse. Porque outras pessoas, militares da reserva e civis identificados conosco, estavam se pronunciando de maneira mais enfática. Me lembro, a gente soltou [postagem no Twitter às] 20h20, no fim do Jornal Nacional, o William Bonner leu a nossa nota", recorda o militar, em entrevista ao jornalista Igor Gielow, do jornal Folha de S.Paulo.
Na ocasião, como o Congresso em Foco antecipou, internautas interagiram com o militar e alguns até o apoiaram, mas houve forte reação de outros seguidores e de grupos da sociedade civil organizada. Mas Villas Bôas minimiza as críticas que recebeu.
"Do pessoal de sempre, mas a relação custo-benefício foi positiva. Alguns me acusaram... de os militares estarem interferindo numa área que não lhes dizia respeito. Mas aí temos a preocupação com a estabilidade, porque o agravamento da situação depois cai no nosso colo. É melhor prevenir do que remediar", acrescentou o general, que luta contra uma doença degenerativa e tem se locomovido em uma cadeira de rodas.
Ainda segundo Villas Bôas, a eleição do capitão da reserva Jair Bolsonaro (PSL) não significa ameaça de retrocesso com um eventual retorno dos militares ao comando do país. "A imagem dele como militar vem de fora. Ele é muito mais um político. Estamos tratando com muito cuidado essa interpretação de que a eleição dele representa uma volta dos militares ao poder. Absolutamente não é", assegurou o general.
Leia mais
- Do general Villas Bôas à reserva, a ofensiva dos militares que querem voz na política
- ‘Ordem do dia dos plúmbeos tempos ditatoriais’, diz Instituto dos Advogados sobre a mensagem de Villas Bôas
- O general falastrão e a esquerda imóvel
- A apreensão com a força de Bolsonaro entre os militares
- Tensão e sombras após o julgamento do STF e a apressadíssima ordem de prisão de Lula. Entrevistas especiais com Adriano Pilatti, Roberto Romano, Rudá Ricci, Ivo Lesbaupin, Bruno Lima Rocha, Moysés Pinto Neto e Robson Sávio
- Para entender a crise da democracia, é preciso compreender o senso comum do cidadão médio. Entrevista especial com Henrique Abel
- A nova direita e a conexão com o desejo de mudança. Entrevista especial com Roberto Andrés
- O populismo neoliberal venceu. Entrevista especial com Paulo César Carbonari
- “A prisão de Lula vai contaminar a democracia no Brasil nas próximas gerações”. Entrevista com João Moreira Salles
- Juiz do TRF-4 e Moro afrontam regras na peleja jurídica por prisão de Lula
- Bernie Sanders e congressistas dos EUA criticam congelamento de gastos por 20 anos e prisão de Lula
- Análise da política brasileira após a prisão de Lula
- Brasileiros se dividem sobre prisão de Lula e desconfiam de seletividade na Lava Jato, diz pesquisa
- Do “impeachment” de Dilma à prisão de Lula: o golpe continua. Artigo de Ivo Lesbaupin
- Especialistas em Direito veem características 'atípicas' em ordem de prisão de Moro contra Lula
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Lula solto poderia tirar militares do controle, diz comandante do Exército: “Estávamos no limite” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU