31 Agosto 2016
"Se, para Francisco, a questão decisiva hoje é a uma Igreja capaz de iniciar processos de conversão e de misericórdia no mundo, para o padre Giulio Meiattini, em um mundo dedicado a contínuos processos e a um movimento contínuo, a Igreja deveria, em vez disso, garantir pausas, espaços de decantação e de parada."
A opinião é do teólogo italiano Andrea Grillo, leigo, professor do Pontifício Ateneu S. Anselmo, em Roma, do Instituto Teológico Marchigiano, em Ancona, e do Instituto de Liturgia Pastoral da Abadia de Santa Giustina, em Pádua.
O artigo foi publicado no seu blog Come Se Non, 24-08-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Há muito tempo eu conheço o padre Giulio Meiattini, monge beneditino, professor de teologia e meu colega no [Pontifício Ateneu] S. Anselmo. Muitas vezes, já aconteceu de nos confrontarmos agradavelmente e discutirmos com gosto e com paixão sobre temáticas teológicas, sobretudo de caráter sacramental e litúrgico. Eu li a sua crítica ao "princípio" da superioridade do tempo sobre o espaço no magistério do Papa Francisco (disponível aqui, em italiano) e acho que, neste caso, ele dirigiu aos documentos do papa – especialmente à Evangelii gaudium, mas também à Laudato si’ e à Amoris laetitia – uma censura muito forte, muito acima das linhas, que corre o risco de não captar o que está em jogo naqueles quatro princípios, dos quais Meiattini crítica principalmente o primeiro.
Gostaria de tentar mostrar esse limite em três passagens: no esquema que ele aplica à questão, no verdadeiro centro da crítica e, enfim, nas consequências que ele tira acerca do último documento, ou seja, Amoris laetitia.
A conclusão que Meattini tira no seu artigo – e que soa assim: "Dos pronunciamentos magisteriais, deveria se esperar uma linguagem mais supervisionada e uma maior lucidez de pensamento" – parece-me muito grave, sobretudo porque não reconhece a originalidade do "processo" que esse tipo de magistério introduz na experiência eclesial. A sua crítica é muito semelhante à daqueles que, logo depois do Concílio Vaticano II, lamentavam que os documentos conciliares não eram rigorosos, argumentados, estruturados de acordo com o clássico estilo do magistério... Supervisionar a linguagem e definir rigorosamente os conceitos, na realidade, é aquilo que não é mais suficiente para a experiência eclesial.
Uma primeira observação, portanto, me parece necessária. Meiattini contesta o magistério de Francisco e o seu modo de falar do tempo, no plano de uma crítica científica e de uma crítica filosófica. Ele parece quase ignorar que Francisco está desenvolvendo um "ministério pastoral" e está falando com a linguagem de um magistério especificamente pastoral. Controlá-lo simplesmente no plano científico e filosófico – algo sempre possível e também necessário – corre o risco de desfigurá-lo irremediavelmente e de deslocar sensivelmente o seu centro.
Na realidade, como aparece claramente a partir do teor do texto de Meiattini, o verdadeiro cerne da questão é a "oportunidade" de "iniciar processos". Para Meiattini, o que está em jogo não é tanto a clareza da linguagem ou o rigor das categorias, mas sim o fato de que Francisco quer "iniciar processos": esse, para Meiattini, parece ser o centro do "escândalo". Ou, melhor, Meiattini propõe uma reconstrução invertida da relação entre Igreja e mundo. Se, para Francisco, a questão decisiva hoje é a uma Igreja capaz de iniciar processos de conversão e de misericórdia no mundo, para Meiattini, em um mundo dedicado a contínuos processos e a um movimento contínuo, a Igreja deveria, em vez disso, garantir pausas, espaços de decantação e de parada.
Aqui, não está mais em jogo nem a linguagem nem o conceito, mas sim uma relação específica entre Igreja e mundo, que predetermina qualquer julgamento e que corre o risco de deslizar, se não for adequadamente controlada, no preconceito. Ao ler o texto da Meiattini a partir do seu verdadeiro "foco" – isto é, a rejeição de uma "Igreja em saída" – corre-se o risco de compreender tudo o que precede como um simples pretexto; o que parece surgir de forma mais clara na última parte do artigo.
Justamente a aplicação à Amoris laetitia do critério de leitura adotado me parece particularmente esclarecedor. Eis a sequência da argumentação proposta por Meiattini:
- a aplicação do princípio da "superioridade do tempo sobre o espaço", justamente no início da Amoris laetitia, seria enigmática. Isso significaria que é preciso reduzir o poder do magistério? Para Meiattini, isso parece ser infundado;
- na sua opinião, em vez disso, o princípio teria ativado "processos" que, a seu ver, teriam determinado apenas confusão e contradições maiores;
- a única coisa que, segundo Meiattini, seria importante é garantir a formação dos sujeitos que se casam. Para que os sacramentos sejam "dados" a quem é verdadeiramente cristão.
Ora, aqui, parece-me que, de um só golpe, quer-se imunizar-se da história dos últimos 150 anos, em relação a qual, em vez disso, Francisco quer assumir a sua herança e peso. A redução do matrimônio a "poder eclesial", a exigência de processos de acompanhamento, discernimento e reintegração, e o reconhecimento de que o matrimônio é "maior" do que a própria iniciação cristã são três "processos" que Meiattini parece reduzir a uma "quantité négligeable".
Eu sei bem que não é assim. E também sei que Meattini conhece com fineza todo o percurso que reconheceu, assim como a "iniciação cristã" é um processo complexo, irredutível a uma doutrina ou a uma disciplina. Mas é francamente curioso que Meiattini queira desqualificar o conceito de processo utilizado por Francisco e, depois, se refugie, em conclusão, no elogio de um processo, como o iniciático, isolando-o da mais ampla processualidade cultural.
Eu acredito que, se ele tivesse lido os textos de Francisco sem o preconceito que enrijece os conceitos em acepções sem elasticidade, ele compreenderia que, à sua reivindicação, hoje, pode-se responder não de acordo com a lógica da alternativa Igreja/mundo, mas de acordo com uma relação de reciprocidade e de diálogo.
Quando o Papa Francisco fala de "primado do tempo sobre o espaço", ele propõe uma tradução autorizada do Concílio Vaticano II. Eu não gostaria que o verdadeiro problema, em toda essa análise crítica do "primado do tempo", fosse justamente o Vaticano II e o processo de reforma que ele introduziu irreversivelmente na experiência eclesial e na teologia. A ansiedade de "negar os processos" é verdadeiramente garantia de magistério confiável? E o ressentimento do espaço versus o tempo é realmente um princípio convincente? Ou isso também deverá ser julgado como uma "linguagem pouco supervisionada e sem rigor"?
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O risco de um ressentimento do espaço contra o tempo: sobre uma crítica ao Papa Francisco. Artigo de Andrea Grillo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU