18 Dezembro 2025
A aprovação do acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul avançou na terça-feira (16) – com a adoção pelo Parlamento Europeu de medidas de salvaguarda – o que agravou ainda mais a revolta dos produtores rurais na França. Agricultores e pecuaristas foram às ruas nesta quarta-feira (17) em protesto contra o texto, mas também contra a crise sanitária que coloca em risco centenas de cabeças de gado no país devido a uma doença contagiosa em bovinos.
A informação é publicada por Rfi, 17-12-2025.
Cerca de uma centena de agricultores se reuniu nesta quarta-feira diante da sede do Parlamento Europeu, em Estrasburgo, atendendo ao chamado do sindicato Coordenação Rural. O grupo chegou pela manhã com cerca de 15 tratores carregando faixas com os dizeres: “Não ao abate”, “Parem com o massacre”, “Não toque na minha vaca” e “Não ao Mercosul”. Eles contestam o abate de rebanhos bovinos cujos animais foram contaminados pela DNC (dermatose nodular contagiosa), medida destinada a conter a propagação da doença, mas também denunciam a adoção prevista para sábado (20) do tratado de livre comércio entre a União Europeia e os países sul-americanos do Mercosul, ao qual a França se opõe, temendo principalmente pelo seu setor agrícola.
Macron confirma que não vai apoiar o atual texto do acordo comercial entre União Europeia e Mercosul. O presidente francês disse que se opõe a uma tentativa de empurrar o acordo da forma como está. #ConexãoGloboNews
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Vários eurodeputados franceses, majoritariamente do partido de extrema direita Reunião Nacional (RN), discursaram em apoio à mobilização, entre eles o presidente do partido, Jordan Bardella. A deputada Céline Imart, do partido de direita Os Republicanos, agricultora de profissão, também se pronunciou, assim como a parlamentar francesa Manon Meunier (da legenda de esquerda radical França Insubmissa), que foi longamente vaiada pela multidão antes de falar.
Além da manifestação diante do Parlamento em Estrasburgo, várias estradas foram bloqueadas no sudoeste da França. Um caminhão com bandeiras da Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores (FNSEA) despejou resíduos agrícolas próximo à sede da prefeitura de Carcassonne, diante da polícia. Agricultores e pecuaristas também bloquearam a rodovia que liga Toulouse ao Mediterrâneo e à Espanha. Já na cidade de Limoges, no centro-sudoeste da França, um muro de palha podre foi erguido diante da porta da prefeitura.
Acordo é visto como “traição” por parte dos líderes europeus
Segundo o jornal Le Parisien, além da vacinação de 750 mil bovinos contra a dermatose nodular contagiosa anunciada na véspera pelo primeiro-ministro Sébastien Lecornu – considerada insuficiente pelos produtores –, os agricultores veem os avanços nas negociações do acordo UE-Mercosul como uma “traição” por parte dos líderes europeus. O tabloide relata um sentimento de abandono, com produtores temendo que o acordo acelere a perda de renda e o fechamento de explorações familiares.
O jornal Libération enfatiza a dimensão social e política da crise, descrevendo os agricultores como vítimas de um “desmantelamento” estrutural. A publicação critica a falta de diálogo do governo e aponta que normas ambientais e pressões de mercado agravam a situação. A assinatura do acordo UE-Mercosul é vista como um fator que intensifica o sentimento de injustiça, pois abre espaço para importações que competem com a produção francesa, considerada mais cara e regulada.
Já Le Figaro adota um tom mais crítico, destacando a falta de antecipação do governo diante da crise sanitária e das consequências do acordo comercial. Para o jornal, a assinatura do tratado é percebida como um golpe à soberania alimentar francesa, pois coloca em risco setores já fragilizados. Le Figaro defende uma revisão profunda das políticas agrícolas e maior proteção contra a concorrência externa.
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