13 Agosto 2017
No início, foram as 29 sepulturas improvisadas encontradas na quarta-feira pela equipe da Organização Internacional para as Migrações (OIM) em uma praia de Shabwa, no Iêmen, o atracadouro improvisado onde, poucas horas antes, tinham desembarcado algumas dezenas de migrantes em fuga do Chifre da África.
A reportagem é de Francesca Paci, publicada no jornal La Stampa, 11-08-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Os sobreviventes, quase todos entre 16 e 18 anos, contaram que tinham enterrado seus companheiros de viagem jogados ao mar pelos contrabandistas depois da epopeia que reúne todos aqueles que escapam da fome e da miséria.
Depois, de novo, nessa quinta-feira, a recuperação de cinco cadáveres ao longo das mesmas costas de Shabwa, cinco corpos perdidos de uma suposta carga de 180 pessoas, das quais pelo menos cerca de 50 continuam desaparecidas e são dadas como mortas.
Os números, como muitas vezes ocorre nessas circunstâncias, ainda são incertos. Fala-se de cerca de 300 homens jovens abandonados no mar em menos de 48 horas pelos carrascos, que tinham sido pagos a peso de ouro para levá-los para a outra margem. Poderiam ser menos ou mais: a memória dos sobreviventes é vaga, confusa, aguada.
Quer se trate da nova fronteira cada vez mais imprudente do tráfico humano, como defendem alguns estudiosos do fenômeno, quer, nas palavras do porta-voz da OIM, Flavio Di Giacomo, se trate da “reedição dos mesmos métodos de crueldade já observados no passado no Mediterrâneo”, estamos diante de um fenômeno cada vez mais alarmante, considerando que, desde o início do ano, mais de 55.000 pessoas partiram da Somália, Etiópia e Eritreia em direção aos opulentos países do Golfo através do martirizado e perigosíssimo Iêmen em guerra.
Na “melhor” das hipóteses, estamos diante da pressa dos traficantes para se livrarem dos passageiros do barco antes de serem interceptados. Na pior (e é a hipótese de algumas autoridades da OIM em Genebra), de uma tentativa “deliberada” de afogar os migrantes já enfraquecidos e, portanto, inúteis, que, se confirmado como novo modus operandi, elevaria o número de mortes no mar (no Mediterrâneo, desde o início de 2017, morreram 205 pessoas).
O trecho que liga o Chifre da África à Península Arábica recebe menos atenção da mídia do que o Canal da Sicília, mas é igualmente muito frequentado. Quem nele entra, deixa para trás um passado em comparação com o qual é aceitável até a passagem pelo Iêmen, considerado um dos países mais perigosos do mundo, onde há anos explodiram a guerra civil, os ataques aéreos da coalizão de liderança saudita, fomes em sequência e surtos de cólera.
E, enquanto nos primeiros meses de 2017 o número dos migrantes que chegaram à Europa através do Mediterrâneo alcançou a cifra de 116.692 (menos da metade dos 263.436 de 2016, dos quais 83% na Itália e o restante na Grécia, Chipre e Espanha), onde a marinha líbia impôs nessa quinta-feira, a todos os navios estrangeiros, a proibição de socorrer os migrantes nas áreas consideradas de “search and rescue”, a OIM alerta sobre outras rotas, a que atravessa o Mar da Arábia, mas também a outra, igualmente arriscada, que passa pelas dunas do Saara.
Nos últimos três meses e meio, o pessoal da OIM e de outros órgãos da ONU ocorreu mais de mil migrantes abandonados no deserto. Também lá, assim como na costa do Iêmen, os traficantes se livram da sua carga no meio do nada que separa o norte do Níger e a Líbia: homens, crianças e mulheres, como os originários da Nigéria e de Gana encontrados pela equipe de Alberto Preato da OMI Niger há poucas semanas em um hangar nos arredores da fronteira, onde esperavam o próximo grupo de traficantes.
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A nova fronteira do horror no Iêmen: 300 refugiados jogados ao mar em dois dias - Instituto Humanitas Unisinos - IHU