Rutilio Grande, a outra face da profecia

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16 Março 2015

Ambos eram tímidos. Desta afinidade de caráter nasceu uma amizade profunda. A tragédia histórica de El Salvador pré-guerra civil interrompeu as suas vidas. Foi uma fé, no entanto, que os fundiu juntos, criando um desígnio imprevisível.

Aos 12 de março de 1977, 38 anos atrás, um tiroteio de mais de dez projéteis devia calar para sempre o padre Rutilio Grande, o “jesuíta subversivo”, e truncar a experiência pastoral criada por este último e por outros três sacerdotes na aldeia de Aguilares, junto aos agricultores oprimidos. Sua morte, ao invés, inaugurou um período profético da Igreja salvadorenha. Encarnada na pregação do arcebispo, Óscar Arnulfo Romero, assassinado três anos mais tarde do que o amigo Rutilio. “Este último pode ser considerado o precursor da tradição de martírios da Igreja salvadorenha. Rutilio não foi morto sozinho: com ele foram assassinados um garotinho e um ancião camponês, uma síntese do povo pobre. E, nos anos subsequentes, uma dezena de sacerdotes e muitas religiosas oferecem a vida pela justiça, impelidos pela fé”.

Rodolfo Cardenal, jesuíta, teólogo, ex-reitor da Universidade Centro-americana José Simeón Cañas, é um profundo conhecedor da figura do padre Grande, do qual oferece um envolvente retrato no livro História de uma esperança: vida de Rutilio Grande. Esta obra descreve Rutilio na sua humanidade, sem mitigá-lo e sem ocultar suas fraquezas.

A reportagem é Luca Capuzzi, publicada no jornal Avvenire, 12-03-2015. A tradução é de Benno Dischinger.

Procurei contar os momentos de crise de Rutilio com delicadeza. Não quis omiti-los, já que fazem entender como, não obstante as suas fraquezas tenha sido um grande salvadorenho, um grande sacerdote e um grande jesuíta. Foi um modo de realizar uma ‘teologia narrativa’ contando como Deus cria fortaleza da fragilidade e vida do limite, sempre que a pessoa se confia à Sua vontade e liga de modo correto os sinais dos tempos.

Rutilio o fez. No entanto, a denúncia da injustiça lhe causou acusações ferozes, até a morte. Quem quer que sustentasse a necessidade de reformas políticas e econômicas era acusado de ser guerrilheiro. Rutilio não o era. Tinha consciência muito clara de sua missão sacerdotal. Não impedia que os camponeses se organizassem porque respeitava sua decisão. E os protegia quando eram perseguidos não por comum pertencimento político, mas porque se encontrava em sua missão de pastor. A paróquia de Aguilares se encontrava numa zona ‘quente’ pela presença de grandes plantações de cana de açúcar, nas quais os agricultores eram constrangidos a trabalhar em condições desumanas. Tal realidade questionou Rutilio e os outros sacerdotes. Não podiam evangelizar sem preocupar-se com isso. Não procuraram o conflito, suportaram-no como consequência de uma pregação encarnada.

Alguns sustentaram que o homicídio do padre Grande teria produzido uma drástica mudança em monsenhor Romero, antes considerado cauto e conservador. Não creio num corte claro na vida de monsenhor Romero. Era próximo aos pobres já quando era pároco da catedral de San Miguel. E, como bispo de Santiago de Maria, havia defendido os direitos dos agricultores. O assassinato de Rutilio certamente ratificou nele a certeza de uma denúncia profética radical contra a injustiça sofrida pelo seu povo.

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