“A situação dos imigrantes nos Estados Unidos deve mudar”. Entrevista com o cardeal O’Malley

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03 Junho 2017

O arcebispo de Boston, o cardeal Sean Patrick O’Malley, esteve em Denver e celebrou a Santa Missa em espanhol no dia 28 de maio passado na Paróquia da Anunciação. Os fiéis o receberam de maneira acolhedora e carinhosa com um almoço e uma apresentação de ‘matachines’ [dança rural típica do México de cunho religioso]. O Denver Catholic em Espanhol conversou com ele sobre os desafios da comunidade hispânica neste país.

A entrevista é de Carmen Elena Villa, publicada por Denver Catholic, 30-05-2017. A tradução é de André Langer.

Eis a entrevista.

Qual é o motivo que o trouxe a Denver?

Vim para dar a Primeira Comunhão a um sobrinho.

Como vê a comunidade católica hispânica dos Estados Unidos?

Vejo a comunidade hispânica crescendo, numerosa e ativa. Admiro o entusiasmo, a religiosidade popular, os valores da família, do trabalho e da participação.

Onde aprendeu o espanhol?

Em Washington D.C.

Você foi o diretor executivo do centro hispânico na Conferência dos Bispos em Washington... Como chegou a esse cargo?

Eu morei em Washington entre 1965 e 1984. Na época em que eu servia em Washington houve muita migração por causa das guerras na América Central. Inclusive quando eu era diácono me comunicaram que iria trabalhar na Ilha da Páscoa, no Chile, com os capuchinhos. Mas antes da minha ordenação sacerdotal o arcebispo de Washington D.C disse ao meu provincial: “Tenho apenas um padre que fala espanhol. Por isso, deixe esse irmão aqui”. Foi por isso que fiquei 20 anos em Washington trabalhando com os hispânicos.

Como vê a realidade dos hispânicos daquela época comparada com a atual?

Era a época das guerras na América Central e muitos eram camponeses e refugiados. Eles fugiam da violência e da miséria. Suas terras foram destruídas pelas guerras. Era muito perigoso. Havia especialmente muitíssimos imigrantes de El Salvador. Nessa época, conheci muito de perto (o atual beato) dom Romero. A grande maioria dos fiéis não tinha documentos. Vemos que, passadas tantas décadas, continuamos na mesma situação.

Que resultados acha que pode trazer o V Encontro da Pastoral Hispânica nos Estados Unidos?

Estou muito entusiasmado, porque me disseram que vão insistir muito na segunda geração: os jovens hispânicos que nasceram aqui e que muitas vezes estão afastados da fé. Às vezes, também, têm uma crise de identidade cultural e religiosa. Alegra-me muito saber que o V Encontro vai tratar desta problemática.

Você mencionou que conheceu dom Oscar Romero. Que lembranças tem hoje do beato e mártir salvadorenho?

Eu estive várias vezes com ele, sempre me impressionava como era um pastor muito santo, um homem do povo, um homem eloquente. As pessoas estavam muito atentas às suas homilias dominicais.

Agora a comunidade hispânica enfrenta muitos desafios com o novo presidente e também muita preocupação com a construção do muro que divide as fronteiras mexicana e estadunidense. O que pensa sobre esta questão?

Nós precisamos urgentemente de uma nova legislação para enfrentar os desafios da imigração. Deveríamos ter cotas mais generosas e vistos de trabalho para aqueles que querem vir trabalhar no setor agrícola, para que estejam com suas famílias. Agora há muitas pessoas detidas e não podem voltar às suas famílias nem entrar para a próxima colheita. O presidente Bush tentou mudar isso com uma proposta de lei que era patrocinada pelo John McCain, republicano, mas, mesmo assim, não foi aprovada. Obama também não conseguiu. Assim se passaram tantos anos e isso é mais urgente do que nunca.

É preciso resolver os problemas das pessoas e parar essas deportações. Mais de 60% dos imigrantes que estão aqui sem documentos estão aqui há mais de 10 anos e muitos deles têm filhos cidadãos americanos. Muitos têm sua casa própria comprada aqui. O governo tem que ter uma política que favoreça as famílias e que leve em conta as situações de muitos indocumentados que foram muito trabalhadores e que contribuíram muito para o país, e falar deles como se fossem todos criminosos é muito injusto. Por isso, a Igreja, que sempre foi uma Igreja de migrantes, tem que levantar a voz em defesa dos indocumentados.

Que mensagem podemos dar àqueles que temem a deportação?

A esperança é que há muitíssimas pessoas que já se dão conta da necessidade de ter uma legislação mais justa e uma abertura e um caminho para as pessoas que têm documentos. O presidente disse que quando conseguirem fechar a fronteira e deportar os criminosos, ele iria tratar os indocumentados que estão aqui com misericórdia. Espero que isso aconteça logo.

Em sua homilia você mencionou um personagem muito importante para os mexicanos: Mario Moreno Cantinflas. Você gosta dos filmes dele?

Claro! O Padrezinho! Quando eu estava em Washington, no cinema perto do centro católico, apresentavam seus filmes todos os sábados. Um dia ele veio nos fazer uma visita. Eu creio que só o Papa reuniu mais pessoas que ele.

Você tem um blog pessoal. De onde tira tempo para alimentá-lo?

Eu mesmo o faço por telefone e dito o texto e sempre trago o meu telefone para tirar fotos. Os jornalistas sempre dão notícias ruins, mas no blog as pessoas encontram notícias boas.

Você é conhecido pela luta a favor da vida do não nascido e do doente terminal. Que desafios vê nesse sentido neste país?

A nomeação do novo juiz da Suprema Corte nos enche de esperanças. O presidente prometeu nomear alguém que fosse pró-vida e tudo indica que cumpriu essa promessa. Também o novo juiz escreveu um livro sobre o suicídio assistido. É um homem que entende a seriedade destes problemas éticos. É um desafio muito sério e muito difícil também, porque cada ano há mais Estados que fazem plebiscitos para legalizar a eutanásia. Isso é um resultado do extremo individualismo da cultura. As pessoas precisam cuidar umas das outras. Cada ser humano, no começo e no fim da sua vida, precisa de alguém que cuide dele. É a situação humana.

Quando você chegou à Arquidiocese de Boston havia apenas 15 seminaristas. Qual é agora a situação das vocações?

Fizemos do seminário uma prioridade. O seminário está cheio. Temos 130 seminaristas e temos um seminário para vocações tardias. A maioria é de fora de Boston. Este ano tivemos oito ordenações e quase todos os anos temos entre 8 e 10 ordenações sacerdotais.

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