Milhares de fiéis escrevem ao papa: "Obrigado pelo teu magistério, mas muitos são impermeáveis ao teu anúncio"

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11 Março 2017

“Caríssimo Papa Francisco, imaginamos a quantidade de cartas sobre a tua escrivaninha. E como não pensar que seria pretensão esperar que a nossa fosse lida e fosse respondida? Até porque vem de um pequeno grupo – composto por leigos, presbíteros, religiosos – que não pode se orgulhar senão da sua paixão e da sua pequenez.”

A reportagem é de Zita Dazzi e Paolo Rodari, publicada no jornal La Repubblica, 09-03-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Assim começa uma carta aberta que será enviada no dia 13 de março (quarto aniversário da sua eleição) a Francisco, assinada até agora por mais de mil pessoas, incluindo três bispos eméritos (Giuseppe Casale, arcebispo de Foggia-Bovino; Carlo Ghidelli, arcebispo de Lanciano-Ortona, Pier Giacomo Grampa, bispo de Lugano), oito párocos, cerca de 50 presbíteros, religiosos e religiosas.

A iniciativa, à qual qualquer pessoa pode aderir (é preciso indicar nome, sobrenome e cidade em e-mail para Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.), chama-se “Nella gioia dell’evangelo” [Na alegria do evangelho] e conta entre os seus signatários mais conhecidos Ermes Ronchi, Alex Zanotelli, Rosino Gibellini, Carlo Molari, Andrea Grillo, Marinella Perroni, Adriana Valerio, Valerio Onida, Dominic Pizzuti SJ (Scampia), Vito Mancuso, Angelo Casati e Giovanni Nicolini.

O objetivo da carta é agradecer a Francisco pelo seu magistério e, ao mesmo tempo, compartilhar com ele alguns pensamentos. Agradecê-lo, porque, nele, nas suas palavras e nos seus gestos “este pequeno grupo se sentiu como que interpretado”. Mas, ao mesmo tempo, comunicar-lhe um “sofrimento”. Isto é, “sensação de um descolamento entre a mensagem que as tuas palavras conservam e a consciência por parte da Igreja”.

Na carta, afirma-se: “Parecemos reconhecer tentativas de contrariar o evangelho, seja na indisponibilidade de algumas lideranças eclesiais, seja nas reações de um certo número de fiéis que parecem impermeáveis ao teu anúncio”.

Os signatários explicam que trouxeram “e, em parte, ainda trazemos nos coração” o sofrimento “risco de um evangelho reduzido a código de comportamento moral, enquanto ele é, acima de tudo, o anúncio do amor do Pai, que, na força do Espírito, manifestou-se e disponibilizou-se a todos na vida humana e profética de Jesus, o galileu de Nazaré. Estamos convencidos, de fato, que apenas permanecendo dentro de toda a amplitude e profundidade do evangelho é possível falar para nós mesmos, para os nossos irmãos e para as nossas irmãs dentro e fora da Igreja visível, para experimentar junto com todos a potência libertadora do evangelho. Na tua voz, ouvimos mais uma vez, com insistência, estas palavras: evangelho, alegria, sinodalidade. Captamos nas tuas palavras e nos teus gestos um olhar diferente sobre o magistério do bispo de Roma”.

E ainda: “Tu te colocas como aquele que se põe na companhia do seu povo, indicando de modo simples horizontes evangélicos para os quais podemos caminhar juntos. De fato, tu estás encorajando toda a Igreja, com as suas estruturas, a sair do encurvamento sobre si mesma, na convicção de que só ‘saindo e arriscando’ é que ela faz experiência do evangelho que é chamada a anunciar”.

“Desde o dia da tua eleição, na qual pediste ao povo para invocar sobre ti a bênção de Deus, tu deste valor à reciprocidade entre pastores e rebanho a eles confiado, ao olfato do povo de Deus, à sua ‘infalibilidade’ no crer, à participação e responsabilidade de todos os batizados no desafio da evangelização. Nessa perspectiva, esperamos que os muitos carismas que o Espírito dá a batizados e batizadas, e as muitas diaconias que estes exercem na Igreja e no mundo encontrem um adequado reconhecimento no ordenamento e na práxis eclesial. A instituição de uma comissão chamada a estudar a questão da conferência do diaconato às mulheres, sem dúvida, é uma grande abertura de um novo horizonte. Mas, para além dessa questão específica, esperamos um repensamento global da visão do ministério, que, na história, conheceu diversas variações. De fato, a comunidade eclesial inteira é chamada ao único ministério de anunciar o Senhor, lutando pela libertação e pela integridade da criação e de cada pessoa humana, começando pelos descartados e pelos últimos da terra. Portanto, parece-nos urgente que as várias formas de ministério, longe de se configurarem como posições de poder, sejam concebidas e vividas na Igreja e a partir da Igreja no esplendor da gratuidade evangélica, a serviço do Reino e, portanto, de uma humanidade a caminho.”

“Fortalecido por essa convicção, cada ministério que preside na comunhão sentirá como irrenunciável o chamado a estar disponível à escuta, o chamado ao discernimento como dom do Espírito e como fruto de caminhos autenticamente sinodais, que sabemos que coenvolvem os componentes laicais que hoje, a meio século do Concílio, ainda permanecem marginalizados. Vivemos com sofrimento a sensação de um descolamento entre a mensagem que as tuas palavras conservam e a consciência por parte da Igreja. Certamente, é questão de semeaduras longas, e nos é pedida a paciência do agricultor do evangelho. Mas parecemos reconhecer tentativas de contrariar o evangelho, seja na indisponibilidade de algumas lideranças eclesiais, seja nas reações de um certo número não desprezível de fiéis que parecem impermeáveis ao teu anúncio. Perguntamo-nos, às vezes, como é possível participar das assembleias litúrgicas e, depois, assumir posições, conscientemente ou não, opostas ao evangelho. Como costurar novamente a fratura? Em tempos em que nos confiamos a slogans, parece-nos oportuno apontar para um apelo ao ‘pensar’, a ‘expor-se ao contato’ com o mundo, favorecendo, em cada realidade eclesial, a partir das paróquias, experiências para ‘ver, julgar, agir, acompanhar’, como nos parece que tu sugeriste em Florença.”

“Lugares e tempos não elitistas, em estreita relação com o povo de Deus que vive fadigas e esperanças da vida cotidiana, iluminada pela alegria do evangelho. Muitas vezes, tu nos convidaste a sonhar. Contamos-te sonhos. Na confiança de compartilhar outros contigo em um futuro próximo. Em comunhão de oração,”

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