Acordo Mercosul-UE é novamente adiado, mas Comissão Europeia diz ter apoio suficiente para aprovação

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19 Dezembro 2025

Ursula von der Leyen afirma que maioria dos países do bloco respalda o tratado, apesar da resistência liderada pela França e da pressão de agricultores.

A reportagem é de Carole , publicada por Agenda do Poder, 19-12-2025.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou nesta sexta-feira (19) que existe apoio suficiente entre os Estados-membros da União Europeia para que o acordo comercial entre o bloco e o Mercosul seja aprovado. A declaração ocorre um dia após a confirmação de que a assinatura do tratado, prevista inicialmente para este sábado (20), foi adiada.

Na quinta-feira (18), von der Leyen informou às autoridades europeias que o acordo não seria mais firmado nesta semana. A informação foi divulgada pelas agências AFP e Reuters e confirmou uma mudança de rota em um processo negociado há mais de duas décadas.

Após o anúncio do adiamento, a presidente da Comissão falou com jornalistas e explicou a decisão.

“Entramos em contato com nossos parceiros do Mercosul e concordamos em adiar ligeiramente a assinatura”, afirmou von der Leyen, acrescentando que estava “confiante” de que há uma maioria suficiente para concluir o acordo, segundo a Reuters.

De acordo com fontes diplomáticas ouvidas por agências internacionais, a líder europeia confirmou em reunião que a conclusão do acordo foi empurrada para janeiro. A sinalização levou analistas e agentes políticos a recalibrar expectativas sobre o calendário e o futuro imediato do tratado.

Adiamento muda planos da Comissão Europeia

A Comissão Europeia pretendia selar o acordo ainda nesta semana, criando a maior zona de livre comércio do mundo em termos de países envolvidos. O plano, no entanto, foi revisto após a Itália se alinhar à França e defender mais tempo para negociações, especialmente para garantir salvaguardas ao setor agrícola.

De forma geral, o acordo comercial prevê a redução ou eliminação gradual de tarifas de importação e exportação, além da criação de regras comuns para o comércio de bens industriais e agrícolas, investimentos, serviços e padrões regulatórios. As discussões sobre o texto ganharam intensidade com o início da reunião do Conselho Europeu, em Bruxelas, que começou na quinta-feira (18) e segue até esta sexta-feira (19).

Oposição da França trava avanço imediato

A principal resistência ao tratado dentro da União Europeia vem da França. O presidente Emmanuel Macron afirmou que o país não apoiará o acordo sem a inclusão de novas salvaguardas para proteger os agricultores franceses.

“Quero dizer aos nossos agricultores, que expressam a posição francesa desde o início, que consideramos que as contas não fecham e que este acordo não pode ser assinado”, declarou Macron à imprensa antes de uma das reuniões de cúpula da União Europeia.

O presidente francês também antecipou que a França se oporá a qualquer “tentativa de forçar” a adoção do pacto com o Mercosul. Entre agricultores franceses, o acordo é visto como uma ameaça, diante do receio de concorrência com produtos latino-americanos mais baratos e produzidos sob padrões ambientais diferentes dos exigidos na Europa.

Alemanha e Espanha defendem avanço

Em contraposição à posição francesa, Alemanha, Espanha e países nórdicos defendem que a União Europeia avance no acordo firmado politicamente no ano passado com Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. O chanceler alemão, Friedrich Merz, e o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, reforçaram o apoio ao tratado.

Esses países avaliam que o acordo pode ajudar a compensar os efeitos das tarifas impostas pelos Estados Unidos a produtos europeus e reduzir a dependência econômica da China, ao ampliar o acesso a minerais estratégicos e a novos mercados consumidores.

“Se a União Europeia quiser manter credibilidade na política comercial global, decisões precisam ser tomadas agora”, declarou o chanceler alemão.

Itália condiciona apoio a garantias ao setor agrícola

A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, adotou uma posição intermediária. Ela afirmou que o país pode apoiar o acordo, desde que as preocupações levantadas pelos agricultores italianos sejam atendidas.

“O governo italiano está pronto para assinar o acordo assim que forem dadas as respostas necessárias aos agricultores, o que depende das decisões da Comissão Europeia e pode ser resolvido rapidamente”, declarou.

A posição italiana foi considerada decisiva para o adiamento, já que Roma se juntou à França na defesa de mais tempo para negociações adicionais.

Brasil mantém discurso otimista

Do lado sul-americano, o governo brasileiro segue demonstrando otimismo. Pouco antes da manifestação de Meloni, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) informou que conversou por telefone com a primeira-ministra italiana.

Segundo Lula, Meloni disse não ser contrária ao acordo, mas enfrenta um “constrangimento político” devido à pressão de agricultores italianos. De acordo com o presidente, a premiê afirmou estar confiante de que conseguirá convencer o setor a apoiar o tratado.

“Se a gente tiver paciência de uma semana, de dez dias, de no máximo um mês, a Itália estará junto com o acordo”, afirmou Lula.

Protestos de agricultores em Bruxelas

Enquanto líderes europeus debatiam o tema no Conselho Europeu, milhares de agricultores de diferentes países se reuniram em Bruxelas para protestar contra a política agrícola da União Europeia e, em especial, contra o acordo com o Mercosul.

A mobilização levou centenas de tratores às proximidades das instituições europeias. Durante os protestos, manifestantes queimaram pneus e lançaram batatas e outros objetos contra a polícia perto do Parlamento Europeu. Houve registro de danos ao prédio Station Europe, na Praça de Luxemburgo, onde uma janela foi quebrada. A polícia interveio para dispersar o ato, e ao menos uma pessoa ficou ferida, segundo autoridades locais.

Como funciona a aprovação e o que está em jogo

A autorização formal para a ratificação do acordo passa pelo Conselho Europeu, responsável por dar o aval político à Comissão Europeia. Diferentemente do Parlamento, onde basta maioria simples, o Conselho exige maioria qualificada: o apoio de pelo menos 15 dos 27 países do bloco, que representem 65% da população da União Europeia.

É justamente nessa etapa que se concentra o principal risco político para o avanço do acordo. Embora o debate público esteja fortemente concentrado no agronegócio, o tratado é mais amplo e inclui capítulos sobre indústria, serviços, investimentos, propriedade intelectual e insumos produtivos. Essa abrangência ajuda a explicar o apoio de diferentes setores econômicos europeus.

Caso o acordo avance no Conselho, a expectativa era de que Ursula von der Leyen viajasse ao Brasil ainda neste fim de semana para formalizar a ratificação. Com o adiamento, essa possibilidade praticamente foi descartada para 2025.

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