Quando Hitler exaltava o grande herói protestante

Mais Lidos

  • A rede de estradas dos incas, guaranis e outras etnias vira tema de livro do professor da UFPel

    Pesquisador desbrava o caminho milenar dos povos originários da América do Sul. Entrevista com Carlos Dominguez

    LER MAIS
  • Como o PT abraçou o Centrão e deixou Marina e Sonia à deriva

    LER MAIS
  • Agroecologia: Os modos de ser, de produzir e de lutar. Artigo de Denise de Sordi

    LER MAIS

Newsletter IHU

Fique atualizado das Notícias do Dia, inscreva-se na newsletter do IHU


Revista ihu on-line

Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

Edição: 552

Leia mais

Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

Edição: 551

Leia mais

Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

Edição: 550

Leia mais

02 Novembro 2017

Em 1922, Adolf Hitler escreveu que Jesus “é o nosso maior Führer ariano”. Talvez seja a mais gigantesca “fake news” da história. Mas já trai uma ambição que os nazistas transformariam, uma década depois, em religião de Estado. Apagar todos os vestígios do judaísmo da Bíblia, declarar “prejudicial” o Antigo Testamento, negar até que Jesus fosse judeu. Uma mistificação monstruosa que levou os nazistas a fundarem, em 1939, em Eisenach, um instituto para “desjudeizar” a tradição cristã. E que eles motivaram também através do violento antissemitismo da fase tardia de Martinho Lutero.

A reportagem é de Tania Mastrobuoni, publicada no jornal La Repubblica, 31-10-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

É o que conta a bela mostra sobre “Lutero e o nazismo”, montada no Museu da Topographie des Terrors, no antigo quartel-general da Gestapo, em Berlim.

O pai da Reforma protestante tornou-se, desde o início, uma figura fundamental da propaganda nazista. E não só pelo seu antissemitismo. Desde a unidade alemã e da fundação do Reich em 1871, o homem que havia se rebelado contra o papa e que, de acordo com Thomas Mann, havia libertado o espírito dos alemães traduzindo a Bíblia para a língua deles era considerado um pai da pátria.

Na perene tendência à perversão de tudo, os nazistas o transformaram em um segundo Führer. O teólogo Hans Preuss, em seu livro “Luther, Hitler”, escreve que “ambos são chamados a salvar o seu povo. De ambos eleva-se o grito pelo Homem Novo da salvação”.

E o historiador Heinrich Bornkamm distorce o pensamento do reformador até retraçar nos seus escritos um antissemitismo não dirigido “contra o judeu em si”, mas motivado pelo conceito de raça.

Hans Delbrück morreu em 1929 e não assistiu à deriva da sua “História universal”, cuja última parte é confiada a um fervoroso nazista como Konrad Molinski. Na capa, duas figuras-símbolo da época moderna e da contemporânea, de acordo com a Alemanha da época: Lutero e Hitler.

Naqueles anos, consuma-se um divórcio dramático entre os teólogos e os historiadores protestantes alemães e os do resto do mundo, e, já em 1933, por ocasião dos festejos pelo 450º aniversário do nascimento do pai da Reforma, o governador da Turíngia pôde dizer, eufórico, que “Lutero é nosso”.

Certamente, na loucura coletiva, nascem também bolsões de resistência, como a Bekennende Kirche, a de Karl Barth ou de Dietrich Bonhoeffer. Este comentará, amargamente: “Vejo a palavra de Lutero por toda a parte, transformada de verdade em engano”.

Em 1939, um relatório da Gestapo detecta uma diferença substancial entre protestantes e católicos. Entre os primeiros, ela registra “orações sinceras pelo Führer e pelo povo alemão, que surgem de uma profunda compreensão dos acontecimentos de hoje”, ou seja, aqueles que estão empurrando a Alemanha e o mundo inteiro para o abismo da guerra.

Entre os católicos, no entanto, a Gestapo observa com desconforto que se fala de “tempos difíceis” com os quais Deus está pondo os alemães à prova, para que encontrem a “reta via à verdadeira Igreja e ao verdadeiro Deus”. Que não é o Führer nazista, evidentemente.

Leia mais

Comunicar erro

close

FECHAR

Comunicar erro.

Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Quando Hitler exaltava o grande herói protestante - Instituto Humanitas Unisinos - IHU