"Na plutocracia, quem ganha dinheiro vence. Na democracia, o mérito também é ético". Entrevista com Luciano Canfora

Foto: Paweł L. | Pexels

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30 Dezembro 2025

Protagonista absoluto do Festival de Clássicos de Turim, organizado pelo Circolo dei lettori, o historiador da Antiguidade de 83 anos, Luciano Canfora, natural de Bari, aborda o tema deste ano, Oikonomia/Plutocracia, que abrange desde as questões mais domésticas até a ascensão de uma oligarquia global.

A entrevista com Luciano Canfora, é de Francesco Rigatelli, publicada por La Stampa, 13-12-2025. A tradução é de Luisa Rabolini

Eis a entrevista.

Como nasce a oikonomia?

Desde Homero, está intimamente ligada à dimensão da casa e, posteriormente, estendeu-se à pólis. Como economia de guerra, é descrita por Tucídides nos dois discursos de Péricles, nos quais ele indica com precisão as receitas atenienses. Fontes posteriores, como a Vida de Plutarco, de Péricles, dão espaço à economia pública, aos salários de homens livres e dos servos, à construção e ao planejamento urbano. Portanto, no final do século V, delineia-se uma ideia mais precisa dela.

Existem diferenças entre gregos e romanos na forma de lidar?

Xenofonte tratou das receitas do Estado. Catão, o Velho, escreveu sobre a agricultura no mundo romano. A partir do momento em que Roma entrou em contato com o mundo helenístico, assimilou tudo, inclusive a economia como disciplina. O direito romano, em seguida, forneceu um arcabouço para tudo isso.

E quando surgiu a plutocracia?

Ela é mencionada no terceiro livro da Política de Aristóteles, em uma passagem famosa, segundo a qual o governo dos ricos seria a essência da oligarquia, enquanto o governo dos pobres, a essência da democracia. Seus tratados eram como cursos universitários. Aristóteles conhece as falhas de ambos os modelos: os oligarcas entram em conflito, a democracia é assolada pela demagogia. Ele provavelmente simpatizava com uma democracia moderada, na qual a cidadania não era concedida a todos os homens livres, mas sim limitada. Uma ideia de igualdade aritmética diferente daquela baseada na dignidade.

A plutocracia de hoje é muito diferente?

Certos procedimentos estão retornando. O século XX viu o nascimento do Estado de bem-estar social como ferramenta de distribuição da riqueza para os serviços que beneficiam os menos favorecidos. Liturgias semelhantes já existiam em Atenas, obrigando os ricos a financiar atividades sociais como teatro, festividades ou frotas.

Em suma, o imposto sobre a riqueza não é uma invenção contemporânea.

Não, uma tributação progressiva baseada na riqueza já estava presente na Constituição de Luís XVIII de 1814, no Estatuto Albertino e na Constituição italiana.

De onde vem a ideia de riqueza?

Poderia vir dos sátrapas orientais. No primeiro livro de Heródoto, Creso é rico e feliz como tal, mesmo que contestado por Sólon. Na democracia clássica, prevalece a ideia da primazia intelectual, artística e esportiva. No mundo americano, a partir do final do século XVIII, consolidou-se o valor de que aqueles que enriquecem são bons. O protestantismo, em sua versão calvinista, vinculou a bondade à capacidade de ganhar dinheiro quase como uma bênção divina. Capitalismo e Reforma, na interpretação de Max Weber, estão ligados.

Mesmo para Deng Xiaoping, enriquecer tornou-se glorioso...

As experiências se misturam. Sua virada contra os herdeiros do maoísmo deu origem à China de hoje, que assumiu alguns valores capitalistas com a ideia, talvez, de governá-los.

Podemos falar de pré-capitalismo na antiguidade?

Antes do capitalismo moderno, a riqueza era terra, dinheiro, acumulação. Se existiu um capitalismo antigo ou não é uma grande questão histórica. Mommsen discute isso na História Romana. Salvioli escreveu Capitalismo Antigo, negando que esse termo pudesse ser usado na era clássica. Na realidade, em determinados momentos excepcionais, se constatam o crédito, o trabalho assalariado livre e a produção para o mercado.

Hoje, se tende a pensar que se vale quanto se ganha. O que respondem os clássicos?

A ética ateniense que inerva a democracia era outra coisa, como dizíamos anteriormente.

Outra tendência é pensar que somos o que fazemos. O que acha?

Essa também é uma ideia antiga; por exemplo, Ápio Cláudio Cego descrevia o homo faber suae fortunae. Sem o ser, porém, não existe o fazer.

Sua palestra no Festival do Clássico foi sobre guerra, escravos, pilhagem, ou seja? Algumas visões, de Homero a Trajano, interpretam a guerra como a conquista de escravos, ouro e território por meio de um procedimento de pilhagem. O escravo não é apenas mão de obra gratuita, mas um elemento em uma dinâmica ligada à guerra.

Uma dinâmica que continua até hoje?

Não necessariamente. A revista La Civiltà Cattolica dedicou uma edição ao tema.

Hoje, os escravos mais evidentes são os migrantes que trabalham sub-remunerados aqui ou nos países do Sul global, onde produzem bens a baixo custo.

Os soldados de Putin são escravos?

Eles obedecem aos seus comandantes.

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