17 Dezembro 2025
"É o drama do ecumenismo: a fé em Pedro Apóstolo une; a autoridade de quem se considera seu sucessor divide", escreve Luigi Sandri, jornalista italiano, em artigo publicado por l'Adige, 15-12-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
"Um Homem ao Vento", com o qual Roberto Benigni, na última quarta-feira, retratou de forma singular na TV a personalidade - sanguínea e profundamente humana - do apóstolo Pedro, encantou muitos dos quatro milhões de telespectadores que assistiram ao seu extraordinário monólogo na RaiUno. A imagem que o artista cria de seu Pedro aborda uma série de episódios narrados nos Evangelhos.
Episódios que, vistos em sequência, revelam um personagem vibrante, pronto para amar seu Jesus com todo o seu ser, mas também para traí-lo e, depois, chorando amargamente por sua deserção, capaz de retornar a Ele, discípulo fiel até a morte. O “católico de domingo”, que até aqui tinha uma imagem desbotada do "príncipe dos apóstolos", agora tem motivos para repensá-lo e, talvez, imitá-lo. Mas, quando do plano do espetáculo (e que espetáculo!) típico de Benigni se passa à história e à reflexão teológica, abre-se uma série de temas e problemas que, não de hoje, desafiam os estudiosos, radicalmente divididos sobre alguns pontos decisivos. A maioria acredita que a presença do apóstolo em Roma é certa, onde teria fundado a Igreja e morrido mártir durante a perseguição de Nero, entre 64 e 67 d.C.
Outros, ao contrário, acreditam que o apóstolo nunca teria estado em Roma: provavelmente, acrescentam, ele viveu em Antioquia, na atual Turquia. Mas os "Atos dos Apóstolos" (capítulo 12) afirmam que ele deixou aquela cidade e foi "para outro lugar". Para onde? Alguns dizem "para Roma", outros pensam "para Jerusalém". Evidentemente, o Novo Testamento não resolve o mistério, mas, por outro lado, oferece uma descrição precisa da chegada do apóstolo Paulo a Roma, que, em sua carta aos Romanos, jamais menciona Pedro. Isso seria uma indelicadeza intolerável se ele estivesse lá: como tal omissão teria sido possível? Simples, respondem os defensores de Pedro em Roma: ele ainda não havia chegado à cidade; teria chegado anos depois. Hipótese, esta, considerada inadmissível por outros estudiosos.
"Pedro: Um Homem ao Vento", de Roberto Benigni (Einaudi, 2025)
Mesmo a tese de Margherita Guarducci, que na década de 1940 afirmou ter encontrado o lugar do túmulo de Pedro e alguns ossos sob o piso da Basílica Vaticana, oferece uma sólida certeza para alguns historiadores, enquanto para outros (entre os quais o jesuíta Antonio Ferrua), levanta muitas dúvidas, todas a serem aprofundadas.
Em todo caso, a fé no Deus de Jesus Cristo não se baseia numa prova irrefutável da presença de Pedro em Roma; uma venerável tradição a afirma, sim, mas não é um dogma. No entanto, faz parte da fé cristã reiterar, hoje, o que o apóstolo (Mateus, capítulo XVI) proclamou a Jesus: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo".
Contudo, ortodoxos e protestantes discordam sobre uma afirmação decisiva para Roma: "O Papa é o sucessor de Pedro". Apesar de muitas tentativas ao longo do último meio século, as diversas Igrejas não conseguiram, até agora, chegar a um consenso sobre essa fórmula. É o drama do ecumenismo: a fé em Pedro Apóstolo une; a autoridade de quem se considera seu sucessor divide.
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