17 Dezembro 2025
Richard Knighton alerta: "Nós e nossos filhos devemos estar preparados para um possível conflito. Nossa segurança não pode ser garantida apenas pelo exército." E Blaise Metreweli, o novo diretor do MI6, defende a sabotagem contra Moscou, assim como Churchill fazia.
A reportagem é de Antonello Guerrera, publicada por La Repubblica, 16-12-2025.
“Filhos e filhas, colegas, veteranos… todos terão um papel a desempenhar. Na construção, no serviço e, se necessário, no combate. E cada vez mais famílias compreenderão o que o sacrifício significa para a nossa nação. É por isso que é tão importante explicar a ameaça em constante evolução e a necessidade de estarmos um passo à frente dos nossos inimigos.” Estas foram as palavras do novo chefe do Estado-Maior da Defesa britânico, Sir Richard Knighton, num discurso proferido no mais renomado think tank da área, o Royal United Services Institute (RUSI), ao qual assistimos ontem à noite.
As chances de um ataque russo
Segundo Knighton, ex-chefe da RAF, a Rússia poderia lançar um ataque direto contra o Reino Unido e, portanto, mais cidadãos britânicos precisam estar preparados para lutar. "Embora a possibilidade de tal ataque seja remota, isso não significa que a probabilidade seja zero", disse Knighton. "'Remota', neste contexto, ainda significa um risco de até 5%, e isso considerando apenas o Reino Unido. O Metaculus, o maior site colaborativo de previsões do mundo, sugere que há 16% de chance de a Rússia e um Estado-membro da OTAN entrarem em conflito direto antes de 2027. Para se ter uma ideia, as casas de apostas estimam as chances do Liverpool vencer a Premier League este ano em 4%, então mesmo dizer que a probabilidade é remota não significa que seja zero."
Não só isso. Knighton enfatizou que o arsenal de armas da Rússia é "algo a temer" e que a ameaça de Putin está "crescendo": "Não podemos ter ilusões: Moscou possui um enorme poderio militar, cada vez mais sofisticado tecnologicamente e agora altamente eficiente operacionalmente. A Rússia também está desenvolvendo novos sistemas de armas desestabilizadores, como torpedos com ogivas nucleares e mísseis de cruzeiro com propulsão nuclear, chegando até mesmo a implantar armas nucleares no espaço. Devemos nos preparar para nos proteger de uma série de ameaças reais e físicas, cada vez mais sofisticadas."
Knighton descartou planos para reintroduzir o serviço militar obrigatório, mas ao mesmo tempo acrescentou: "Nossa segurança não pode ser delegada exclusivamente às forças armadas. A dissuasão vem da força da nação como um todo. Isso exige uma resposta que envolva toda a sociedade. Todo o país deve se mobilizar." O novo chefe das forças armadas, no cargo desde setembro passado, após suceder Sir Tony Radakin, insinuou como o governo britânico, pelo menos em sua opinião, poderia começar a engajar o público distribuindo panfletos para preparar os cidadãos britânicos para a guerra, seguindo o modelo sueco com informações práticas sobre kits de emergência, abrigos e conselhos gerais em caso de conflito.
O alerta também vem do MI6
No entanto, Blaise Metreweli, o novo diretor do MI6 nomeado em outubro, também discursou ontem e declarou que a inteligência britânica deve "superar" adversários como a Rússia "em todos os domínios e em todos os aspectos: estamos agora operando em um espaço entre a paz e a guerra", relembrando os "instintos" da Executiva de Operações Especiais (SOE), a unidade de sabotagem da Segunda Guerra Mundial que operava sob as ordens de Winston Churchill para "incendiar a Europa", como lembra o Times, com agentes infiltrando-se em territórios nazistas para travar uma guerra secreta por meio de sabotagem, subversão e coleta de informações.
Metreweli, a primeira mulher a ocupar o cargo e a mais jovem, com 48 anos, esclareceu: "Jamais nos rebaixaremos às táticas de nossos adversários. Mas devemos nos esforçar para superá-los, em todos os domínios, de todas as maneiras." A diretora do serviço diplomático acusou Putin de enviar "drones a aeroportos e bases, realizar atividades agressivas no mar, incêndios criminosos patrocinados pelo Estado, sabotagem, propaganda e operações de influência com o objetivo de abrir brechas e fraturas dentro das sociedades. Nosso mundo hoje é mais perigoso e disputado do que tem sido nas últimas décadas."
Metreweli, ex-chefe de tecnologia da agência, acrescentou em seu discurso na sede do MI6 em Vauxhall, Londres, que os inimigos do Ocidente "estão explorando algoritmos de mídias sociais para semear discórdia e que o poder sobre as novas tecnologias está passando dos Estados para as corporações e, às vezes, para os indivíduos. Nosso mundo está sendo ativamente remodelado, com profundas implicações para a segurança nacional e internacional. O grande desafio do século XXI não é simplesmente quem detém as tecnologias mais poderosas, mas quem as utiliza com mais sabedoria."
Na semana passada, Al Carns, Subsecretário de Defesa responsável pelas Forças Armadas, afirmou que a Grã-Bretanha estava "desenvolvendo rapidamente" planos para preparar o país para uma possível eclosão de guerra.
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